quinta-feira, 30 de outubro de 2008

brasília



inaugurada em 21 de abril de 1960, Brasília é o resultado do cumprimento de uma promessa eleitoral de Juscelino Kubistchek cinco anos antes.


segundo se diz, a capital foi planeada com requintes tais que se chegou à análise do seu horóscopo e a precisões de orientação simbólica.

seja como for, o mapa da cidade assemelha-se a um urubu de asas abertas, com a cabeça voltada a oriente. uma cidade pensada para tudo menos para quem lá mora e a visita. cidade mais desumana não conheço: é tudo longe de tudo. é tudo imenso e vazio. procura-se uma ágora, uma praça, onde se junte gente fazendo aquele barulho da vida das cidades. não tem. e pode ser que um dia Brasília tenha uma rede de metro, uma ciclovia, uma teia de bondes, sei lá, qualquer coisa que permita a um ser humano ir daqui para ali sem ter de comprar um carro, chamar um táxi ou alugar uma vanete.
mas talvez o segredo de tudo esteja no mausoléu de Kubistchek. afinal de contas, Brasília é uma cidade faraónica.

o nome é de extração óbvia, pensado para a capital do Brasil. e os habitantes de Brasília chamam-se brasilienses.
e é aqui que começa uma estória de pasmar. num grande congresso internacional, um importante senhor, que saberá mais do seu ramo específico de ação do que de filologia e de história, lembrou-se de exarar, com ares de quem sabe, que "Brasília" veio dar aos seus habitantes o nome gentílico ("brasilienses") que caberia a todos os brasileiros. dizia ele que "brasileiro" se inclui no grupo de nomes acabados em "-eiro", como "pedreiro", "carpinteiro", "mineiro", "padeiro", ou seja, indicaria uma profissão. e vai daí, a profissão dos "brasileiros" teria sido a de trabalhar o pau-brasil - por isso o nome que deram aos habitantes do Brasil, aos que trabalhavam no pau e aos outros.
todos, naquele congresso, de boca aberta com a ignorância que levaram e a sabedoria que traziam.
mas a realidade das cousas é bem diferente: o gentílico "brasileiro" é de origem galego-portuguesa. a terminação "-eiro" aplica-se aos habitantes de certas vilas, cidades ou regiões do litoral galego-português, como "fangueiro", "poveiro", "vareiro" e "penicheiro". tamém oiço chamar "camacheiros" aos madeirenses da Camacha.
e daí o "-eiro" dos habitantes do Brasil.

4 comentários:

Anônimo disse...

Do Brasil, um simples brasileiro agradecido com a explicação. Certa vez ouvi essa anedota entre a diferença entre brasileiros (como sendo os lusos que vinham fazer a vida no Brasil) e brasilienses (nascidos aqui) e particularmente não gostava da explicação. Tampouco me agrada o termo brasiliense para os nascidos em Brasília, o termo Candango é-me muito mais sonoro, bonito e histórico.

josé cunha-oliveira disse...

obrigado pela apreciação. sobre "candango" ver este meu pequeno contributo

Sue disse...

Eh, é um bom ponto de vista. Brasília é uma cidade artificial e talvez por isso não tenha ainda ganhado áres de lar doce lar. Os Brasilienses e também o arquiteto que a projetou preferem descreve-la como um em um formato de avião...o urubu é certamente por sua conta
Abraços
Sue

josé cunha-oliveira disse...

...é...eu prefiro o urubu. tem uma forma de avião mas é um ser vivo. por sinal um ser vivo bem ambivalente em termos afetivos...
por isso traduz melhor o que senti de Brasília...