quinta-feira, 26 de novembro de 2009

baracha

por "baracha" entende-se cada uma das covas ou caldeiras de uma marinha de sal. também designa cada um dos taludes de terra batida ou travessões de lama que separam as divisões numa marinha de sal. por isso, estes topónimos indicam a presença atual ou remota de uma atividade salineira.

em Portugal:
Herdade da Baracha

sábado, 5 de setembro de 2009

suevos

povo originário do norte da Europa, das margens do Báltico, ou Mare Suevorum, os Suevos estabeleceram-se no Noroeste Peninsular, no séc V, fundando um reino sobre o tradicional território da Galécia, ou seja, das Astúrias até (quase) ao rio Tejo. ao todo os suevos nom ultrapassavam 30 000 almas. espalharam-se pelo reino, entre senhores e labregos, deixando memória toponímica, de uns de outros. sobre os nomes de proprietários suevos que deixaram marca toponímica já deixei registo anterior.
outro legado suevo terá sido a posterior divisão da Galécia em duas partes, separadas polo baixo Minho, pois por aí se dividiram as duas tribos: os Quados e os Marcomanos.
cabe agora falar das aldeias cujo povoamento se deve a colonos suevos. há vários povoados na Galiza com esse topónimo: "Suevos". e tamém "Sueve", à letra: "do suevo", sem outra designação.

domingo, 7 de junho de 2009

arrabalde (Pt. e Gz. e Br.)

"arrabalde" era a parte da cidade árabe que ficava extra-muros, ou seja, "de fora" (como "S. Vicente de Fora, Lisboa).
tal como as "medinas" ou "almedinas", que constituíam a parte intra-muros da cidade, a sua localização está hoje meio escondida, neste caso sob o nome de uma rua, de uma fonte, de uma casa, de uma quinta ou de uma ponte. curiosamente, a sua difusão geográfica é superior à das "medinas", estendendo-se a norte até Chaves e Vinhais (em Portugal), à província de Ourense (na Galiza), e até Zamora e Oviedo. porém, nem todos os "arrabaldes" são de origem árabe. há casos em que "arrabalde" pode ser o genitivo de Ravaldu, indicando uma propriedade ou villa Ravaldi. a sua localização ajuda a diferenciá-los, bem como a ausência do artigo definido "o", dizendo-se "arrabalde" em lugar de "o arrabalde".
na toponímia brasileira, "arrabalde" ficou com a sentido moderno de "arredores", "cercanias", "redondezas".

alguns Arrabaldes:

Arrabal (Águeda) - forma apocopada de "arrabalde"
Arrabal (Leiria)
Arrabal (Porto de Mós)
Arrabal (Seia)
Arrabalde (Barcelos)
Arrabalde (Cela Nova)
Arrabalde (Marco de Canaveses)
Arrabalde da Ponte (Leiria)
Arrabalde d'Aquém (Leiria)
Arrabalde de Baixo (Vila Real)

Arrabalde de São João (Br.) - topónimo de Porto Alegre, hoje extinto, deu origem ao atual Bairro de São João

Arrabaldes (Lamego)
Arrabaldo (Ourense)

Beco do Arrabalde de S. João de Fora (Ponte de lima) – curiosa redundância

Casa de Arrabalde (Ponte de Lima)
Largo do Arrabalde (Chaves)

Novo Arrabalde (Br.) - topónimo hoje extinto, substituído por Bairro da Praia do Canto, em Vitória, ES

Quinta de Arrabalde (Marco de Canaveses)
Rua do Arrabalde (Oliveira do Hospital)
Rua do Arrabalde (Palmela)
Rua do Arrabalde (Tabuaço)
Rua da Muralha do Arrabalde (Alfaiates)


almedina (Pt.)

ainda no ciclo dos topónimos da região moçárabe, aparece "Almedina", que significa "a cidade". refere-se à cidade dentro das muralhas, sendo "arrabalde" a parte da cidade que fica de fora da cerca.


após séculos de evolução histórica, já não há muitos lugares com este nome. mas a cidadela árabe ou moçárabe está lá escondida sob o nome de uma rua, de uma fonte, de um arco, etc.

a freguesia urbana de Almedina, em Coimbra, engloba terrenos que faziam parte do arrabalde árabe.



imagem: junta de freguesia de Almedina

sábado, 6 de junho de 2009

almagreira (Pt.)

de Almagro, cidade espanhola da província de Ciudad Real, comunidade autónoma de Castilla-La Mancha. diz-se que "Almagreira", freguesia do concelho de Pombal, foi fundada por agricultores-livres "almagreiros", ou seja, colonos oriundos do termo de Almagro, que vieram sem sujeição a nenhum feudo ou senhorio.

por sua vez, "Almagro", do Árabe al-magr, significa "ocre", um tipo de argila de cor avermelhada, utilizada na indústria, em pinturas rústicas, em pinturas rupestres, nos adornos corporais rituais ditos "primitivos" e na arte sagrada em geral desde a mais remota antiguidade.
nem só do Árabe surgiram topónimos referentes à abundância desta argila. em França e na Itália há, respetivamente, Saint-Martin-sur-Ocre (na Borgonha) e San Martino d'Ocre (nos Abruzos). a ligação a S. Martinho não é casual. refere-se à presença de cultos e crenças seculares, quase sempre megalíticos, cristianizados por Martinho de Tours ou seus seguidores.
"almagreira", "almagreiro" e "almagro" tamém podem estar presentes na Toponímia não para apontar uma colonização por almagrenhos, mas para exprimir a abundância de ocre. e aí surgem sobretudo como orónimos e hidrónimos.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

bendafé (Pt.)

a mais pequena freguesia do concelho de Condeixa, está em risco de extinção.
topónimo de origem árabe, a sua pronúncia tem dado azo às grafias mais delirantes.
costuma ser escrito "Bem da Fé", sem qualquer sustento etimológico.
é, quase seguramente, um antropónimo do proprietário que lhe deu o nome, um tal Ambi ben Dafer, a crer na grafia do século XII.
bem entendido, essa grafia reproduz distorções dialetais do nome em árabe escorreito.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

tunes (Pt.)


freguesia do concelho de Silves, Algarve, o seu nome resulta da transposição do topónimo Tunis do norte de África, na atual Tunísia, de onde vieram os seus povoadores.

arzila (Pt.), arzila (Mar.)

freguesia moçárabe do concelho de Coimbra, deve o nome à cidade marroquina de Arzila ou Asilah, de cujo termo terão vindo os seus povoadores. as primeiras notícias escritas datam do séc. XII, mas isso apenas significa que não houve nenhum facto antes que justificasse a menção de Arzila em testamentos ou contratos de notário.

por não ter senhor donatário, por exemplo.

no séc. XII passou a tê-lo, nas pessoas do conde de Óbidos e seus descendentes.
a sua principal notoriedade passa pela Reserva Natural do Paul, protegida pelo dec. lei nº 219/88, de 27 de junho.

a Arzila marroquina tem tido uma História entrecruzada com a banda de cá do mar. diz-se que no tempo dos romanos a sua população original foi expulsa, tendo sido substituída por povoadores ibéricos. e posteriormente foi alvo da conquista portuguesa no tempo de D. Afonso V.

Malga (Pt., Gz. e E.)

dos microtopónimos não costuma rezar a História. porém, um topónimo não é micro ou macro em função do seu merecimento linguístico, mas por meros circunstancialismos mutáveis com o tempo e a fortuna.


encontrámos esta "malga" sob a forma de uma aldeia ou lugar da freguesia de Sernache, concelho de Coimbra. Malga essa que, tal como Almalaguês, nos testemunha a imigração de naturais do termo de Málaga para esta região moçárabe.
e temos, mais longe daqui, em Évora, o Bairro da Malagueira.
também há várias "Malga" em Espanha e, designadamente, na Galiza.

terça-feira, 2 de junho de 2009

alcarraques (Pt.)

ainda no roteiro moçárabe, aparece-nos Alcarraques, aldeia da freguesia de Trouxemil, concelho de Coimbra. o antropónimo refere-se à família dos "Alcarracs", alcunha que significa "os fabricantes de alpergatas" ou "alpergateiros". destes, conhecemos:
em 1094: João Pires, tamém conhecido por Galib Alcarrac, e seu irmão homónimo João Pires, conhecido por Soleima ou Salomão Alcarrac. em 1127: Salvador Alcarrac. em 1162: Omar Alcarrac.
é possível que a alcunha fosse herdada de um antepassado comum e já se não referisse a qualquer actividade profissional.
ao que parece, os proprietários "Alcarraques" eram de etnia mourisca, mas cristãos de confissão religiosa.

imagem: verbaudet

segunda-feira, 1 de junho de 2009

alcabideche e alcabideque (Pt.)

o contacto de duas línguas tem destas coisas. tal como no Brasil, ao contacto do Tupi-Guarani com o Português, surgiram inúmeros topónimos "híbridos", como Itabela, por exemplo, que significa "pedra bela", tamém aqui temos dois topónimos irmãos que são híbridos: "al-cabideche" e "al-cabideque".

"cabideche" e "cabideque" são apenas duas pronúncias diferentes, dialetais, da expressão latina caput acquae: "mãe d'água", "manancial", "nascente" ou, simplesmente, "fonte". assim, traduzindo completamente Alcabideche e Alcabideque, temos "A Fonte".
conheço muito melhor "Alcabideque", uma aldeia ou lugar da freguesia e concelho de Condeixa-a-Nova.
para abastecer de água a cidade conhecida por Conímbriga, os romanos serviram-se da mãe d'água de Alcabideque, construindo ali uma torre de captação e elevação, tamém chamada castellum, e um tanque coletor, de onde levavam a água, em aqueduto de três quilómetros, até à cidade imperial. e pelo caminho, através de um sistema de canais irrigação, fertilizavam os terrenos adjacentes.
caída a cidade às mãos dos suevos em 464, e dos visigodos mais tarde, "a fonte" continuou a ser a causa da fertilidade dos terrenos agrícolas. chegados os árabes, já se tinha perdido o nome da cidade ou al-medina. mas a caput acquae permanecia lá. em território moçarábico, levou um pequeno verniz de língua árabe e ficou "alcabideque" até aos nossos dias.

domingo, 31 de maio de 2009

botão (Pt.)

freguesia do concelho de Coimbra, teve estatuto de concelho, confirmado por foral de D. Manuel I, de 1514.
a villa rústica de Botão é muito antiga. o seu nome é pré-romano. provém do indo-europeu bhodh, palavra relacionada com a água, servindo para designar água corrente, caneiro.
assim, é de crer que a ribeira de Botão esteja na origem do nome do povoado e não o contrário. a aldeia de Botão aparece registada já em 934, na escritura de partilhas entre os filhos herdeiros de Guterre Mendes Árias e Ilduara Eriz, tendo cabido em sorte a Rosendo, que seria canonizado santo. em 942, S. Rosendo faz doação da villa ao mosteiro de Celanova (Gz.). a ligação de Botão a Celanova perde-se em 987, com a reconquista árabe de Coimbra.
Em 1510, D. Catarina, da linhagem de Eça (Gz.), abadessa de Lorvão, mandaria fazer à sua custa o Paço de Botão, tamém chamado "mosteiro", por se destinar a residência abacial.
hoje, a freguesia de Botão parece talhada para acolher as instalações da nova cadeia de Coimbra.

topónimos relacionados:

Marmeleira do Botão
Pampilhosa do Botão

alcalamouque (Pt.)

topónimo do filão moçárabe das proximidades de Coimbra, "alcalamouque", de al-qal'â e al-moka, significa, em árabe, "castelo ou castro [em terreno planáltico] junto a uma escarpa". é o que acontece com esta aldeia da freguesia de Alvorge, concelho de Ansião, que aparece referenciada em 1142 e 1182, a propósito de doações de propriedades feitas ao Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra.
pela sua localização, constitui um belo miradouro sobre o lugar de Pombalinho, os montes de Vez, Ateanha, Juromelo e Rabaçal. ao fundo da escarpa, nos olhos d'água, nasce a ribeira do mesmo nome.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

almalaguês (Pt.)

este é outro topónimo da região de Coimbra que se reporta ao período moçárabe.
está relacionado com a cidade andaluza de Málaga, de onde houve várias importações de povoadores ou colonos, como agora se diz.

porém, aqui não é certa a etimologia direta:
será um antropónimo, proveniente de um tal Suleiman al-Malaquí, traduzível por Salomão de Málaga, ou Salomão-o-malaguês;
ou será um topónimo de origem geográfica, referindo-se, pois, a um povo ou povoado de gente oriunda de Málaga, de que o senhor Salomão seria apenas um dos muitos "malaquís" ou "malagueses"?

e quanto a uma origem antroponímica:
-não tenho visto traduzir "malaqui" por "malaguês", mas não vejo como se possa traduzir de outro modo, se "malaqui" for palavra oxítona ("malaquí");
- é mais frequente que o topónimo registe o nome próprio, em vez do apelido. logo, de Suleiman não poderia resultar Almalaguês.

brasfemes (Pt.)


convivendo paredes-meias com topónimos nativos, celtas, latinos e germânicos, a toponímia de origem árabe é muito frequente na região de Coimbra. dos séc. IX a XII predominou aqui uma forma de integração política, linguística, cultural e religiosa a que chamamos moçarabismo.


uma das mais curiosas consequências do moçarabismo é a canonização popular do Profeta Muhammad, sob a forma de "São Mamede".
de entre os múltimos topónimos de origem árabe, ressalto hoje a villa abrahemi, ou seja, a propriedade ou quinta ou herdade de um tal "Abraão".
a evolução linguística do topónimo não é francamente regular, desde logo pela interposição do "s" e pela terminação tamém em "s". talvez tenha ocorrido uma "contaminação" por outros topónimos ou por analogias com outras palavras.

terça-feira, 26 de maio de 2009

fajoses (Pt.)

o concelho de Vila do Conde (Pt.) é típico do que poderíamos chamar um concelho litoral galaico-duriense, onde a agricultura namora com a vida do mar, mas não se ajunta co ela.
o verde dos campos vai até onde chega o borrifo das ondas. e antes da chegada dos parques industriais, da indústria de laticínios, dos centros comerciais e das fábricas têxteis e de confeções ainda era mais assim do que que ainda é hoje.
a toponímia de vila do Conde é muito maioritariamente rural e só esporadicamente marítima. para cada "caxinas" ou "árvore" há dezenas de "vilares", "vilas", "aveledas", "outeiros" e "rios maus", além dos infalíveis nomes de proprietários germânicos medievais.
e assim chegamos a "Fajoses". acredito que chegámos a "Fajoses" e não a "Fajozes". porque "Fajoses" será um plural redundante de "Fajós", que já de si é plural de "Fajó". penso que assim, redundando-se a noção de plural, se dá uma ideia de compartimentação em pequenas parcelas. não por vontade dos homens mas por caprichos da natureza local.
não creio que "fajó" tenha que ver com feijões, embora não seja proibido semear feijões numa fajó.
antes creio que "fajó" é o diminutivo de "fajã". e aqui a coisa compõe-se: porque "fajã" é uma "pequena parcela de terreno plano, propício à agricultura, habitualmente situada junto ao mar".
nos Açores, na Madeira e em Cabo Verde, para onde levamos o jeito de dizer as coisas, abundam as "fajãs" - com caraterísticas muito próprias, por via da sua natureza vulcânica.

domingo, 24 de maio de 2009

lorvão (Pt.)


"Lorvão", pequena vila do concelho de Penacova, é um dos topónimos mais antigos da região de Coimbra. a sua origem linguística e, consequentemente, o seu significado, permanecem uma arreliadora incógnita.
tem registadas as formas anteriores Lurbine e Laurbanum.
os primeiros documentos escritos que se referem a Lorvão (Lurbine) remontam aos finais do séc. VI, sendo o seu conteúdo e motivação de natureza religiosa.
de facto, é quase impossível pensar em Lorvão sem vir à mente o seu mosteiro. daí que as tentativas de interpretação do topónimo tenham sido feitas a partir de uma paróquia sueva e, depois, a partir do mosteiro. assim, em busca de um pressuposto fundador, encontrou-se em Lurbino ou Laurbanum um hipotético antropónimo de origem latina, derivado de "louro" ou "loureiro". é uma teoria muito incómoda porque tamém muito arrevesada.
comecemos pelo princípio: o que existia primeiro: o local, a paróquia ou o mosteiro? como a resposta é óbvia, vejamos o local: é um sítio fundo, tranquilo, bem servido de águas e recolhido, propício à busca de meditação e retiro.
primeiro o lugar, depois a sua função.
sendo topónimo muito antigo, é pouco provável que a sua origem seja latina ou mesmo celta.
mais para trás teremos que recorrer à língua basca. e por este caminho chegamos a "lur" (terra) e "be" (em baixo): "terra baixa", "lugar fundeiro". com paralelos em "Lorbé" (Corunha, Galiza) e Lurbe (Béarn, País Basco Francês). o que, sem dúvida, convém mais a "Lorvão" do que todas as teorias conhecidas.

topónimos relacionados:

Figueira de Lorvão
Sazes de Lorvão

em Lorvão, no lugar onde outrora foi mosteiro, houve um hospital psiquiátrico, recentemente desqualificado e transformado em asilo de mentes e dementes, que, finalmente, encerrou de vez.

lordemão (Pt.)

lugar da freguesia de São Paulo de Frades, concelho de Coimbra, o seu nome deriva de "nordman", que significa "homem ou povo do norte [da Europa]", forma latinizada para "nordemanum" ou "lordemanum". o mesmo que "normando".
aponta, pois, para um povoamento viking.

a "gente do norte" viajava por mar, nos seus famosos barcos - os "drakkar" ou "dragões".
nos séculos IX e X a navegabilidade do Baixo Mondego era muito diferente da atual, de que são testemunho os topónimos que se espalham da Figueira da Foz a Coimbra com o significado de "porto". pelo que não era difícil chegar de barco até bem perto da atual Lordemão.


sexta-feira, 22 de maio de 2009

modivas (Pt.)

aparentemente estranho, este topónimo tinha no séc. XI a forma "Mola de Olibas". sendo "mola" a forma anterior de "mó", "moinho", e supondo-se "olibas" o mesmo que "olivas" (azeitonas), o nome desta villa rústica [ou parte dela] do concelho de Vila do Conde poderá traduzir-se por "lagar de azeite".

formas intermédias: "moa d'oívas", "moodoyvas".
pronúncia: "mòdivas".

terça-feira, 21 de abril de 2009

as pedras na toponímia galego-portuguesa e brasileira

os topónimos que se referem às pedras são inúmeros e provêm de muitas linhagens linguísticas. não é raro que se multipliquem topónimos com idêntico significado na vizinhança uns dos outros, mas de origem linguística diferente. a tarefa de os reunir é imensa. ainda assim, aqui vão alguns exemplos:

A Carra (Gz.)
A Fraga da Vela (Gz.)
A Pedreira (Gz.)
A Peroxa (Gz.)
Almourol
Amarante
Amarela - orónimo
Amareleja
Amora
Arga - orónimo
Arganil
Baião
Baiona (Gz.)
Boiaca
Boial
Boialvo - ver post boi morto boi posto"
Boi de Canto (Gz.) - um curioso pleonasmo
Boimonte
Boimorto (Gz.) - outro pleonasmo
Bois de Gures (Gz.)
Cabo Carvoeiro
Cabo da Roca
Cabral - ver post cabras e cabreiras
Cabrão - hidrónimo
Cabreira (Pt. e Gz.) - orónimo
Cacabelos (Gz., Le.)
Cachopo
Caminho do Calhau
Canda (Gz.)- orónimo
Candal
Candeeiros - orónimo
Candosa
Candoso
Cantanhede
Cantareira
Cântaro
Caralho - hidrónimo
Caramos
Caramulo - orónimo
Carantonha - ?
Carapinha
Carapinheira
Carbalho (Gz.)
Carcavelos
Carenque
Carinho (Gz.) - graf altern: Cariño
Carneiro
Carnide
Carnota (Pt. e Gz.)
Cárquere
Carragal (Gz.)
Carral (Gz.)
Carrapatelo
Carrapichana
Carrapito
Carrara (It.) - famosa pela sua pedra... de mármore
Carrazeda
Carrazeda de Ansiães
Carreço
Carregal
Carragal do Sal
Carregaleira
Carregosa
Carregosela
Carriço
Carritos
Carvalheira
Carvalho
Carvalhos
Carvalhosa
Carvide
Carvoeira
Carvoeiro
Cascalhal
Cascalheira (Br.)
Cascalheiro (Br.)
Cascalho (Br.)
Cascalho Rico (Br.)
Casconha - ?
Castanheira de Pera
Castro de Boi
Corcubióm (Gz.)
Corme (Gz.)
Corrubedo (Gz.)
Cruz da Pedra
Eira Pedrinha
Encosta do Calhau
Estaca de Bares (Gz.)
Falperra
Fragosela
Fragoso
Itá... (Br.) - sobre topónimos tupi-guaranis para "pedra" ver aqui

Itabela (Br.) - topónimo híbrido tupi-português, significando "pedra bela"

Lage (Pt. e Gz.) - graf. altern: Laxe. tamém graf. Laje
Lageosa do Dão
Lageosa do Mondego
Laje
Laje da Raza (Br.)
Lajedo (Pt., Br.)
Lajedo do Tabocal (Br.)
Lajes
Lajes da Cevada
Lajes da Freiria
Lajes da Marambaia (Br.)
Lajes das Flores
Lajes do Pico
Lapa
Lapa dos Esteios - dupla referência a pedras
Lapedo
Lapela
Lapinha
Lavadores (Pt. e Gz.)
Leixões
Lena - hidrónimo
Marão - orónimo
Marco dos Pereiros
Moledo
Mora
Mora
Moroiços
Morouços
Mós
Moura
Mora da Serra
Mourais
Moura Morta - pleonasmo
Mouro
Mouronho
Mouros
Mu
O Seixal (Gz.)
Pederneira
Padrela - orónimo
Pedra Bela
Pedra do Sino
Pedra Escusa
Pedra Figueira (Gz.) - graf- altern: Pedrafigueira
Pedra Furada
Pedralva
Pedra Maria - pleonasmo
Pedra Regadas
Pedras Ásperas
Pedras Salgadas
Pedrecas
Pedregais
Pedregal
Pedreira
Pedrigueira
Pedrógão
Pedrógão Grande
Pedrógão Pequeno
Pedrosa - ver post pedra, pedrinha, pedrosa
Pedroso
Pedrouços (Pt. e Gz.) - graf. altern: Pedrouzos
Pedrulha
Peneda - orónimo
Penedo
Penedo da Meditação
Penedo da Saudade
Peniche
Pera - hidrónimo
Perafita
Pereira
Pereira do Campo
Pereiro
Pereiró - diminut. de Pereira
Perelhal
Perosinho
Ponta do Calhau
Porto do Mós
Praia da Fragosa
Praia da Rocha
Praia de Pedrógão
Quinta da Pedriga
Ribeirão Cascalheiro (Br.)
Rocha - orónimo
Rocha Nova
Rocha Velha
São Bento das Peras
São Martinho de... - associado a vestígios megalíticos
São Martinho de Candoso
São Pedro de...
São Pedro de Lourosa

São Pedro de Moel - um dos muitos pleonasmos ou redundâncias de que a toponímia é feita

Seixal
Seixas (Pt. e Gz.)
Seixo (Pt. e Gz.)
Seixo Branco (Gz.)
Seixo da Beira
Seixos Alvos
Senhor da Pedra
Vale da Pedra
Vale de Cântaro
Vale de Pedras
Vilar de Mouros

Vilar de Perdizes (aqui há a coincidência de existirem no local esculturas pré-históricas que lembram perdizes)

carnota (Pt. e Gz.)

o topónimo Carnota é aparentado a topónimos das ilhas britânicas que contenhem o tema precelta karn/kern/korn, que significa "pedra, lugar abundante em pedras, pedregal".
as pedras (1) (2) são, de longe, o motivo mais frequente dos topónimos. não é raro que a mesma paisagem dê origem a topónimos vizinhos provenientes de línguas diferentes, mas com igual significado. e com isso sabemos a antiguidade relativa de cada um deles e, até, a gente que os batizou.

Carnota (Gz.) - concelho de Carnota (Sam Mamede de Carnota)
Carnota (Pt.) - concelho de Alenquer (Sant'Ana da Carnota)
Quinta da Carnota de Baixo (Pt.) - concelho de Vila Franca de Xira

segunda-feira, 16 de março de 2009

sabugal, sabugo, sabugosa, sabugueiro

estes fitotopónimos referem-se à presença do arbusto "sabugueiro" (lat. sambucus), são comuns em Portugal, na Galiza, nas Astúrias e em León.

Sabugal (Pt.)
Sabugo (Pt., Le. e As.)
Sabugos (Gz.)
Sabugosa (Pt.)
Sabugueira (Gz.)
Sabugueiras (Gz.)
Sabugueiro (Pt. e Gz.)
Sabugueiros (Gz.)
Sabugueses (Pt.) - aldeia de gente oriunda de Sabugo (As.?)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

rossio

por "rossio" entende-se: um espaço aberto, fora da cerca urbana, onde há feiras e eventos especiais, servindo como ponto de reunião de moradores e forasteiros; um terreiro ou praça fruído em comum pelo povo (em contraste, por exemplo, com o Terreiro do Paço).

Casal do Rossio
Cerro do Rossio
O Rossio (Gz.) - graf. altern: O Rosío. ver Comentº de Anónimo
Quinta do Rossio
Rossio
Rossio ao Sul do Tejo
Rossio da Sé
Rossio da Trindade
Rossio de Santa Clara
Rossio de São Brás
Rossio do Carmo
Rossio dos Olivais
Rossio Grande (Br.) - no Rio de Janeiro. atual Praça Tiradentes
Rossio Pequeno (Br.) - no Rio de Janeiro. atual Praça Onze

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

restelo e restinga

no século XV, à falta de uma infraestrutura portuária em Lisboa, usava-se acostar no Restelo, já então "lugar de ancoragem antiga", no dizer de João de Barros. mas o que significa "restelo"?

o Boletim Municipal da Câmara Municipal da Amadora, edição especial de 15 de agosto de 2003, usa a palavra "restelo" como equivalente de "pilar".
os dicionários portugueses, brasileiros e galegos dão como significados de "restelo": subst. m.: pente de ferro que serve para restelar o linho; o mesmo que restolho; (alent.) azeitona que cai das oliveiras antes de varejadas; azeitonas espalhadas pelo chão, por descuido dos trabalhadores; (gz.) castanha que ao amadurecer cai espontaneamente do ouriço.
segundo outros, “restelo” viria de "restar", ou "ficar". a acreditar neles, os barcos, antes de chegar ao cais, abandonavam no "restelo" os doentes graves que eventualmente transportassem.
parece assim, pois, que estamos longe do significado que terá dado origem ao topónimo, já que nenhum dos conhecidos e mencionados é plausível.

porém, a semelhança de "restelo" com "restinga", que é palavra de origem castelhana, e a conformação geográfica do local, parecem conduzir-nos por um caminho mais viável. é possível que "restelo" seja uma variante ou regionalismo local bastante antigo contendo a ideia de "restinga".
e "restinga" (subst. fem.) é "um baixio de areia ou de pedra que se prolonga da costa pelo mar dentro"; "cabedelo"; "pequeno matagal à margem de um rio ou em terreno fértil". esta última acepção assenta que nem uma luva naquilo que era antigamente o "restelo" lisboeta.
assim, parece que ao topónimo "Restelo" se associa um tipo específico de terreno com determinadas caraterísticas de vegetação.
"restinga do Restelo" não é nada que não tenha já lido e ouvido.

na toponímia brasileira e africana abundam as "Restinga":

alguns exemplos:

Bairro da Restinga (Br.)
Ponta da Restinga (Ang.)
Restinga da Marambaia (Br.)
Restinga de Jurubatiba (Br.)
Restinga de Maricá (Br.)
Restinga de Massambaba (Br.)
Restinga de Ofir (Pt.)
Restinga do Lobito (Ang.)
Restinga Sêca (Br.)
Restinga Verde (Br.)
Vila Flor da Restinga (Br.)
Vila Restinga Nova (Br.)
Vila Restinga Velha (Br.)

exemplos de "Restelo":

Restelo (Pt.)
Restelo (Gz.) - em Vilabol de Lamas, Província de Lugo.