terça-feira, 31 de janeiro de 2006

Achada

quem achou estas terras e lhes botou o nome de Achada, ou afim, não estava pensando no facto de as ter achado. penso até que o nome mais certo é A Chada.
é possível que este topónimo e os seus derivados provenham do latim planata ou planeta, indicando um lugar plano, achatado, sobre um terreno habitualmente elevado e rodeado de declives abruptos. aparece em ilhas vulcânicas, como na Madeira (Md.) e em Cabo Verde (Cv.).
já agora, "planeta" é um pequeno disco "plano", uma espécie de espelho, que reflecte a luz do Astro Rei. embora seja um disparatezinho astronómico nos tempos de hoje, o nome ficou para a posteridade, reunindo os agora oito principais companheiros do Sol. mas por cá, pelo planeta terra, a palavra latina designa lugares planos, em geral de pequena superfície, como aqueles que se seguem

alguns exemplos:

Achada (Pt. - Ct. e Md.)
Achada da Arruda (Md.)
Achada da Madeira (Md.)
Achada da Morena (Md.)
Achada de Santo Antão (Md.)
Achada de Santo António (Cv.)
Achada de Simão Alves (Md.)
Achada do Barro (Md.)
Achada do Castanheiro (Md.)
Achada do Castro (Md.)
Achada do Cedro Gordo (Md.)
Achada do Folhadal (Md.)
Achada do Gramacho (Md.)
Achada do Loural (Md.)
Achada do Marques (Md.)
Achada do Pau Bastião (Md.)
Achada do Pereira (Md.)
Achada do Pico (Md.)
Achada do Pinheiro (Md.)
Achada do Til (Md.)
Achada Furna (Cv.)
Achada Grande (Md.)
Achadas da Cruz (Md.)
Achadinha
Cheda (Pt., Gz. e Br.)
Chedas (Pt. e Gz.)
Chedeiros
Corte da Cheda
Eira da Achada (Md.)
Lama de Cheda
Monte da Chada
Quinta das Chedas


segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

Baleias

É claro que não vou falar de certas senhoras nem das amigas delas. seria uma rudeza e uma falta de urbanidade tremenda. era do jeito que se tornavam anoréticas. vou mesmo falar desse cetáceo grande, grande, que tem saudade da terra. tanta, que gosta de vir à praia ou entrar rio Tamisa dentro, ou outro rio qualquer, pra morrer na frente dos cameramen ou de quem lá estiver. é um mamífero com muito mais mistério do que fazer dele o que fazem. banha de baleia e creme de cosmético é destino que nenhum desses animais merecia mesmo. o seu fascínio pessoal e de raça fez com que a gente do litoral lhe roubasse o nome para o botar em muitas terras junto do mar.
desta vez bicho é mesmo bicho, e essas terras ou tomam dele o nome ou de qualquer atividade com ele relacionada. há quem defenda que a baleia é parente próxima do hipopótamo. bom, pode ser. é. mas não existe nenhuma terra com nome de Hipopótamo.

aqui vão alguns desses topónimos:



Atouguia da Baleia
Balaia
Balea (Gz.)
Baleal
Baleo (Gz.)
Baleeiro
Casais do Baleal
Cova da Balea (Gz.) (ver Comentº)
Ilha da Baleia (Br.)
Ponta Baleia (STP)
Ponta da Baleia (Aç.)
Praia da Baleia (Br. e Pt.)
Praia da Balela
Praia do Baleal
Praia do Osso da Baleia (ainda assim, este topónimo não será tão claro quanto parece. ver Comentº)
Vale da Baleia



por estranho que seja, as Ilhas Baleares não devem pertencer a esta colecção, muito embora o frequente convívio com as baleias tenha contribuido para modelar-lhes o nome e o sentido. certos topónimos foneticamente muito próximos, como Baleira, derivam de Vale, com aquela pronúncia inconfundível da minha terra e de todo o norte da Península

sábado, 21 de janeiro de 2006

Os Ninhos do Açor

O topónimo Açor ocorre em lugares elevados e ponteagudos, com vales profundos, como é o caso da Serra do Açor, entre a Estrela e a Lousã. muita gente relaciona este topónimo com a existência de belos exemplares desta ave de rapina apreciadora de lebres, pombos e perdizes. em alguns casos pode suceder que os açores procurem estas paragens, dada a morfologia e a orografia destes locais. mas não é certo que seja sempre assim, pois há-de haver Açores onde esta ave não existe e há-de haver açores em lugares que não levam esse nome. já foi notado o parentesco linguístico entre "Açores" e "Astúrias". quanto ao Arquipélago dos Açores, parece que a ave em causa, afinal de contas, é o milhafre. mas merece ser dito que outra certeza não há, e que os Açores são ilhas vulcânicas com picos abruptos.
nisto da toponímia as possibilidades de cultivar a imaginação, mesmo a delirante, são tantas que até há quem veja "zorras" (zor-) ou raposas onde, coitadas, não teriam como tomar o seu cafezinho da manhã nem como apreciar uma coxa de galinha.
convirá acrescentar que os orónimos e os hidrónimos são os topónimos mais primordiais. são aqueles lugares a quem foi dado nome antes de todas as outras coisas. casas, caminhos, povoados, pontes, quintas e quitandas, tudo isso tem nome depois, à medida que o homem se organiza e se distribui pela terra. por isso, pouco admira que a maioria dos hidrónimos e dos orónimos tenha nome pré-indoeuropeu. é assim que esses lugares no Brasil são na sua larga maioria tupi-guarani, pois quem chega primeiro é que bota o nome


alguns topónimos em "Açor":

Açor
Açôr
Açoreira
Açoreiro
Açores
Açorinho
Açureira
Assoreira (graf. alternat. - errada? - de Açoreira * )
Azor ou Açor (Gz.)
Azoreira ou Açoreira (Gz.)
Azoreiros ou Açoreiros (Gz.)
Foz do Açor (aqui "Açor" é hidrónimo. cf. "Sor" e "Soure". ver post "Hidrónimos ou Nomes de Rios")
Moita do Açor
Ninho do Açor
Poio do Açor (ver Comentº)
Região Autónoma dos Açores
Riazor ou Riaçor Gz.) (?) (ver Comentºs)
Ribeira do Açor
Serra do Açor (um pleonasmo, como Poio do Açor)
Vale de Açor
Vale de Açores



* "assorear" e "assoreamento" referem-se a um processo geológico ou de engenharia pelo qual se forma um depósito ou amontoado de terras, pedras ou areias, no fundo das barragens ou na foz dos rios (neste caso, dão origem aos "Cabedêlos" e às "Barras"). há homofonias muito curiosas que, ainda por cima se achegam no significado





quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Rans e Rãs Sim, Mas Sapos Não

desta vez são estes simpáticos bichos verdes que vêm frequentar este blogue. mas já me avisaram que não são padrinhos destas terras. estes topónimos parecem estar associados a pequenas elevações do terreno, ou pequenas mesetas. são frequentes em Portugal e na Galiza, onde têm a mesma pronúncia mas com grafias diferentes - mesmo lá... o mais certo será estes topónimos terem uma origem pré-indoeuropeia, pré-celta. o mesmo é dizer, afim do euskera. porém, neste como em muitos outros casos, são mais as teorias explicativas do que as rãs propriamente ditas.

aqui vão (alguns d') eles:

Arranhó ("A Ranhó". ver Ranhó)
Outeiro da Ranha
Rana
Raña ou Ranha (Gz.)
Ranado
Ranadoiro
Ranas
Ranha
Rañada ou Ranhada (Gz. e Pt.)
Ranhadinhos
Ranhado
Rañadoiro ou Ranhadoiro (Gz. e Pt.)
Ranhados
Ranhadouro
Ranhão
Rañas ou Ranhas (Gz. e Pt.)
Ranhó (ver post "Topónimos Terminados em 'Ó': Menino ou Menina ?")
Ranholas (diminut. plural de Ranha)
Rania
Raniados
Rao (Gz.) (?)
Rans (Gz. e Pt.)
Rãs (por Rans)
S. Domingos de Rana



terça-feira, 17 de janeiro de 2006

Frase do Ano 2005

"Isto da toponimia ten a ver co sentido común, co instinto, coa arte, coa mística, coa lóxica e coa imaxinación. É un divertimento para mentes inquietas. Pero seguro que encontraredes quen lle dea moito, moito valor".
Calidonia.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

Lobos, Lobinhos e Lobões

a toponímia galego-portuguesa é rica em "Lobos" e nomes afins ou aparentados. o simpático animal abundou outrora noutros locais também, onde, no entanto, não foi escolhido para padrinho. por outro lado, alguns topónimos dificilmente se referirão ao bicho, dado estarem em campo aberto. hoje em dia, ameaçado de extinção, o canis lupus não se vê muito por aí, nem nuns lugares nem noutros. é preciso ir procurá-lo nas reservas naturais - e já me aconteceu nem aí o topar.
não é fácil descobrir a origem destes topónimos, mas não há-de ser latina nem referir-se ao bicho dos contos de fadas. há uma Leuven (Fl.) ou Louvain (Fr.) ou Lovaina (Pt.), na Bélgica, que talvez aponte para uma origem pré-celta. é preciso notar que as lendas em volta do nome de Lobeira (Gz.) se referem à mítica Rainha Loba, e não ao lobo.



La Louvière (Wl), na Bélgica francófona, está associada à lenda de uma loba, idêntica à da fundação da Cidade de Roma. esta loba terá sido um símbolo ou totem étnico pré-ariano.






além disso, aponta-se para a maioria destes topónimos a raiz pré-indoeuropeia Lap-/Lep-/Lip-/(Lop-)/Lup-, que é responsável pela formação de palavras como "lapa", "lápis", "lava", "lupa", e significa "pedra".


aqui vão alguns desses topónimos:


Câmara de Lobos (na Madeira não haveria lobos, quando foi descoberta e povoada. ver Coment.)
Casal do Lobo
Fôjo Lobal
Labagueira
Labruge (é hidrónimo. ver post "Hidrónimos ou Nomes de Rios")
Labruja (é hidrónimo. o mesmo que Labruge)
Lapa do Lobo (é um pleonasmo dentro da mesma língua?)
Laboreiro
Laborim
Laborins
Lavadores (Gz. e Pt.) (pronunc. Lavadòres)
Leboreira (Gz.)
Leboreiro (Gz. e Pt.)
Loba
Lobal
Lobão (é hidrónimo. ver post "Hidrónimos ou Nomes de Rios")
Lobazim (?)
Lobeira (Gz.)
Lobeiro
Lobeiros
Lobel
Lobela
Lobelha
Lobelhe
Lobite
Lobios (Gz.)
Lobisomem (será "rio das pedras"?)
Lobito (Pt. e Ang.)
Lobízios
Lobo
Lobão
Lobo Joanes
Lobo Morto (será pleonasmo?)
Lobos
Lobosinho
Loivos
Lousa
Lousã (Cf. Lausanne - CH)
Lovaínho
Lovazim (o mesmo que Lobazim)
Lubazim (o mesmo que Lobazim)
Lubeira
Lubeiro (Gz.)
Lubreu
Monte de Lobos
Pedra Lobeira
Pena Lobo (será pleonasmo?)
Rio de Lobos
Rio do Lobo
Vale de Lobos


nota-1: hoje não sabemos se quando um topónimo significava "pedra" significava qualquer pedra, de qualquer tipo, ou se para cada tipo ou particularidade das pedras havia uma palavra específica. as línguas dos povos mais enraizados na Natureza eram e são muito ricas em definir esse mundo natural em pormenor. e quem diz "pedra" diz outra particularidade qualquer do meio ambiente: "monte", "rio", "plano", etc., etc. uma aparente repetição dos mesmos temas em Toponímia poderá esconder uma enorme riqueza de ínfimos detalhes.

nota-2: o grego "lobo" aplica-se a qualquer parte arredondada e saliente, sendo usado na anatomia para parte de órgãos (cérebro, rim, fígado) com essas características.



domingo, 15 de janeiro de 2006

Um Pequeno Incidente Informático



Depois de um apagão, estou recuperando o blogue devagarinho e com novo formato.
espero que seja do vosso agrado.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Cabras e Cabreiras



o topónimo "Cabra" e os seus derivados são muito abundantes em Portugal, na Galiza, no resto da Península e na Europa, sobretudo a do sul mediterrânico. dão o nome a montanhas pedregosas e inóspitas e têm uma preferência especial por pequenas ilhas e ilhéus rochosos. apreciam dar o nome a ribeiros e riachos onde mais abundem as pedras do que a água.
é um conjunto de topónimos muito antigo, de origem difícil de determinar. é muito frequente em Navarra, região onde a romanização linguística foi parcial. uma origem latina em "capra" não explica que seja um hidrónimo nem a sua frequência em ilhéus inóspitos, mesmo para cabras. não se pode excluir, por uma convergência linguística determinada pela parceria cabras-pedras, que alguns destes topónimos derivem do lat. "capra" e que outros tenham uma origem pré-indoeuropeia, em karr-, kar-, "pedra". neste último caso, surgem, para além das "Cabras" e "Cabreiras", topónimos como "Cabo Carvoeiro", "Carreço" (pronunc. Carrêço), "Carregal", "Carvoeira", "Carvoeiro", "Carvalho", e hidrónimos em "Cara...", "Care...", como "Ribeira de Carenque" (ver post "Hidrónimos ou Nomes de Rios")

alguns topónimos deste grupo:

Cabra -
Cabração -
Cabra Figa -
Cabrainha -
Cabral -
Cabrália (Br.) - deriva de Pedro Álvares Cabral
Cabranca -
Cabrancã -
Cabrão - é hidrónimo. ver post "Hidrónimos ou Nomes de Rios"
Cabras - é hidrónimo: "ribeira das Cabras"
Cabreira (Gz. e Pt.) - tamém aparece como hidrónimo - Gz.
Cabreiras -
Cabreiro (Gz. e Pt.) -
Cabreiroá (Gz.) - "Águas de Cabreiroá", Verín ou Verim, Gz.
Cabrela - diminut. de Cabra
Cabrelões - topónimo que se refere a gente originária de Cabrela
Cabria (Gz. e Pt.) -
Cabrial -
Cabrida -
Cabrieira -
Cabrienca -
Cabril -
Cabris - penso que seja grafia preferível a "Cabriz"
Cabrita - diminut. de Cabra
Cabriúva -
Cabriz - ver "Cabris"
Cabroeiro -
Cabrões -
Cabrum -
Cobrão -
Costa de Cabra -
Foz do Cabrão -
Ilhéu das Cabras -
Pé de Cabrão -

topónimos deste grupo, fora do espaço galego-português e brasileiro:

Cabrera (Es.)
Capraria (It.)
Caprasia (Fr. e It.)
Caprera (It.)
Capri (It.)




sábado, 7 de janeiro de 2006

Boi Morto, Boi Posto

o topónimo "Boi" ocorre com muita frequência na Catalunha, Astúrias, Galiza e Portugal, sob diferentes formas e combinações, com sobreposição de estratos linguísticos, que por vezes originam os habituais pleonasmos da Toponímia e alguns resultados extravagantes, como Sant Boi. a sua origem é pré-indoeuropeia e significa "rochedo", terreste, costeiro ou marítimo. as inevitáveis homofonias lembram-nos o princípio de que nem tudo o que reluz é oiro e nem tudo o que é boi tem chifres.
salvo transposição de topónimos portugueses, os "Bois" do Brasil não são deste filão genético

aqui vão alguns "Bois":

Baião
Baiona (Gz.)
Boiaca
Boial
Boialvo
Boi-a-Monte - grafia correcta "Boiamonte". ver "Boimonte"
Boião
Boicornello ou Boicornelho (Gz.)

Boiçucanga (Br.) (nome de ilha. do tupi-guarani: "cabeça de cobra grande". "M'boi"+"Guassu"+"Canga")

Boidecanto (Gz.)
Boi de Gures (Gz.)

Boidobra (?) - a terminação -bra aponta para uma -briga celta, como Coimbra, Oimbra -Gz., Sesimbra)

Boieira
Boi Formoso
Boi Grande (Gz.)
Boimonte (Gz.) (uma espécie de pleonasmo)

Boimorto (Gz.) (Cf. topónimos, também pleonasmos, "Mouromorto" - Gz. e "Moura Morta" - Pt.: "Mor": penedo, penedia)

Boi Morto
Boi Pequeno (Gz.)
Boiro (Gz. e Pt.) (?)

Boituva (Br.) (topónimo recebido de Jolorib - ver comentº. tupi-guarani: "sítio onde há muitas cobras")

Boivão (??)
Boi Vivo
Boizão
Bouro (?)
Castro de Bois
Chã do Boi (ver post "Mais Terras Planas")

M'Boi Mirim (Br.) (topónimo recebido de Jolorib - ver comentº. tupi-guarani: "cobra pequena". o contrário de M'Boi Guassu: "cobra grande". ver "Boiçucanga")

Monte de Boi
Monte de Bois
Monte do Boi
O Corno do Boi (Gz.) (um pleonasmo)
Olho do Boi
Pé de Boi
Pedra de Boi
Pena do Boi (Gz.) (outro pleonasmo)
Perboi Baixo (atenção a este topónimo!)
Rego do Boi
Serra do Boi
Vilar de Boi

sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

(Intervalo)

certa vez passava eu numa das minhas andanças pela terra galega quando resolvi parar em Fonteminha, para ver nascer o Rio Minho. um cartaz, um pouco desbotado já, dizia assim: Festa do Nacemento do Rio. Aproximei-me de um café, pedi já não sei o quê para justificar a minha entrada ali, e perguntei ao home que me atendeu: "vi ali um cartaz da festa do nascimento do rio. que santo é que festejam aqui?" o home olhou para mim com um ar condescendente, e explicou: "nom tem santo nenhum. a gente aqui festeja o rio!"(*)

o quê? - pensei - fazem a festança e nem padre nem santa? senti-me recuar uns dois mil anos, sem novas nem mandados do reino de Cristo.

depois, em Lugo entrei na Sé. difícil não topar de imediato a imagem grande da padroeira da cidade - a cidade do deus Lug, o divino Sol. e quem é essa padroeira, ou patrona ou "patroa"? a Virxe dos Ollos Grandes. a Virgem dos Olhos Grandes, ídolo vivo, deusa-coruja, nem "Santa" nem "Nossa Senhora de..." é um avatar, como Atena e Proserpina, de uma qualidade divinizada no feminino, a qualidade de ver de noite, no escuro, para lá do que se vê à luz o dia. a qualidade de dominar as profundezas da intuição e dos destinos. uma sabedoria maior que o saber das bibliotecas todas. qualidade compartilhada a seu modo, no masculino, por mochos, gatos e cães, que, por via disso mesmo, são animais sagrados noutras regiões do planeta
santa cidade esta, que se entrega com a mesma devoção à luz do Dia e aos mistérios da Noite...



(*) mais tarde, viria a encontrar, já mais cristianizada pela tona, "A Festa da Fonte de Ançã", na nascente da Ribeira de Ançã (um pleonasmo toponímico - ver post "Hidrónimos, ou Nomes de Rios") na freguesia de Ançã, aqui bem perto de Coimbra

terça-feira, 3 de janeiro de 2006

Janeiro de Cima e Janeiro de Baixo

a conversa é como as cerejas, mas é desta vez que me vão zurzir forte e feio. oiço falar há muitos anos destas duas aldeias milenares do vale do rio Zêzere, conheço muito boa gente de lá. sempre perguntei a mim mesmo o que está ali a fazer o "janeiro", mas a resposta à pergunta é que não havia jeito de aparecer. então, perguntei-me: - e se "janeiro" fosse...?

antes disso, vejam esse sítio. ...não é uma gracinha?
e esse aqui? ...lindo!

agora, pensem comigo: - e se "janeiro" fosse...?

...se fosse chaneiro não me admiraria nada. seria um masculino de "Chaneira" (ver post "Mais Terras Planas"). porém, se assim for, o nome atual será muito posterior ao povoamento dos lugares, o que significará que tiveram outro nome antes dos romanos - quem sabe se com o mesmo significado. mas o nome que têm, se significar o que eu julgo que significa, condiz com a orografia do lugar em ambos os casos. a confusão de chaneiro com janeiro não será fácil no português da Galiza, que distingue bem o "ch" do "x"/"j", mas é possível no português daqui. além do mais, se "chaneiro" evoluisse normalmente, poderia desembocar em "Cheiro", masculino de "Cheira", o que, como é bom de ver, ficando "Cheiro de Cima" e "Cheiro de Baixo", não é nome que se ponha à nossa terra.
..."Janeiro" é muito mais bonito...

agora, aí vão alguns topónimos relacionados com "Janeiro":

Janeirinha (Chaneirinha, diminut. de Chaneira? ver post "Mais Terras Planas")
Janeirinho (Chaneirinho?)
Janeiro (sem o determinativo "de cima" ou "de baixo")
Janela (Chanela, diminut. de Chana? ver post "Mais Terras Planas")
Janelas Verdes
Janelo (Gz.) (?)
Janes (?)

pois, e agora vão dizer: toponímia é só terras planas? não será "terra plana" a mais?
pois é assim: a conversa é como as cerejas, palavra puxa palavra, associação puxa associação e, além disso, em terreno montanhoso o que se distingue de tudo o mais é a "terra plana".


segunda-feira, 2 de janeiro de 2006

Feliz Ano Novo!

vou começar o novo ano com a Ilha de Ano Bom (Annobón). O nome é português e por isso cabe aqui muito bem. ao grafar "Annobón" os espanhóis não fizeram mais ao português de Portugal do que aquilo que fazem ao da Galiza...:-)
a Ilha de Annobón faz parte da Guiné Equatorial, antiga colónia espanhola. essa ilha descobriram-na João de Santarém e Pedro Escobar no dia 1 de Janeiro de 1471, quer dizer, no "ano bom" ou "ano novo". em português, no séc. xix era grafada "Anno Bom". pertence a um grupo de topónimos de que faz parte o "Natal", o "Rio de Janeiro" (Br.), a "Baía de Todos os Santos" (Br.) e a "Ilha da Páscoa" (embora este não seja um topónimo português).
mas...nem tudo o que é Janeiro vem à frente de Fevereiro. há duas aldeias da Beira Baixa, ribeirinhas do rio Zêzere, que têm por nome Janeiro: "Janeiro de Cima" e "Janeiro de Baixo". voltarei a este assunto