quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

leiras e leirados

"leira", do lat. glarea, é uma jeira ou courela em tabuleiro ou plataforma, podendo formar socalcos quando se sucedem umas às outras no declive de um monte; porção de terra cultivada, herdade, lavradio. é a terra que nos pertence e que lavramos.
a tradição galego-portuguesa de uma ancestral ruralidade espelha-se na abundância de topónimos em "leira" e derivados:

As Leirinhas (Gz.) - graf. altern: As Leiriñas
Leira (Pt. e Gz.)
Leirada
Leiradas
Leira de Arriba da Balsa (Gz.)
Leiradela
Leiradelo
Leirado (Gz.)
Leirados
Leira Longa (Pt. e Gz.)
Leirão
Leira Pequena
Leiras (Pt. e Gz.)
Leiras de Abaixo (Gz.)
Leiras de Arriba (Gz.)
Leiras de Costeira
Leiras de Trás
Leiras Novas
Leirinha (Pt. e Gz.) - graf. altern: Leiriña
Leirinhas (Pt. e Gz.) - graf. altern: Leiriñas
Leiró - diminut. de Leira
Leiroinha - duplo dimint. de Leira: Leira-Leiró-Leiroinha
Leirós - diminut. de Leiras
Leirosa
Póvoa das Leiras
Praia da Leirosa
Rego da Leirosa

6 comentários:

cneirac disse...

Daquela Leiria é outra cousa? (Feliz ano novo)

josé cunha-oliveira disse...

Leiria é claramente outra cousa. a sua origem é pré-romana. tenho indicado noutro local que lhe noto semelhanças com o euskera nos topónimos Irun e Iruña, em que o significado de "cidade", "vila", está incluso (no euskera atual, cidade, vila= hiri).
não será nada de extravagante, tendo em conta a ocorrência de topónimos que significam "cidade" ou "vila" ou incluem "cidade" no seu significado. também já disse noutro local que estranho a frequência com que aparecem em zonas históricas de certas cidades portuguesas freguesias cujo orago é Santa Iria.
a partilha da lenda de Santa Iria como mito fundacional sucede em Santarém, em Tomar e noutros pontos desta região sudeste da Estremadura e noroeste do Ribatejo.
sempre refiro tamém que os nomes antigos de Leiria foram Leirena e Leyrena (séc. xii), Leirea, Leyreea e Leyrea (séc. xiii).
a complicação começa quando o Foral de Leiria, do séc. xii a situa "entre os rios Leirenam e Heirenam", rios que hoje, se são os mesmos, se chamam Lis e Lena, mas que, com nomes destes assim, são palavras pré-romanas tamém.
apesar de todo este labirinto, continuo a pensar que corónimos como Tomar, Santarém, Leiria, Santa Iria da Azóia, Póvoa de Santa Iria, e outros, tenhem em comum a tal "iria" - ou "hiri", como dirão os bascos.
voltarei ao tópico.
Feliz Ano Novo!

josé cunha-oliveira disse...

ao caríssimo Armando Pinto:
com grande pena minha, satisfaço o seu pedido, retirando o seu comentário.
terei todo o gosto em receber a sua monografia.
um abraço e um Feliz 2009.

Anônimo disse...

(O Comentário, se quizer, pode ficar, apenas sem o número de telefone)
Entretanto, não me chegou a telefonar...
Fico à espera, amanhã...

josé cunha-oliveira disse...

carissimo Armando Pinto,
recebi com muita satisfação os seus dois trabalhos, que irei apreciar atentamente.
muito obrigado.
quanto ao seu primeiro comentário, nada a fazer: ou ficava todo ou saía todo, não sei fazer melhor.
um grande abraço.

vou fazer uns dias de pausa forçada nos meus blogues porque o meu computador pessoal resolveu ir dar um passeio até à marca...

Blog do Jorge Hipólito disse...

Pois é, hoje, a minha memória viajou no tempo e foi estacionar lá na década de cinqüenta - século XX. Nessa época, eu ainda menino acompanhava meu pai na lida do campo - diga-se de passagem, a verdadeira agricultura familiar. Às vezes, quando no preparo da terra; antes, se fazia necessário eliminar os arbustos: esses cresciam no período em que a terra descansava, ou seja, na entre safra. Não sabíamos nada sobre meio ambiente, aliás, nem se falava sobre. Bem, hoje, eu sei que aqueles arbustos formavam o campo sujo, isto é, estágio que antecede a capoeira. O meu pai leirava os arbustos; eles, depois de leirados formavam as coivaras. O passo seguinte consistia em atear fogo nas leiras – elas queimavam e produziam muita fumaça; automaticamente, apareciam os anús - esses vinham nem sei de onde e formavam cantoria enquanto se banqueteavam com os insetos que fugiam das leiras. Curiosidade: o meu pai lançava as sementes de milho nas linhas paralelas – vinha à chuva que molhava a terra e os brotinhos apareciam; depois de um mês percebíamos que o milho plantado onde antes havia leiras ficava mais viçoso. O meu pai afirmava que era por causa das cinzas. Ah quanta saudades dos anús e dos seus cantos, bem como daquela vida simples e feliz. Hoje, as famílias mais humildes que antes interagiam com os anús na lida do campo vagueiam na periferia das cidades; lá no campo não mais existem anús, campo sujo e nem meninos acompanhando os pais no roçado.