terça-feira, 8 de agosto de 2006

Águas, Banhos, Caldas e Termas


desde a mais remota antiguidade que os seres humanos estabelecem uma relação particular com estas emanações da terra. a estas águas, com caraterísticas físicas e químicas fora do padrão comum, foi atribuída uma proveniência divina, com propriedades terapêuticas que reportam ao reino do sagrado. o qualificativo de "santa" ou o padroado de uma divindade pagã, de um anjo, de um santo ou de uma santa são muito frequentes no mundo termal. um reino ambíguo e ambivalente, em que o que hoje cura pode matar amanhã. neste processo tem a palavra o psiquismo mais profundo, que pode determinar o apogeu e a queda de uma estância termal. as mesmas termas podem hoje curar doenças difíceis de tratar, como podem amanhã constituir um perigo para a saúde. o exemplo de Águas Radium, em Caria, é apenas um entre muitos. ali, a descoberta dos malefícios da radioatividade instilou o medo que fez passar para plano inferior os benefícios terapêuticos da mesma radioatividade. noutros casos, a perda da crença, ou o desaparecimento dos crentes, fez perder a virtude curativa. noutros casos ainda, dá-se um súbito renascer do potencial de cura de uma certa fonte.
de início, todas as caldas, termas e fontes eram gratuitas e ao ar livre. mas os Impérios e os Estados sempre procuraram controlar esses lugares de culto e de cura, acrescentando-lhes uma envolvência de lazer e de prazer do espírito e do corpo (*). os Gregos, os Romanos, os Árabes, os Reis e as Repúblicas construiram edifícios e parques em redor dos quais nasceram cidades importantes ou se arrumaram povoações que, de outro modo , não teriam surgido. a toponímia ainda nos revela, aqui e além, a intervenção dos poderosos no reino das águas: Caldas da Rainha, Caldas de Reis, Caldas do Bispo, Chaves, Termas da Imperatriz...

"Termas" (do grego) e "Caldas" (do latim) são sinónimos. significam "(águas) quentes".
hoje em dia as termas tornaram-se um destino interessante para gente urbana a contas com o stress e maleitas associadas.


uma tentativa de listagem das termas galegas, portuguesas e brasileiras deverá incluir:

Águas de Chapecó (Br.) - Chapecó pronuncia-se à maneira galego-minhota: "tchapecó". parece significar "carreiro", "trilha", "sendeiro", caminho no mato

Águas de Lindóia (Br.)
Águas do Alardo
Águas Mornas (Br.)

Águas Radium (Pt.)- abandonadas pela sua excessiva radioatividade. nota: onde no link se diz "Curia", deve querer dizer-se "Caria" - freguesia a que pertence a aldeia de "Quarta-Feira" em que se situam as termas

Alcafache (Pt.)
Arnoia (Gz.)
Arteixo (Gz.)
A Sulfúrea (Pt.)
A Toxa (Gz.)
Banho (Pt.)

Baños (ou Banhos - g.i.) de Bande (Gz.) - estão desativadas estas termas, que foram importantes na época romana sob o nome de "Aquis Querquennis", isto é, "as termas dos Kwerkenoi", nome de uma tribo galaica. estavam no trajeto da estrada romana de Braga a Astorga. a divindade tutelar local, Bandua, perpetua-se no topónimo atual.

Baños (ou Banhos - g.i.) de Molgas (Gz.)
Brión (Gz.)
Burga do Muiño (Gz.) - grátis, ao ar livre
Burgas (Gz.)
Caldas da Cavaca
Caldas da Rainha (Pt.)
Caldas da Saúde (Pt.)
Caldas das Taipas

Caldas de Aregos (Pt.) - povoado pré-romano, com o nome da tribo que o habitava ("Arecos")

Caldas de Barbalho (Br.)
Caldas de Moledo
Caldas de Reis (Gz.)
Caldas de S. Jorge (Pt.)

Caldas de Vizela (Pt.) - (ver no enlace a homepage de Sara Abreu). sobre "Vizela" ver post "Hidrónimos ou Nomes de Rios"

Caldas do Bamburral (Br.)
Caldas do Bispo (Gz.) - ver "Chavasqueira"
Caldas Novas (Br.)
Caldelas - é diminutivo de "Caldas"
Caldelas de Tui (Gz.)

Cambuquira (Br.) - de "caá" (planta, folha) + "ambyquyra" (grelo, rebento). é palavra tupi-guarani que significa "grelo, rebento ou broto de planta rasteira, nesse caso "abóbora". lugar (úmido) onde há abóboras. tamém pode significar "(lugar onde há) mato rasteiro"

Carballo (ou Carbalho - g. i.) (Gz.)
Carvalhal
Carvalhelhos (Pt.) - ou "Caldas Santas de Carvalhelhos"
Castelo de Vide

Caxambu (Br.) - ver Comentº. "Cachambú" não é tupi-guarani, mas sim de uma língua africana (?)

Chavasqueira (Gz.)- tamém chamadas "Caldas do Bispo"

Chaves (Pt.) - cidade fundada em 78, deve o seu nome às "águas" e ao imperador romano da gens "Flavia", Tito Vespasiano, que a fundou. seu nome latino: "Aquis Flavis". como Aquis Querquernis (Banhos de Bande), estavam situadas no trajeto da estrada romana de Braga a Astorga.

Curia (Pt.) - as antigas Acquae Curiva
Entre-os-Rios -
Fadagosa (Pt.) -
Felgueira (Pt.) -
Fervença(Pt.) -
Guitiriz (Gz.)  -
Laias (Gz.)  -

Lambari (Br.) - do tupi-guarani "arambaré": "o longe brumoso", "a distância enevoada". em tupi-guarani não existem os sons "l" nem "lh"

Lobios (Gz.)

Longroiva (Pt.) - "Longroiva" parece derivar de "Lango Briga", palavra híbrida com "lango" pré-céltico e "briga" ("monte fortificado", "monte forte" ou "monforte") de origem celta

Lugo (Gz.) - os primeiros edifícios públicos datam do Império Romano - séc. I

Luso (Pt.) - "Luso" parece uma palavra pré-céltica, que significa "lugar alto"

Manteigas  -
Melgaço  -
Monção  -
Monchique  -
Mondariz (Gz.)  -
Monte Real (Pt.) -
Niza (Fadagosa)  -

Ourense (Gz.) - ver "Burgas". merecem ser vistas as fontes do Fervedoiro, ao ar livre (Burga de Abaixo)

Outariz (Gz.) - em recuperação. ao ar livre
Pedras Salgadas
Piratuba (Br.)- de "pira" (peixe) + "tyba" (muito): "lugar onde há muito peixe"
Poços de Caldas (Br.)
Quilombo (Br.)
Rio do Pouso (Br.)
Sangemil (Pt.) - ver post "Topónimos Terminados em "-mil"

S. Gemil - designação equívoca, já que não existe nenhum santo chamado "Gemil". ver "Sangemil"

S. João do Sul (Br.)
S. Pedro do Sul
Termas da Imperatriz (Br.)
Termas da Ladeira de Envendos (Pt.)
Termas da Piedade - ver "Fervença"

Termas de Araxá (Br.) - à letra, "araxá" significa "a vista do mundo", equivalente a "bela vista"

Termas de Cró (Pt.) - abandonadas. é possível que "Cró" tenha origem celta, como "Cro-Magnon" (Fr.), e signifique "mina", "gruta". dizer ou escrever "Termas do Cró" é totalmete arbitrário

Termas de Monfortinho (Pt.) - tem a "Fonte Santa"

Termas do Gravatal (Br.)
Tinteiro (Gz.)
Touca - águas sulfúreas

Treze Tílias (Br.) - no Estado de Santa Catarina, em ambiente do Tirol austríaco

Verin (ou Verim - g.i.) (Gz.)
Vidago
Vimeiro

...................................................................
(*) uma nota a quem procure Termas no Brasil: além das estâncias termais de que estamos falando, pode encontrar outra coisa (sauna, relax, diversão erótica, massagem, enfim, todo um mundo de oportunidades para vários gostos e feitios).

4 comentários:

Anônimo disse...

Só uma correcção, onde se lê
Niza (Falagosa)
deve-se ler
Niza (Fadagosa)

josé cunha-oliveira disse...

é gralha, claro. obrigado por ter reparado nisso

Lengo D'Noronha disse...

Caro Jose Cunha,
No Estado de Minas Gerais, existe o 'Circuito das águas', que são municípios com águas minerais de ótima qualidade e variedades. Morei, quando criança, em três:
São Lourenço, Caxambu e Cambuquira.
Em São Lourenço existe o Parque das águas com várias fontes ditas medicinais:
água ferruginosa, carbo-gasosa, sulfurosa, magnesiana e outras que não me lembro.
Mas foi em Coimbra que tomava uma água maravilhosa, era super alcalina, proveniente de uma região de Portugal. Não me lembro o nome, algo de 'salgado'...(?)

Grande abraço.

josé cunha-oliveira disse...

...essa água alcalina era a que nós chamamos "água das pedras", de Pedras Salgadas,distrito de Vila Real, Trás-os-Montes. uma água boa para depois de certos destemperos gastronómicos.

estou estudando, com o meu vagar, as termas brasileiras e entre elas, claro, as de Minas Gerais.sei até de umas termas que surgiram por ocasião de uma prospeção de petróleo pela Petrobrás. a 700 metros de profundidade, o poço deu água termal...

Caro Noronha, "Toponímia Galego-Portuguesa e Brasileira" é um caderninho de anotações, que regist(r)a e agradece sempre as suas dicas.

...e...o que se passa com Jo? tem o blogue enguiçado?

aquele abração, desde Coimbra