Portugal sofre de, pelo menos, dois grandes flagelos demográficos: uma drástica diminuição da natalidade, com um substancial aumento da esperança média de vida, e a desertificação humana do interior. isso faz com que zonas inteiras da faixa leste do país estejam reduzidas a dúzias de velhos solitários, artificialmente arrebanhados em Lares da Terceira Idade, a que se dá, por vezes, nomes que seriam cómicos se não fossem cruéis. a uma dessas casas botaram o nome de "Última Morada", a outra "Eterno Paraíso", e outras ainda afinam pela mesma espécie de bom-gosto. juntando a tudo isso, vem o verão todos os anos levar o que sobra de uma antiga floresta nacional, alargando os horizontes num sem-fim de milhares e milhares de figuras esguias e ressequidas de árvores queimadas. não é um problema especificamente português. o que será especificamente português é essa divisão do país em Litoral e Interior, essa desertificação que assola a zona mais próxima dos centros de decisão da União Europeia, a região que poderia, teoricamente, atrair população, quadros, dinheiro, investimento, a faixa do território que mais poderia beneficiar da integração de Portugal na União. mas não é assim. quanto mais longe de Bruxelas, de Estrasburgo ou de Paris, melhor é Portugal - ou pelo menos assim julgamos nós. é um Estado-Membro ao contrário. é como se na América as regiões de um Estado fossem tão mais desenvolvidas quanto mais afastadas de Washington ou de Nova Iorque. Portugal olha para a Europa, a que pertence, às curvas, através do mar e do ar. por terra, o histórico peso da Meseta impede os portugueses de ver e de entender a União em linha reta. tudo o que tenha de passar pela Meseta faz tremer o peito.
vem isto a propósito de um fenómeno singular que está atraindo as atenções para Vila de Rei.
aquela vilinha pequena do distrito de Castelo Branco, na chamada zona d' "O Pinhal", tem a particularidade de ser a povoação que fica no centro geográfico de Portugal, bem perto do Alto de Milriça - o centro geodésico do país. e padece do outro mal que desertifica o interior: a emigração, que leva os poucos jovens que a terra inda produz. vêm à ideia os versos de Rosalia:
"iste parte e aquel parte
e todos todos se ván,
Galiza sen homes quedas
que te poidan traballar"...
pois teve o município de Vila de Rei uma ideia original: chamar gente do Brasil para repovoar o concelho.
chegaram as primeiras quatro famílias inteirinhas, de Maringá, Estado do Paraná, oito adultos e seis crianças.
Portugal tem 500 000 imigrantes, na sua maioria eslavos ou africanos, que, aliás, preferem os grandes centros litorais. mas chamar gente do Brasil, e para o interior, tem um gostinho especial e refresca a língua. inverte os caminhos da História e, quem sabe, um dia refrescará também a toponímia
(...veja o que acontece......quatro meses depois...)
vem isto a propósito de um fenómeno singular que está atraindo as atenções para Vila de Rei.
aquela vilinha pequena do distrito de Castelo Branco, na chamada zona d' "O Pinhal", tem a particularidade de ser a povoação que fica no centro geográfico de Portugal, bem perto do Alto de Milriça - o centro geodésico do país. e padece do outro mal que desertifica o interior: a emigração, que leva os poucos jovens que a terra inda produz. vêm à ideia os versos de Rosalia:
"iste parte e aquel parte
e todos todos se ván,
Galiza sen homes quedas
que te poidan traballar"...
pois teve o município de Vila de Rei uma ideia original: chamar gente do Brasil para repovoar o concelho.
chegaram as primeiras quatro famílias inteirinhas, de Maringá, Estado do Paraná, oito adultos e seis crianças.
Portugal tem 500 000 imigrantes, na sua maioria eslavos ou africanos, que, aliás, preferem os grandes centros litorais. mas chamar gente do Brasil, e para o interior, tem um gostinho especial e refresca a língua. inverte os caminhos da História e, quem sabe, um dia refrescará também a toponímia
(...veja o que acontece......quatro meses depois...)
16 comentários:
Caro Jose Cunha, é sempre um grande prazer ler seus posts aqui.
São informações que, como disse o Jo Lorib só mesmo em blogs.
Essa de Maringá, quem diria...
obrigado
mas agora sou eu que pergunto: o que significa "Maringá"? não encontrei melhor explicação que dizerem que é o nome de uma canção. será?
aquele abraço desde Coimbra
Maringá significa Maria do Ingá (ou Ingazeiro), era o nome de uma canção nordestina ,popular nos anos quarenta (Maringá,Maringá,depois que tu partiste,tudo aqui ficou tão triste,eu garrei a imaginar...sic)e virou nome de uma cidade no interior do Paraná com grande número de descendentes de portugueses.
Muitos paises da Europa tem esse problema de envelhecimento e migração,e Portugal não é o que o resolve melhor.Aqui em S.Paulo convivemos com originários de diversos paises, que veem nos descendentes uma fonte de vigor que tratam com carinho.Filhos de italianos,espanhois,alemaes e franceses tem uma atenção que os filhos de portugueses nem imaginam existir.Minha própria filha mora na Europa com documento italiano(por parte da mãe)pq o consulado vosso não da (ou demora muito) documentos que são direito dela.
Poe isso eu vejo com bons olhos a decisão de Vila de Rei,uma iniciativa que podia ser ampliada.
é claro.
quanto a "Maria do Ingá", muito obrigado. vejam só as voltas que a toponímia dá...
aquele abraço
Matou a charada, Jo.Parabéns.
A propósito de 'Maringá'fui olhar na Wikipédia, e achei o compositor, médico como o sr. e que estudou nos Beneditinos em S.Paulo como eu, embora com muitos anos de diferença.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Joubert_de_Carvalho
Conhece outro caso de uma música dar nome a uma cidade ?
música ou canção dar nome a uma cidade é caso único, julgo eu. mas...e por que não? e "Mar'Ingá", "Maringá" é um nome bem bonito.
e você explicou cabalmente como foi que aconteceu. eu apenas sabia que estava relacionado com uma canção.
um abraço desde Coimbra para São Paulo
Para todos os viajantes com ou sem mala posta, e para todos os demais interessados em conhecer melhor a vida e obra de Joubert de Carvalho, com a "cidade-canção" "Maringá" incluída, aconselho uma viagem até:
www.dicionariompb.com.br
Cumprimentos
Penetra
essa penetração não vai muito fundo.
o dicionário de MPB tem mesmo alguma coisa sobre Joubert de Carvalho e sobre "Maringá"?
se tem, aqui não chegou...
prefiro a dica de Jolorib
Desta vez vou ter de fazer de "guia turítico" para uma penetração q.b.:
Acesse o portal do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira que já indiquei;
No campo em branco que está por debaixo de "Busca por..." introduza o nome Joubert de Carvalho;
Obterá como resultado da busca - Joubert de Carvalho - Joubert Gontijo de Carvalho.
Obs.: a penetração também poderá ser feita utilizando o alfabeto que consta na página inicial.
Boa viagem
Penetra
Eu queria dizer "guia turístico".
Penetre sempre.
Penetra
penetrei,está penetrado.
obrigado pela dica.
até breve.
n.b. estou de mala posta para o Canadá,em trabalho.
Desculpe penetrar nessa conversa, mas apreciei demais a notícia e pretendo roubar essa goiaba reluzente para a Bacia.
A propósito, informa-me Houaiss que Maringá é adjetivo de dois gêneros, acrescenta desnecessariamente que é regionalismo do Brasil e sustenta que quer dizer: cujo pêlo é claro, salpicado de negro (diz-se de bovídeo ou caprino).
A informação etimológica: de "origem obscura".
moral da estória, a gente não se pode fiar nem no Houaiss...
aquele abraço
sou fisioterapeuta aqui do brasil(bauru s.p.) e gostaria de saber se seria bem recebido para trabalhar com os idosos de vila de reis ai em portugal. sou tambem descendente de portugueses.
honestamente:
Portugal tem lugares muito mais interessantes para receber gente que vem do Brasil.
Postar um comentário