sábado, 6 de outubro de 2007

Porto Alegre (Br.)

Porto Alegre teve vários nomes ao longo da sua história. começou por ser chamada Porto de Viamão, por estar localizada nos campos de Viamão, distrito de Laguna, Estado de Santa Catarina. de ponto de passagem de nómadas com suas manadas de gado, a região evoluíu para o localização de uma população sedentária de agricultores. em 1740, o madeirense Jerónimo d'Ornelas recebe a região em sesmaria e o local passa a ser conhecido por Porto do Dornelles.
a região que hoje constitui o Estado do Rio Grande do Sul ficava de fora dos limites acordados no Tratado de Tordesilhas, mas foi reconhecida como portuguesa pelo Tratado de Madrid, de 1750.
em 1752, começam a chegar levas de casais açorianos com a missão de povoar a zona, aliviando, também, o excedente populacional que então se verificava nos Açores. com a chegada desses casais, o Porto de Dorneles passou a ser mais conhecido por Porto dos Casais. sessenta foi o número de casais açorianos que foram fixados especificamente no Porto de Dorneles (na foto, a "ponte dos açorianos" e o monumento aos casais açorianos).
a população começa depois a evoluir para um modo de vida urbano de comércio e serviços.
em 1773, um Governador, José Marcelino de Figueiredo, entende dar ao local o nome que merecia: Porto Alegre.
mas apesar de ter apenas 227 anos de vida e de sabermos quem foi o seu padrinho de batismo, a razão do topónimo continua incerta. como tenho dito várias vezes, é um mistério a facilidade com que se perde a memória da origem dos topónimos. há quem pense que Porto Alegre será uma transposição de Portalegre, cidade portuguesa do chamado Alto Alentejo. porém, sobra por explicar por que motivo, na época, uma cidade com população predominantemente açoriana iria buscar o seu nome ao Alentejo. e por que motivo José Marcelino de Figueiredo, da família dos Sepúlvedas de Trás-os-Montes, foi escolher um nome alentejano. uma outra hipótese, ainda pouco explorada mas muito verosímil, remete para uma povoação açoriana da Ilha Terceira, entretanto desaparecida, cujo nome era Santana de Porto Alegre (*). uma terceira hipótese, que não pode ser descartada, é a de que Porto Alegre seja, simplesmente, uma designação eufónica que predispõe para que se goste do local.
certo é que em 1810, Dom João VI de Portugal eleva a Capitania de Porto Alegre à categoria de Vila, com o nome barroco de Vila de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre (ver Comentº. de Eduardo). finalmente, em 1821, o Imperador D. Pedro I do Brasil, D. Pedro IV de Portugal, eleva Porto Alegre à categoria de cidade.
Porto Alegre é hoje a capital do Estado gaúcho do Rio Grande do Sul.

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(*) muita da informação recolhida no parágrafo pode ser encontrada em "Porto Alegre - história e cultura", de Hilda Agnes Hübner Flores, Martins Livreiro-Editor, Porto Alegre, 1987.

6 comentários:

Unknown disse...

Uma pequena correção:
Não é correto afirmar que a capitania foi transformada em vila em 1810.
Na verdade, a capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul transformou-se em província e depois em estado.
A freguesia de Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre é que se transforma, naquele ano, em vila (ganha câmara de vereadores, o que corresponde ao atual conceito de município) e mais tarde em cidade.

josé cunha-oliveira disse...

obrigado pela achega importante. na verdade, essa precisão não consta dos livros que eu consultei.

Anônimo disse...

Duvido que possa haver alguma ligação entre Porto Alegre e Portalegre, a não ser (o que também é possível), que exista a duplicação de topónimos no Brasil.
É que no Estado do Rio Grande do Norte, mesmo na "tromba do elefante" (a configuração do território faz lembrar um elefante, assim o assumem os brasileiros), é onde existe a pequena cidade de Portalegre, hoje geminada com Portalegre do Alto Alentejo.
No Rio Grande do Norte existe um conjunto de localidades que copiam a papel químico parte do percurso do "fundador" de Portalegre do Brasil, Miguel Carlos Caldeira de Pina Castel-Branco, Juiz de Fora de Olinda mandado pacificar a zona da Serra do Regente (mais tarde do Martins) em 1761 e que deu o nome de Portalegre ao acampamento onde hoje é a bonita cidadezinha serrana, aliás como bem o percebe quem conheça Portalegre do Alto Alentejo e depois ali chegue, percorridos mais de 300 quilómetros de sertão, e encontre a beleza, as quedas de água e clima quase frio da serra de Portalegre.
No sopé desta serra (no Brasil) fica Viçosa (de Vila Viçosa, e não será por acaso). Pouco antes situa-se Umarizal, que até há algumas décadas atrás se denominava Gavião, tal como se denomina hoje a sua avenida principal e o recente cine-teatro e casa de cultura.
Na costa, mesmo junto a Natal encontramos Extremoz (grafado com xis, tal como a nossa cidade de Estremoz até há poucas décadas) e, espantemo-nos, mesmo junto a Pipa (hoje estância balnear muito conhecida), a cerca de 90 quilómetros, encontramos Arês e Vila Flor.
O alentejano Miguel Carlos é de família de Portalegre, nasceu ou foi criado em Arês, mesmo junto a Vila Flor e muito próximo de Gavião, teve ligações a Estremoz, onde foi juiz, pertíssimo de Vila Viçosa. Depois de regressar do Brasil casou com uma senhora de Arronches e está sepultado em Portalegre, na Igreja do Convento de S. Francisco.
É pois altamente provável que todos estes topónimos tenham, tal como o de Portalegre, sobre o qual há certeza e relatos, origem no Miguel Carlos, que terá transportado para aquela região nomes das suas terras de afeição.


Integro um pequeno grupo de portalegrenses que promoveu uma visita há poucos anos atrás, a Portalegre do Brasil, na preparação da qual foi descoberto parte do que aqui transmito de uma forma coloquial (mas há documentação escrita e publicada sobre a matéria). Um aspecto que nos intrigava era o porquê de Arronches não surgir no conjunto de topónimos, mas só mais tarde viemos a saber que a data do casamento de Miguel Carlos com a sua esposa de Arronches é posterior ao seu regresso do Brasil.
Curiosamente veio há pouco a descobrir-se que Arronches é no Ceará e hoje desapareceu, "engolida" pelo crescimento da capital, Fortaleza, integrando a antiga vila de Arronches um bairro da cidade de Fortaleza.
Devo acrescentar ainda, mas possivelmente sem qualquer relação com o que aqui se diz, também relativamente próximo de Portalegre (a apenas 300 kms, quase nada na dimensão continental do Brasil) fica a cidade de Crato, uma cidade importante do Estado do Ceará.
Relativamente a Porto Alegre, capital do rico Rio Grande do Sul (e sem ter nada a ver, certamente) é de notar que ali perto outra cidade ostenta o nome de Alegrete. Alegrete é a capital dos criadores de bois naquela região. Aqui, em Portugal, é um antigo concelho fronteiriço, junto a Arronches, e que hoje integra o concelho de Portalegre.
Por acaso já fui propositadamente cicerone de duas senhoras brasileiras, mãe e filha, de origem alemã, actualmente residentes em Natal mas naturais de Alegrete do Brasil, aqui em Alegrete de Portugal.

Para concluir, devo acrescentar que participei na organização do primeiro passeio de portalegrenses de Portugal a Portalegre do Brasil. Cerca de 80 pessoas percorremos o Rio Grande do Norte, e os testemunhos escritos dessa viagem são de grande emotividade. Vivemos um momento único e irrepetível na chegada à nossa Portalegre gémea do Brasil.
Já depois disso um segundo grupo de cerca de 50 portalegrenses ali esteve, tal como já lá estiveram vários autarcas de Portalegre, incluindo o presidente da Câmara, Mata Cáceres.

Por seu turno também os nossos amigos brasileiros aqui estiveram, num grupo de cerca de 30 pessoas, há três anos, e foi formalizada aqui a geminação entre estas duas cidades que tanto se querem.

Vários amigos brasileiros aqui têm vindo, e aqui, em Portalegre, sonhamos fazer um grande regresso a Portalegre do Brasil no início da próxima década.

Devo acrescentar que toda esta iniciativa foi tomada pelo jornal Fonte Nova, de Portalegre, e pelo seu director Aurélio Bentes Bravo. Que a investigação - há ironias! - foi feita por António Miguel Martinó de Azevedo Coutinho que dois ou três dias antes de partirmos descobre ser ele próprio descendente em linha directa (5º neto, se não me engano) do fundador de Portalegre do Brasil, Carlos Miguel.

Na próxima década o jornal Fonte Nova, em parceria com um novo jornal que entretanto fundei, o Alto Alentejo, a Câmara de Portalegre e mais instituições que o desejem, promoveremos no Brasil, na tal trombinha do elefante, uma grande reencontro de portalegrenses dos dois lado do Atlântico, irmanados por um sentimento que temos dificuldade em descrever mas que bem sentimos, de alegria e de comoção.

Como escreveu a Bernadete, minha querida amiga e colega jornalista brasileira de Portalegre – conhecemo-nos, abraçámo-nos e continuaremos a caminhar nesta odisseia - (e cito de cor): "vocês não vieram aqui porque são ricos ou não, não vieram porque são bonitos ou não, não vieram para mostrar que são mais ou que são menos que nós. Vocês não vieram porque nós somos pobres. Vocês vieram porque temos uma única coisa em comum: nós somos portalegrenses".
Nenhum de nós pode esquecer a emoção de chegar a uma pequena terra em que toda a gente nos esperava com flores, em que os olhares das crianças não acreditavam, e em que o Padre Dário Torboli (que aqui já recebemos e que já levámos a Fátima), italiano pároco que foi na catedral de Trento e missionário nesta terra brasileira há 50 anos, nos abençoou, num momento em que até os ateus choraram.

Fica o convite para que, se o desejar, possa como amigo partilhar a nossa aventura.




Para baralhar: Porto Alegre e Açores; para a zona de Portalegre e Castelo de Vide vieram centenas de açorianos (creio que em meados do século XVII), especialmente para trabalharem na indústria de lanifícios, como aliás o demonstra uma recente tese de mestrado em história, da Universidade de Lisboa, que publica as próprias listas de açorianos para aqui vindos (a pronúncia de Castelo de Vide pode, segundo alguns autores, ser resultado desse "encontro").
Com esta saga açoriana, em comum com a de Porto Alegre, uma mente fértil poderá facilmente engendrar outras ligações entre açorianos daqui e de lá.


Manuel Isaac Correia



Nt. -
Texto do Protocolo de geminação entre as cidades de Portalegre Na e Portalegre RN em:
http://www.cm-portalegre.pt/resources/2603/zoom/protocolo_geminacao_portalegre_brasil.pdf

















Posso acrescentar que hoje a cidade de Portalegredo Alto Alentejo está

josé cunha-oliveira disse...

Como pôde ver no meu texto, eu também duvido dessa ligação. para não dizer mais. de qualquer modo, o seu contributo é muito importante para este post.
muito obrigado.

Anônimo disse...

Faltou dizer que essa aventura será em 2011, quando se assinalam os 250 anos de fundação de Portalegre do Brasil.

josé cunha-oliveira disse...

também me esqueci de referir o seguinte:
sobre a afinidade entre os falares do Alto Alentejo e os falares açorianos, já tive ocasião de escrever em também me esqueci de referir o seguinte:
sobre a afinidade entre os falares do Alto Alentejo e os falares açorianos, já tive ocasião de escrever em Pondelgada, Ponferrada.
creio que a relação causal primeira é inversa, ou seja, a migração de gente do Alto Alentejo e da Beira Baixa determinou, em boa parte, muitos dos falares açorianos. isso não obsta a que contactos posteriores tenham reforçado essa afinidade.
creio que a relação causal primeira é inversa, ou seja, a migração de gente do Alto Alentejo e da Beira Baixa determinou, em boa parte, muitos dos falares açorianos. isso não obsta a que contactos posteriores tenham reforçado essa afinidade.