domingo, 8 de outubro de 2006

A Língua de M.

M. é jornalista de peso. presumo que o seu cachê reflectirá o peso que tem. dou isso de barato.
mas os seus horizontes linguísticos é que são demasiado curtos.
a propósito dos desafios que a China representa para muitos países potenciais concorrentes, ele soube que o Brasil está atento. que estuda a China. que se prepara. que faz o que tem a fazer. e M. mostra um livro publicado no Brasil sobre isso mesmo: o desafio da China. e explica que o livro está em brasileiro.
quero crer que sim. não seria de supor que estivesse em argentino, mexicano, americano, quebequense, australiano, sei lá.

mas...por quê a necessidade daquela "precisão"?
é que, se está em "brasileiro" é porque - suponho - não estará em português. e então imagino que M. entenderá por português uma língua a que não possa acrescentar-se nenhum qualificativo mais. uma língua minoritária ao quadrado. saloia. um dialecto europeu da região de Sintra e arredores. onde cabe Lisboa e M. e nada mais.





M. de míope?
e que culpa temos nós?

20 comentários:

Anônimo disse...

Essa idéia que alguns portugueses "intelectualóides" defendem de que no Brasil se fala "brasileiro", muito provavelmente pra tentar mostrar uma certa superioridade lingüística sobre o Brasil (só em Portugal se fala o português corretamente), cada vez ganha mais simpatizantes no Brasil. No Orkut por exemplo uma comunidade chamada "Eu Falo Brasileiro" já conta com mais de 4000 inscritos.

Parece que esses portugueses "intelectualóides" não percebem que o Brasil só tem a ganhar com uma suposta independência lingüística. Entre as vantagens posso citar que o Brasil passaria a ser o único país das Américas a ter uma língua própria e o "brasileiro" passaria a ser a oitava ou nona língua mais falada do mundo enquanto o português desapareceria da lista escondido entre as posições 60 e 70.

Só pra finalizar, um amigo português me enviou um email dizendo que assistiu recentemente um apresentador da televisão portuguesa chamado Herman José dizendo para uma atriz brasileira, durante uma entrevista, que quando ele viajava para o Brasil tem de "falar brasileiro" pra ser entendido.

josé cunha-oliveira disse...

é isso.
sem tirar nem pôr.

Jo Lorib disse...

Qual ''brasileiro'' seria o oficial? O paulista, o carioca, o gaucho, o nordestino? Existem diferenças maiores entre eles do que com o português dai.
E justiça seja feita, os portugueses cultivam melhor a gramática que nós, andamos a avacalhar a coisa.

josé cunha-oliveira disse...

quanto às variantes do português do Brasil penso que apenas meia dúzia de portugueses saberá isso - o que revela uma falta de política da língua.

a língua portuguesa é um património comum de países e regiões que a nível mundial representam uma força enorme.não poderemos desbaratar esse património com imbecilidades do tipo que aqui referi.
os galegos, pelo menos alguns, compreendem isso.
é que, na sua globalidade, incluindo o galego, a língua portuguesa é das línguas mundiais com menos variantes e dialectos.
os portugueses cultivam a gramática?
pode ter sido, agora não. felizmente você não vê a televisão portuguesa. qualquer canal. cairia no chão, fulminado!

Anônimo disse...

Ignorância. Costas voltadas. Vergonha, por parte dos brasileiros de terem sido colonizados por um país que foi sempre a cauda da Europa. Raiva dos portugueses que se habituaram a parasitar os mundos que descobriam e nunca se desmamaram. Mas há esperança. Noto isso na Internet... Não existe só o Orkut... Há a Wikipédia, por exemplo, onde, apesar das vozes discordantes, se mantém a política de fazer apenas um projecto em português... Infelizmente, esse tem sido um dos motivos para que a Wikipedia.pt tenha tido tão poucos colaboradores e impere a desordem e a falta de cérebros, que preferem a Wikipédia em inglês... Enfim... Há que dar tempo ao tempo... Mas duvido que, actualmente, as línguas evoluam tão rapidamente como em séculos passados. A força da palavra escrita serve de freio a essa evolução. Não sei se é bom, se é mau, mas é assim...

Jo Lorib disse...

O Manuel tem razão ao dizer que a esperança está na Internet, na Wikipédia e, acrescento eu, nos blogs como este.

Anônimo disse...

"E justiça seja feita, os portugueses cultivam melhor a gramática que nós, andamos a avacalhar a coisa."

São declarações como esta que servem de munição para a discordia entre portugueses e brasileiros. Os portugueses cultivam tão bem a gramática quanto qualquer brasileiro, apenas utilizam normas próprias de seus paises. A capacidade de se cultivar a gramática não está em um povo mas sim nos indices de analfabetismo e investimentos feitos na educação popular. Não existe uma língua superior a outra, essa coisa infantil de o meu é melhor que o seu é que alimenta essa animosidade inútil que não leva a lugar nenhum.

Morro de inveja da forma como os espanhóis conduzem suas conversas com os latino-americanos falantes do espanhol, sempre de forma cordial, respeitosa e nunca com uma retórica de superioridade lingüística. Deve ser por isso que conseguiram com facilidade aprovar acordos que aproximaram as variantes latino americanas do espanhol europeu.

Se portugueses e brasileiros descessem desse pedestal de arrogância e acima de tudo ignorância, da estupidez de achar que o meu é melhor que o seu, quem sabe conseguiriamos progredir na aproximação lingüística que poderia ajudar a preservar a língua portuguesa.

josé cunha-oliveira disse...

eu não diria melhor.
porém, os espanhóis têm a vantagem de lidar com muitos interlocutores. no caso português, o interlocutor é apenas o Brasil (acredito que chegará o dia da Galiza também). ora, esse jogo do "melhor" só é possível porque não temos a experiência de dialogar com muitos. a vivência da relatividade, da humildade e da igualdade fica prejudicada.somos os melhores da nossa rua.
benvinda a bordo.

Unknown disse...

é unha cuestión política.

se fose unha cuestión lingüística e nada máis, estaría máis claro o achegamento entre o galego, o portugués e o brasileiro.

existen menos diferencias entre estas linguas que entre diferentes variantes do alemán... por pór un só exemplo.

a política e a economía (de linguaxe, de moedas) son as que marcan o camiño.

lamentablemente.

josé cunha-oliveira disse...

a questão da norma escrita é matéria política. os povos, esses, continuam falando e entendendo-se na linguagem oral.
é certo, e repito, que o galego-português-brasileiro é a língua menos variável do mundo.
mas um excelente exemplo de como se pode criar uma diferença onde ela nom existe é a variedade de formas de escrever "em galego". ou a velha querela ortográfica entre Portugal e o Brasil.se escrevêssemos em Portugal tal qual como falamos, diríamos que escrevíamos em "brasileiro". esse é, aliás,julgo eu, um dos entraves ao avanço do Acordo...
por outro lado, os galegos escrevem "che" onde os brasileiros escrevem "te". mas a pronúncia é a mesma.
o alemão é um belissimo exemplo de uma língua variável de região para região até à incompreensibilidade mútua.o albanês é outro ainda.e o chinês também.
exemplos de como a política faz e desfaz a unidade linguística é o servo-croata e o flamengo-holandês. no primeiro caso, a política separa; no segundo caso, a política reúne.
assim vão as cousas.
um biquinho e obrigado pola tua achega.

Unknown disse...

tamén hai moitos galegos que din que non entenden o portugués.

como sempre, fálese a lingua que se fale, hai entendemento só se hai vontade de entenderse... non é?

josé cunha-oliveira disse...

:-)
é claro que sim. quem se quer entender não cria barreiras.
muito menos onde elas nom existem.

Anônimo disse...

"...Qual ''brasileiro'' seria o oficial? O paulista, o carioca, o gaucho, o nordestino?..."

Que eu saiba estamos falando de línguas e não de sotaques, se você entende que a língua do Brasil é só um sotaque então você está totalmente perdido nesta conversa. Recomendo que vá em uma Biblioteca Pública, pegue e leia os seguintes livros:

ROBERTS, Ian / KATO, Mary A. (Orgs). Português Brasileiro. Uma Viagem Diacrônica. Campinas, Editora da Unicamp, 1993.

GUIMARÃES, Eduardo / ORLANDI, Eni Puccinelli. Língua e Cidadania. O Português no Brasil. Campinas, Pontes, 1996.

Dias, L. F. - Os Sentidos do Idioma Nacional, Campinas, Pontes. 1996.

Orlandi, E. P. - Língua e Conhecimento Lingüístico. São Paulo, Cortez. 2002.

E quem disse que precisa de um brasileiro oficial? Qual é o italiano oficial? É o de Roma? É o de Nápoles? É o de Veneza? E o francês oficial qual é? É o de Paris? É o de Marselha? Qual é o português oficial? É o de Lisboa? O de Coimbra? O do Porto? Não entendo o que você quer dizer com ter uma língua oficial. Por acaso você estaria sugerindo que uma pessoa que viva no Porto tem de falar lisboetês só porque esse sotaque poderia ser escolhido como a língua oficial de Portugal?

O que eu quero dizer é que essa sua questão é o menor dos problemas e não interferiria se de fato o Brasil um dia decidisse de forma política, diga-se de passagem, mudar o nome da sua língua para brasileiro.

josé cunha-oliveira disse...

o narcisismo das pequenas diferenças - como diria Freud. ou de como a família divide o falecido.

parece que, afinal, o que está em causa é quem toma posse do nome da língua.

o assalto à herança vem aí.

tem família que é cega.

Jo Lorib disse...

Peço licença ao amigo viajante para esclarecer alguns pontos (e sem querer transformar este espaço numa daquelas discussões interminaveis da Wikipédia): Laura, eu não disse '' o meu é melhor que o seu'', na verdade afirmei o contrário, ''o seu é melhor que o meu'';Breno, repara que escrevi ''brasileiro'' com aspas, muda todo o sentido da coisa.
Por fim, quem concorda comigo e acha que o português (incluindo o galego) é uma lingua só, diga: Eu!

josé cunha-oliveira disse...

Eu!



...acho que está na hora de cada um puxar das três bandeirinhas do meu blogue e botá-las no seu.
por qualquer ordem...


(Jo, a questão, afinal, é saber se a língua que falamos e escrevemos é galego, português ou brasileiro. é uma questão de bairrismo. apenas e só. que pena...)

Anônimo disse...

Laura, eu não disse '' o meu é melhor que o seu'', na verdade afirmei o contrário, ''o seu é melhor que o meu'';

Continua sendo uma frase preconceituosa que não só não ajuda em nada na aproximação lingüística entre os dois povos como pelo contrário só serve pra criar uma divisão entre brasileiros "que acham que falam melhor" e portugueses "que acham que falam melhor" uma mesma língua que deveria ser respeitada em todas as suas vertentes e sotaques. Só estou pedindo para que você reflita sobre o assunto.

Se você me permite, veja esta frase subjetiva ajuda na sua reflexão:

Ter submissão é totalmente diferente de ter amizade, não é possível ser amigo quando se é escravo de algo ou alguma coisa.

Um abraço

Unknown disse...

poderíamos entrar en discusións, pero para que?

así que:

eu!!!! (tenho que aclarar que concordo con voçe só neste ponto... é moi probábel que haja moitas diferenças entre as nossas opiniões, e que seja asim por sempre)

as bandeirinhas xa están no meu blog. quero dicir, xa estaban...

Anônimo disse...

Sr. viajante e demais comentadores do Brasil: ao ler o que para aqui vai, senti uma necessidade absoluta de esclarecer algumas coisas.
Parece-me que, antes de virem para aí palrar, o mínimo que podiam fazer era reunir alguma informação sobre as coisas que pretendem afirmar. Para começar, é natural que portugueses no Brasil se vejam obrigados a falar 'brasileiro', visto que frequentemente os brasileiros não entendem o português de Portugal. Quanto aos portugueses cultivarem mais a gramática, parece-me que sim, provavelmente devido a maior nível de literacia, não se pode é ir buscar exemplo a meia dúzia de patetas da televisão. O sr.viajante é que me parece um bom exemplo...sinceramente acho a sua escrita confusa, mesmo incoerente, e a pontuação e gramática, não me parecem nada correctas, digo eu que não sei nada da vossa gramática. Não sei e não quero saber, não quero tais influências na minha língua natural que me é muito mais que meio de expressão, como muitos meus conterrâneos dizem, ela é parte de quem eu sou e é através dela que mais profundamente sinto. Já somos bastante prejudicados pelo facto de, por exemplo a wikipédia estar quase exclusivamente em 'brasileiro', tornando-se inútil como dicionário e pouco credível como enciclopédia.
Os portugueses, mal ou bem, deram origem ao Brasil tal como ele é hoje e supostamente a língua aí falada seria o português. Acho que não há, nem houve nunca na história desde então, uma grande tentativa de sobreposição do português de Portugal, aliás, sinto isso é da parte dos brasileiros. É o que vejo aqui no blog, só não encontro é razões lógicas. A propósito, o galego não é de todo português, são duas línguas irmãs, que nasceram juntas e que inicialmente seria uma só, o denominado galaico-português. Não confundir os factos! Quanto a mim é bem mais válido o diálogo destes dois idiomas do que o português com o 'brasileiro' que já tem influências pseudo-inglesas e indígenas, o que pouco ou nada tem a ver com Portugal. Mas, para quem não sabe, Portugal tem mais de 25 interlocutores, quero dizer, países onde se fala português também. Mais um erro crasso, sr.viajante!
Por último, peço que tomem atenção à diferença, ou à não existência de diferenças práticas (gramática,ortografia,semântica) entre vários sotaques da mesma língua, que é o que acontece com o português do norte e do sul do país. E a absoluta diferença que ocorre entre dialectos, por exemplo os italianos de Roma, Veneza, Nápoles,etc. que provoca a existência de uma italiano oficial ou padrão que não corresponde a nenhum desses dialectos locais.

Sejam os melhores da vossa rua e gabem-se o quanto quiserem, deixem é a nossa rua em paz.

PS.Portugal nem sempre esteve ou está na cauda da Europa e muito menos na mama dos países que colonizou. Mas para não alongar mais, um pequeno exemplo: várias das melhores escolas de ciências, tecnologia e arte da Europa são portuguesas, e isto é ainda mais comprovado pelos numerosos e importantes prémios internacionais que nos são atribuidos todos os anos. Pena é que seja por detrás das televisões e sites pouco sérios que a maioria prefere ver!

josé cunha-oliveira disse...

afinal, "Toponímia Galego-Portuguesa e Brasileira" também conta com leitores sérios, claros, precisos, de ideias largas e sólida fundamentação, de grande leitura e saber de experiência viva.
mas entendamo-nos: a minha Língua é muito mais que a minha Pátria; a minha Pátria, essa sim, é a Língua Portuguesa - como disse Fernando Pessoa. que usava a ortografia adequada à transmissão das suas ideias, e não a dos manuais.
sabe, há sempre uma fase da nossa vida em que podemos estar para além dos manuais. e até responder ao que, noutras fases da vida, ficaria sem resposta.