sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

carrascal, carrasqueira, carrascoso

"carrasco" é uma variedade de "carvalho". a palavra é pré-latina, indiciando o carácter nativo desta espécie de quercus, que se desenvolve entre formas arbustivas e a árvore. este grupo de fitotopónimos encontra-se por toda a Península Ibérica (ver Comentºs.).

as variedades de quercus que importam para a Fitotoponímia incluem:
- a quercus coccifera, carrasco galego ou verdadeiro carrasco;
- a quercus faginea, carvalho português ou carvalho cerquinho;
- a quercus pyrenaica, ou carvalho pardo;
- a quercus robur, carvalho comum, albarinho ou roble;
- a quercus rotundifolia, azinheira, azinho, carrasca ou sardão;
- a quercus suber, chaparro, sobreiro ou sobro.

cada uma destas variedades ou espécies dá o mote para o respectivo grupo de fitotopónimos. no entanto, topónimos como "Sobreira" ou "Carvalho" merecem a nossa atenção, pois raramente ou nunca se referem a aspectos da flora. ver aqui.
de notar a alternância ç /k em cerquinho, cerqueira, quercus.

exemplos de topónimos derivados de Carrasco:

A Carrasqueira (Gz.)
Azenha da Carrasca
Carrascal (Pt. e Gz.)
Carrascal de Alvide
Carrasqueira (Pt. e Gz.)
Carrasquinho
Carrascos
Carrascoso
Carrasqueira
Fonte da Carrasca
Monte Carrascalão
O Carrascal (Gz.)
Quinta da Carrasca
Rua do Carrasquinho
Vale da Carrasqueira

13 comentários:

Anônimo disse...

Obrigada por sua resposta a minha pergunta sobre Passos. Hoje, pergunto-lhe sobre o significado de Oeiras para o qual, em seu glossário de topônimos, não aparece nenhuma explicação. No estado em que moro, o Piauí, há uma cidade com esse nome, aliás, ela foi sua primeira capital. Sei que o nome dessa cidade piauiense deve-se a algum topônimo de Portugal, mas que significa o nome "oeiras"?
Desculpe escrever topônimo (com acento circunflexo); a grafia brasileira assim o exige.

Anônimo disse...

Olá,

é mui curioso esse nome de "carrasco galego" para a Quercus coccifera. Entre outras cousas porque esta espécie não faz parte da flora galega. Gosta de locais mais intensamente mediterrânicos (e onde abundem mais os solos calcários)
Está recolhido na fala esse nome? de onde?
Será porque é um tipo de azinheira de tamanho cativo? (lembremos que certo prejuiço contra "o galego" poderia levar a qualquer forma menor ou ruim de algo a ser denominada como "galega").

Um saúdo

josé cunha-oliveira disse...

olá, Miguel.
"carrasco galego" ou "verdadeiro carrasco" é o nome que figura no Herbário do Jardim Botânico da UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro).
concordo que "verdadeiro carrasco" é preferível a "carrasco galego".
no entanto, "carrasco" é o nome habitual dessa árvore ou arbusto em Trás-os-Montes, onde continua a ser Galiza.
quanto ao "preconceito contra o galego", Miguel, você está mesmo convencido disso?

josé cunha-oliveira disse...

olá, Rose,
já me referi em anteriores postagens ao caso da Oeiras portuguesa e das Oeiras brasileiras. as Oeiras do Brasil são transposições do topónimo português.
quanto á Oeiras portuguesa, é uma vila e Município do distrito de Lisboa. parece (repito: "parece") que Oeiras se relaciona com a existência de ouro em outros tempos. do lat. "aurarias", teria vindo o nome.
é verdade que o Rio Tejo já foi rico em pepitas de ouro.
quanto ao acento circunflexo em "topônimo", não me preocupa. o que mais me preocupa é que continue por colocar em prática o nosso Acordo Ortográfico. por causa do Governo Português.

Anônimo disse...

Olá,
Pode que Trás os Montes seja Galiza (mesmo pode que a parte mirandesa seja Leão!) mas acho que se É uma cousa quando esta é auto-assumida, sobretudo quando a essa cousa é referida a identidades de tipo territorial. Se o povo transmontano ainda se considera total ou parcialmente "galego", gostaria imenso de o saber. Outra cousa é que eruditos simpáticos e saudosos assim opinem. :-) Porém, acho que quando os trasmontanos comuns usam o gentilício galego para adjectivar um conceito estão a depositar a "essência" desse conceito fora do seu território. Por exemplo, quando o transmontano Miguel Torga fala num dos seus Contos da Montanha do "vento galego" está claro que está a falar dum vento alóctone, vindo do norte, de fora em definitiva. Quercus coccifera, inexistente na Galiza, é rara em todo o noroeste ibérico. Suponho que a planta não deve ser frequente em Trás os Montes. Essa raridade deveu levar à gente a considerar mais própria doutro sítio a essa espécie. O interessante é saber por que decidirom situar a "essência" dessa espécie no território que eles indentificam co'a Galiza.

No que diz ao preconceito sobre o "galego", acho que em Portugal já não deve operar muito, mas no passado "galego" tanto em Portugal como em Castela tinha conotações negativas. Aos dicionários me remeto.
Um abraço

Anônimo disse...

olá, Miguel
não me lembro de ter dito que os transmontanos acham que são "galegos", nem disse que eles acham que não são.
disse, isso sim, que Trás-os-Montes (vá lá, 95% de Trás-os-Montes...) é Galiza. refiro-me à Galiza-Galiza e não ao bocado de Galiza a que a Espanha de Madrid chama Galiza. falo da Galiza celta, romana, sueva. da Galiza de Napoleão e assim por diante.
quanto à árvore ou arbusto que nos traz aqui, a primeira vez que eu ouvi falar em "carrasco" foi em Mirandela. e havia por lá bastantes. que não tinham ar de enfezados, mal adaptados ao ambiente ou assim.
sei que há topónimos galegos (propriamente ditos) como "Carrasqueira" e "Carrascal" e não me parece que devam esse nome aos carrascos de Trás-os-Montes ;)
é possível que os tenha havido noutros tempos mais que hoje. o suficiente para deixar marcas na toponímia.
quanto aos intelectuais saudosistas, Miguel, eu acho que se está metendo comigo. eu não sou saudosista pela simples razão de que não tenho de que ter saudades.
move-me um sentido de História e de observação do que se passa no Mundo de hoje. em quase todas as regiões afins, do ponto de vista étnico, linguístico e cultural, há hoje intensos fenómenos de aproximação.
e dentro da União Europeia mais do que em nenhum outro lado.
a evolução é no sentido da reaproximação das afinidades. os Programas INTERREG e as Eurocidades
é isso que fazem.
como sabe, Chaves e Verim estão em vias de constituir uma Eurocidade.
e eu é que sou o saudosista...
para eu poder vir a ter saudades de alguma cousa, no que respeita ao reintegracionismo galego-português, por exemplo, era preciso que essa reintegração estivesse consumada e que, depois, deixasse de existir só para eu poder ser chamado de saudosista. o que levaria seguramente mais tempo do que aqueles que eu já levo de vida.
até lá, acho que os verdadeiros saudosistas são os que tenhem saudades hoje. uns, de um nacionalismo que a União Europeia veio tornar obsoleto e ridículo, e outros de uma Espanha que deixou de existir há duas dúzias de anos.
um abraço.

Anônimo disse...

Como nota para esta troca de impressões, refiro que o "carrasco" de Trás-os-Montes é, na verdade, a azinheira - a Quercus ilex ou Q. rotundifolia dos botânicos, sendo o Q. coccifera uma espécie muito rara na Terra Quente trasmontana.
Em Portugal, o Q. coccifera só volta a surgir nos terrenos calcários da região de Coimbra e daí para sul, atingindo a sua maior expressão nas serras calcárias da Estremadura e do Barrocal algarvio.
"Carrasco" é também um epíteto aplicado a outras plantas distintas na Galiza, em Portugal e no resto da Ibéria (lembremos, por exemplo, o "pino carrasco" dos espanhóis, em português pinheiro de alepo).

Abraço

Gundibaldo

josé cunha-oliveira disse...

para Gundibaldo:
a questão não é qual das "quercus" é o carrasco da Terra Quente de Trás-os-Montes, mas sim se a "quercus
coccifera" deve ter o nome de "carrasco galego" ou de "verdadeiro carrasco".
é verdade que o carrasco transmontano é a "quercus ilex" e tudo o resto que diz está certo.
obrigado pelo contributo.
um abraço.

Anônimo disse...

Olá a todos,
amigo viajante, não pretendim pôr na tua boca a afirmação de os transmontanos sentirem-se galegos, mas a minha opinião de que para Trás os Montes ser Galiza só lhe falta que os seus habitantes se reconhezam como galegos (os restantes elementos: habitat, cultura, história, ...já lá estão). Para mim, isso é importante para reconhecer essa terra como Galiza. É apenas uma opinião. E por suposto, sei de que Galiza estás a falar, e aí concordamos em muito (excepto no parecer de Napoleão, que não valoro muito). :-)

Quanto ao das saudades, com efeito estava a meter consigo, mas duma maneira expressamente amigável.:-) É para mim uma grande alegria e um orgulho achar portugueses que a se debruçarem sobre a Galiza do teu ponto de vista. Ninguém mais do que eu, que sou reintegracionista acérrimo no lingüístico, quer uma maior aproximação da Galiza a Portugal, (e não apenas ao norte onde ainda se percebe a mesma identidade étnica, polo menos no mundo rural) más a lusofonia toda. Defines o nacionalismo de "obsoleto e ridículo". Eu que sou um feroz anti nacionalista em sentido clássico (nacionalista dos estados) vejo-me na obriga de ser nacionalista galego, um dos nacionalismos de auto-defesa que mais sentido fam na Europa actual. Porém, é um nacionalismo amigo (irmão) dos outros povos peninsulares e que, no caso de Portugal, não tem mui claro se é nacionalismo galego ou portugalego. Em fim, sou nacionalista para poder deixar de sê-lo.

Obrigado Gundibaldo pola aportação botânica meridional. De feito, eu nunca vim Quercus coccifera em Trás os Montes. Por certo, as (infelizmente) poucas vezes que por ali andivem também não escuitei a palavra azinheira, mas "sardão". Acho esta palavra mui interessante, pois a forma sardão/xardão, no nordeste da Galiza define ao Ilex aquifolium (o acivro ou azevinho). Aqui, a Quercus ilex é chamada "enzinho ou enzinha". Referido ao acivro, dá lugar ao topónimo Xardoal na paróquia de Vênida (Concelho de Castro do Rei, Lugo). Mais ao sul, já na raia com Trás os Montes, o xardão/sardão é nome que se pode referir tanto ao Ilex aquifolium como à Quercus ilex (os próprios nomes latinos evidenciam a similutude morfológica embora a distância genética entre ambas as espécies). De aí todos esses topónimos sardoal e sardoais portugueses, que suponho já só referidos ao enzinho ou azinheira.

Por certo, a minha moça e a sua mãe apanham "carrasquilha" nos montes do concelho de Ogrobe (Pontevedra) para aromatizar a auga (da noite) de São João. A tal carrasquilha (Thymus caespititius) é uma planta pequena da família das labiadas, como o tomelo ou a hortelã.

Fica ainda averiguar por que alguns portugueses decidirom chamar carrasco galego a uma planta com aspecto de azinheira anã (na península ibérica, fora da Serra da Arrábida, Quercus coccifera é normalmente um pequeno arbusto) e que aliás não vive na Galiza.
Abrazinhos

josé cunha-oliveira disse...

Miguel,
gostei muito do teu Comentº. quando me referi a nacionalismos ridículos e obsoletos referia-me aos nacionalismos da banda de cá, daqueles que vêem na aproximação Galiza -Portugal ou no Acordo Ortográfico, para só falar destes dois casos, uma ameaça à identidade nacional. que identidade nacional? a de um rectângulo de 89 000 km2, isolado, dialectificado, orgulhosamente só, como dizia Salazar? penso que Portugal pode e deve ter um papel bem mais importante que essa mediocridade. Com o Brasil e a Galiza, Portugal é um dos três pólos fulcrais da Fala, não é o único nem o dono dela. uma postura isolacionista prejudica gravemente os próprios interesses da Fala em África e no resto do Mundo.
referia-me a esses nacionalismos.
quanto ao resto, aceito com prazer a tua "maneira expressamente amigável" e tamém só disse que estavas a "meter-te comigo" por brincadeira. como não podia deixar de ser. foi,aliás, uma boa ocasião para esclarecer a história do saudosismo...
quanto aos carrascos, carvalhos, sardões e azinheiras, estamos esclarecidos. existe uma certa sobreposição de designações que não ajudam o entendimento. e a Toponímia reflecte tamém essa sobreposição. a que poderemos agarrar-nos? mais uma vez, às designações populares locais.
só uma notinha sobre Napoleão: se no início do séc. XIX uma figura política mundial como Napoleão Bonaparte conhecia a identidade cultural, étnica e linguística entre a Galiza e Portugal, ao ponto de tencionar reuni-los numa nova entidade política, é porque essa identidade é fácil de reconhecer por quem a vê de fora e é porque tem resistido a todas as vicissitudes históricas. de resto, a minha identificação com Napoleão termina aqui.
Miguel,
um grande abraço e volta sempre.

x disse...

Saúdos Viajante.
Obrigado pela sua dedicaçào, e contributo à toponímia.
Eu queria comentar que na zona central da Galiza, ao redor de Sobrado dos Monges, o nome de Carrasco é para o que noutros lugares se chama acevinho, acivro, acivo ou xardom (este último nome na zona do Zebreiro) ,Ilex aquifolium.
Quero que observem, que tanto o Ilex aquifolium, o Quercus rotundifolia (Q.ilex), e mais o Quercus coccifera, teem folhas muito similares, com bordo espinhento.
Seria muito concluir que car-rasco, num hipotético idioma pré-romano, descreveria este tipo de folha?
E assim todos os vegetais começados por "car" ?

josé cunha-oliveira disse...

"o que ouço por aí" é um excelente blogue, que passo a referenciar.
continue, por favor.
e obrigado por mais esta achega

Anônimo disse...

Obrigada por partilhar o seu conhecimento;
Fiquei especialmente curiosa como o nome Carrascal de Alvide porque em tempos recordo-me de ler que a origem do nome vinha de "cascalho"; devo ter feito confusão
Cump´
Ana Madeira