quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

álamos, choupos, faias e amieiros

do género Populus, o choupo, pópulo ou álamo, lamagueiro ou lamigueiro, pertence à família das Salicaceae, como o salgueiro. mas é uma árvore monóica, isto é, a mesma árvore tem flores masculinas e femininas.
na Antiguidade, o choupo era a porta de entrada no Reino dos Mortos. árvore consagrada a Héracles, ou Hércules, que simboliza a vitória do Homem sobre as suas fraquezas. sempre que Héracles descia aos Infernos, levava uma coroa de raminhos de choupo. árvore ligada ao mundo dos Infernos ou dos mortos, está associada ao sacrifício, à dor, às lágrimas, às recordações e ao passado.
Napoleão introduziu o choupo negro em França, no ano de 1745, e mandou plantá-lo ao longo das estradas francesas, a fim de evitar que as suas tropas marchassem sob a torreira do sol, no verão, e pudessem orientar-se melhor nos nevões do inverno.

destacam-se as espécies:

populus alba - choupo branco, alvar, faia branca ou amieiro
populus nigra - choupo negro ou olmo negro
populus canescens - choupo cinzento ou álamo cinzento

populus tremula
- choupo tremedor ou faia preta


os termos "amieiro" e "faia" aqui utilizados prestam-se a confusão com o verdadeiro amieiro (alnus glutinosa) e a verdadeira faia (género fagus). para ajudar à dificuldade, tamém o olmo ou ulmeiro (ulmus glabra) pode ter o nome de "lamagueiro" ou "lamigueiro", tal como o choupo. como já vimos, é frequente a sobreposição de designações das espécies arbóreas, sobretudo na fala popular. mas esta é que decide o destino dos topónimos.


Alameda - frequente na toponímia urbana. indica um corredor de árvores, nem sempre de álamos

Álamo
Álamos
Álamos Bravos
Alvares
Ameal (Pt. e Gz.)
Amiais
Amial (Pt. e Gz.)
Amial de Baixo
Amiar - ?
Amieira
Amieirinho
Amieiro
Amieirões
Amiosa
Amioso
Amioso Cimeiro
Amioso do Senhor
Amioso Fundeiro
Campo dos Amieiros (Gz.) - ver Comentºs
Choupal
Choupalinho
Choupos

Convento do Pópulo - em Braga, o seu nome deriva do hagiónimo Santa Maria del Popolo, na Piazza del Popolo (aparentemente: "Praça do Povo"), em Roma.
à primeira vista, pois, sem qualquer relação com "choupo".
o curioso é que, segundo a lenda, a Igreja romana de Santa Maria del Popolo teria sido construída onde antes havia uma nogueira habitada pelo fantasma do Imperador Nero, que tinha morrido naquele lugar. o Papa Pascoal II mandou derrubar a árvore, queimá-la e jogar as cinzas no Rio Tibre. e no local mandou erigir uma capela, que o Papa Gregório IX fez depois substituir pela actual igreja de Santa Maria del Popolo. demasiado trabalho, sem dúvida, para tão mau sítio.
esta lenda, com passos incompreensíveis à interpretação literal, parece esconder a substituição de um poderoso culto da árvore (choupo?) por uma árvore de mau agoiro (nogueira) e, posteriormente, por um culto cristianizado. o trocadilho "choupo"-"povo" (popolo) ajudaria a esconder o culto primitivo.
de qualquer modo, existe uma versão mais "piedosa" da fundação da igreja de Santa Maria del Popolo, segundo a qual a população de Roma (il popolo) a teria construído às sua próprias custas, em acção de graças pela intervenção da Virgem del Popolo na tomada do Santo Sepulcro, na Terra Santa.
esta versão, porém, tem os seus quês: ao chamar a atenção para o Mediterrâneo Oriental (a Terra Santa), lembra-nos que a nogueira tinha sido trazida do Mediterrâneo Oriental para a Europa pelos exércitos dos imperadores romanos. isto é, uma árvore que, de certo modo, veio usurpar o lugar de outras.
da relação nogueira-choupo fala o refrão galego: "cravos da nogueira dán cagaleira; os de choupo, boa xeira".


Faial
Fonte do Choupo
Foz do Amieirinho
Foz do Amieiro
Lamigueiro Novo (Gz.) - ver "Lodeiro"

Lodeiro (Pt. e Gz.) - creio que os topónimos com este nome, tal como acontece com "Lamagueiro" e "Lamigueiro", se referem à árvore e não ao lodo ou à lama. certo é que os choupos têm os nomes de "lamagueiro" e "lodeiro" por gostarem de terrenos úmidos.

Lodeiro de Baixo
Lodeiro de Cima
Lodões

Nossa Senhora do Pópulo - nas Caldas da Rainha. ver "Convento do Pópulo"

O Lodeiro (Gz.)
Paplemont (CH, Fr.)

Pible, Puble, Publet, Publey, Publiet,. Publo, Publoz, Publy (Fr.) - todos estes topónimos franceses se referem ao populus ou choupo

Poplar (Ing., EUA)
Poplar Bluff (EUA)
Pópulo
Praia do Pópulo (Aç.)
Ribeiro do Ameal (Gz.)
Rua do Lamigueiro (Gz.)
Trémoulède (Fr.) - de populus tremula, ou choupo tremedor
Vale de Choupos
Villers le Peuplier (Be.)
Volta dos Choupos

5 comentários:

Anônimo disse...

Caro Viajante

É pouco provável que em Portugal aos choupos se apliquem os nomes "amieiro", "lamegueiro" e "lódão", que por aqui se associam, biunivoca e respectivamente, aos Alnus, Ulmus e Celtis.
É o que poderemos confirmar nas obras (razoavelmente completas) de Fátima Rocha "Nomes vulgares de plantas existentes em Portugal" [Direcção-Geral de Protecção das Culturas, ISSN O870-9327] e João Pinho "As árvores na toponímia portuguesa" [in "Floresta e sociedade. Uma história em comum", LPN/Público/FLAD, ISBN 978-989-619-104-7].
Tal só será possível na raia galego-portuguesa, uma vez que na Galiza de facto essas "confusões" ocorrem, como se constata em Ricoi & Silvar "Guía das Árbores de Galicia" [Baía Edicións, ISBN 84-89803-75-7] e Navaza Blanco "Fitotoponimia galega" [Fundación Pedro Barrié de la Maza, ISBN: 84-95892-53-7].

Um abraço

Gundibaldo

josé cunha-oliveira disse...

é certo que "lamagueiro e "lamigueiro" são nomes mais frequentes na raia e na Galiza para designar o "choupo".
mas também encontrei "lamagueiro" por olmo e outras sobreposições.
seja como for, o blogue dedica-se à toponímia galego-portuguesa e brasileira e não apenas à portuguesa.
sempre bem vindo.
um abraço.


PS: encontrei esta maravilha em fala de Vigo, que traduz muito bem o destino dos choupos nos dias de hoje:

"Dez Lamagueiros
Enverdecían Rosalía
Chegou o concello
e só quedaron nove.

Nove lamagueiros
Lareaban ó vento
Chegou o concello
e só quedaron oito.

Oito lamagueiros
Competian outos,
con capirotes e peinetas
Chegou o concello
e só quedaron sete.

Sete lamagueiros
Protexen ribeiras
abrigan do vento
pero na cidade levantan o pavimento
Chegou o concello
e só quedaron seis.

Seis lamagueiros
medraban cara á Lua,
case o ritmo
dos edificios da rúa.
Chegou o concello
e só quedaron cinco.

cinco lamagueiros
puntisecos, afectados ou algo así.
(din que incluso eran vexetais)
Chegou o concello
e só quedaron catro.

catro lamagueiros
de follas de branco enves,
non son cocoteiros luminosos
Chegou o concello
e só quedaron tres.

tres lamagueiros
teñen raices superficiais
(¿e quen en Vigo non as ten?)
Chegou o concello
e só quedaron dous.

Dous lamagueiros
imolos tunear
(¿ou era podar?)
Chegou o concello
e só quedou un,

Un lamagueiro
él so alí chantado,
pantasmal,
queda moi mal
Chegou o concello
e non quedou nengun".

(Cadernos de Vigo)

Anônimo disse...

Olá,

essas "confusões" occorrem com muita mais frequência nos Guias de Flora galega (que herdam erros de guias precendentes)que na fala popular. Os paisanos galegos (em geral) não confundem nunca o amieiro ou ameneiro com o choupo, nem com o lamagueiro. Por certo, para o género Ulmus o nome mais comum é negrilho. Porém, há nomes de árvores que tiverom mais fortuna nos guias por semelharem "mais galegos", embora sejam os menos utilizados. É caso de lamagueiro e também o de "pradairo" (género Acer), do latim Platanarium, que apenas foi recolhido numas poucas localidades centro-orientais da Galiza e agora é hegemónico nas obras sobre o tema.

abraços

josé cunha-oliveira disse...

sei que sim.
o teu Comentº é muito esclarecedor.
no entanto, o fenómeno da sobreposição de designações em fitotoponímia tem sido referido por estudiosos.
abraços.

Anônimo disse...

Campo dos Amieiros en Xacebás, Ourense; Jacebanes, Orense