"Páramo" e derivados (Paraimo, Parâmio, Páramos) é um vocábulo derivado do latim "paramus", que se refere a una superfície plana, pouco fértil ou desértica; charneca. também designa sítios que não oferecem proteção ou abrigo.
bem-vindo!.....por que é que a sua terra se chama...?..(blogue de apontamentos).........................direitos reservados. proibida a cópia ou reprodução sem autorização expressa do autor.
sexta-feira, 21 de outubro de 2016
quinta-feira, 2 de junho de 2016
Misarela ou Mijarela
lendo o terceiro volume de "Investigação da Etymologia ou Proveniência dos Nomes das Nossas Povoações", de Pedro Augusto Ferreira, "bacharel formado Teologia, continuador de Portugal Antigo e Moderno, e abbade de Miragaia aposentado", de 1915, vejo, a propósito de Misarela:
"todas as nossas Misarellas e Mijarellas são quedas d'agua naturaes — algumas lindissimas, de grande altura e grande força".
nem tudo o que o autor escreve se diz, mas aqui parece-me ter razão. as Misarelas ou Mijarelas relacionam-se com quedas de água. é como se a Natureza mijasse. e, então, a grafia deverá ser "Misarela", com um "s" viseense, e não "Mizarela".
assim, na Serra da Freita, na montante das águas do rio Caima, há uma queda de água de grande altura (60 metros) a que chamam a "Frecha da Mijarela" ou "Frecha da Misarela".
havia até uma cantiga popular que rezava assim:
"a Frecha da Mijarela
tão alta está ela,
deixai-a lá 'star.
q' os fidalgotes do Porto
por ser água boa,
q'riam-na encanar".
domingo, 22 de maio de 2016
Arco do Cego
vou frequentemente a Lisboa e não raramente estaciono no Jardim do "Arco do Cego". sempre me fez espécie tal nome. onde estaria esse arco, que já lá não está, e que cego tão famoso seria esse?
do arco há notícia. não do seu nascimento, mas da sua morte.
em setembro de 1742 foi ali demolido um arco para que pudesse passar a carruagem do rei D. João V, em viagem para as Caldas da Rainha, onde iria curar-se a banhos termais.
em setembro de 1742 foi ali demolido um arco para que pudesse passar a carruagem do rei D. João V, em viagem para as Caldas da Rainha, onde iria curar-se a banhos termais.
o arco foi demolido mas o rei acabou por preferir um bergantim e ir rio acima até Vila Nova da Rainha, no concelho da Azambuja, e daí seguir para as Caldas as 28 milhas restantes..
do "cego" é que não há notícia, pelo menos de que eu tenha conhecimento.
da última vez que lá estacionei verifiquei uma pequena diferença na designação do parque. em lugar de "Arco do Cego" dizia agora "Arco Cego".
pensei: "é dessas modernidades de tirar os 'des' às palavras compostas, tão do agrado das parangonas de jornais e telejornais.
"nã !" - pensei, depois, melhor. isto até que faz sentido: "arco cego" existe, "arco do cego" é que é mais difícil.
e então o que vem a ser um "arco cego"? é um arco que por necessidade posterior à sua constrção, ou por qualquer outro motivo, foi fechado com pedra ou qualquer outro material de construção, de jeito que já nada se pode ver através dele.
fica também mais compreensível por que houve que o demolir para passar o rei, que, afinal de contas, não passou.
e serve esta estória para compreender as voltas que os nomes dão. sobretudo quando a sua história já não é conhecida das pessoas residentes.
hemos de convir que "Arco do Cego" tem mais poesia, mais magia, sei lá. mas "Arco Cego" é o que faz sentido prático.
hemos de convir que "Arco do Cego" tem mais poesia, mais magia, sei lá. mas "Arco Cego" é o que faz sentido prático.
quinta-feira, 19 de maio de 2016
Buçaco
Buçaco é uma floresta montanhosa da freguesia do Luso, concelho da Mealhada. no século X, em doação de Gundesindo ao mosteiro de Lorvão, era grafado como "Mons Buzaco" e "monte Buzacco" - "o monte Buçaco". diz-se na doação que o monte era "nuncupato Buzacco", isto é, "oralmente chamado Buçaco".
a sua etimologia tem sido alvo das mais cómicas invenções, que me abstenho de mencionar.
um dia. em passeio pela França do sudoeste, encontrei dois topónimos "Bussac", na Dordogne: Bussac-sur-Charante e Bussac-Forêt. na origem destes topónimos está um termo celta (um povo ou uma pessoa) com a terminação genitiva (Bucci-acum): "terra de..." ou "terra dos...". e, apesar de a etimologia pedir um "ç" ou um "z", também em França, como em Portugal, a grafia nem sempre segue a etimologia.
certo é que Buçaco é um topónimo muito antigo em Portugal, mesmo dos mais antigos.
e não há dúvida de que, se a etimologia for também a de Bucci-acum, a grafia adequada deve ser Buçaco.
a sua etimologia tem sido alvo das mais cómicas invenções, que me abstenho de mencionar.
um dia. em passeio pela França do sudoeste, encontrei dois topónimos "Bussac", na Dordogne: Bussac-sur-Charante e Bussac-Forêt. na origem destes topónimos está um termo celta (um povo ou uma pessoa) com a terminação genitiva (Bucci-acum): "terra de..." ou "terra dos...". e, apesar de a etimologia pedir um "ç" ou um "z", também em França, como em Portugal, a grafia nem sempre segue a etimologia.
certo é que Buçaco é um topónimo muito antigo em Portugal, mesmo dos mais antigos.
e não há dúvida de que, se a etimologia for também a de Bucci-acum, a grafia adequada deve ser Buçaco.
sábado, 7 de maio de 2016
Reguenga, Reguengo, Reguengos
Reguenga, Reguengo, é uma terra ou lugar que está diretamente na dependência do rei, que pertence ao rei,
propriedade real.
Há inúmeros
Reguengos em Portugal:
O Reguengo
Reguenga
Reguengo (Pt. e Gz.)
Reguengo da Parada
Reguenga
Reguengo (Pt. e Gz.)
Reguengo da Parada
Reguengo de Oeiras
Reguengo do Alviela
Reguengo do Fetal - pronuncia-se "Reguengo do Fètal"
Reguengos de Monsaraz
Reguengo Grande
Reguengo Pequeno
Reguengo Pequeno
Em 1832 Mouzinho da Silveira extinguiu todos os reguengos em Portugal,
ficando para sua memória os topónimos.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2015
Pé
"na toponímia, a palavra "Pé" aparece com dois significados: "sopé", "parte de baixo", como em
Pé da Cabeça do Bom Dia,
Pé da Costa - o mesmo que "sopé da encosta"
Pé da Ladeira,
Pé da Serra,
Pé do Cerro,
Vinha do Pé;
e "junto de", "ao pé de", como em
Pé da Cruz,
Pé da Igreja
Pé da Veiga.
há ainda o topónimo "Pé de Cão", em Coimbra e em Torres Novas, o qual, provavelmente, não tendo que ver nem com uma coisa nem com outra, se deve a uma deturpação gráfica: será "Pèdecão"? outro tanto se diga da "Quinta do Pé à Mão". será "Pèàmão"?
Pé da Cabeça do Bom Dia,
Pé da Costa - o mesmo que "sopé da encosta"
Pé da Ladeira,
Pé da Serra,
Pé do Cerro,
Vinha do Pé;
e "junto de", "ao pé de", como em
Pé da Cruz,
Pé da Igreja
Pé da Veiga.
há ainda o topónimo "Pé de Cão", em Coimbra e em Torres Novas, o qual, provavelmente, não tendo que ver nem com uma coisa nem com outra, se deve a uma deturpação gráfica: será "Pèdecão"? outro tanto se diga da "Quinta do Pé à Mão". será "Pèàmão"?
sábado, 31 de outubro de 2015
Por Deus
o Dr. Rui Eduardo Dores Jesuíno, deputado da Assembleia Municipal de Évora e deputado da Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo, tendo feito a listagem completa dos topónimos do concelho de Elvas, questiona-me sobre o significado do topónimo "Figueira de Por Deus", que encontrou na zona de Elvas. de facto, no Alto Alentejo, mais propriamente na região de Elvas, existiu e existe o topónimo "Por Deus", sob a forma de "Figueira de Por Deus", e em Monforte, Portalegre, sob a forma de "Herdade de Por Deus", sobre Figueira já me pronunciei em postagem anterior.
quanto a "Por Deus", é melhor não levar à risca a grafia oficial e fixar-nos na fonética. nesse caso, teremos "pordeus". a palavra e, se calhar, o topónimo só ganham com isso. em primeiro lugar, encontro o nome Pordeus como nome de família, sobretudo no Nordeste brasileiro, designadamente na Paraíba e no Ceará. nome que é, muito provavelmente, de origem portuguesa, alto-alentejana e de origem toponímica, sendo certo que houve, em tempos idos, movimentos migratórios de cá para lá que o justificam.
quanto a "Por Deus", é melhor não levar à risca a grafia oficial e fixar-nos na fonética. nesse caso, teremos "pordeus". a palavra e, se calhar, o topónimo só ganham com isso. em primeiro lugar, encontro o nome Pordeus como nome de família, sobretudo no Nordeste brasileiro, designadamente na Paraíba e no Ceará. nome que é, muito provavelmente, de origem portuguesa, alto-alentejana e de origem toponímica, sendo certo que houve, em tempos idos, movimentos migratórios de cá para lá que o justificam.
sendo, pois, o topónimo "Pordeus" e não "Por Deus", levanta-se a questão de saber o que significa "Pordeus".
o topónimo é provavelmente uma variante dialetal de Paradelos/ Par'delos, ou de Paredelos, topónimos que se encontram em vários lugares da Galiza, de Ponte Vedra ao Berço, e no norte de Portugal. as variantes dialetais podem incluir "Pardeos"/ "Pardeus".
a troca da vogal "a" por "o" pode suceder sobretudo no galego-português meridional, como é o caso, aqui em Coimbra, de "Coselhas" no lugar de "Caselhas".
assim sendo, o que vêm a ser os "paradelos" ou os "paredelos"? no primeiro caso, podem ser locais onde era habitual colocar-se certas redes para apanhar peixes em rios - o que impõe a presença desse rio ou ribeiro no local; no segundo caso, tratar-se-ia de lugares já há muito abandonados, onde, quando foram (re)povoados, os novos habitantes neles encontraram paredes ou vestígios delas - o que chamaríamos vestígios arqueológicos.
no caso da passagem gráfica de "Pordeus" a "Por Deus" trata-se claramente da perda do significado original do topónimo e sua substituição por outro mais "compreensível" em época posterior..
no caso da passagem gráfica de "Pordeus" a "Por Deus" trata-se claramente da perda do significado original do topónimo e sua substituição por outro mais "compreensível" em época posterior..
quinta-feira, 1 de outubro de 2015
gândara e granja (Pt., Gz. e Br.)
por "Gândara" entende-se um terreno baixo, sem cultivo e cheio de matagal; terreno arenoso pouco produtivo; charneca; terra chã encharcadiça. existe também a variante "Gandra" (Pt. e Gz.) e os diminutivos "Gandarela" (Pt. e Gz.) e "Gandarinha" (Pt. e Gz.).
por "Granja" entende-se uma pequena propriedade agrícola; quinta ou fazenda, chácara, rancho; propriedade onde se faz a exploração industrial de aves, sobretudo galinhas (Br.);celeiro. existem também os diminutivos "Granjinha" e "Granjola". há muitíssimas "Gândaras" e "Granjas", seja em Portugal, na Galiza e no Brasil.
exemplos de Gândaras e de Granjas::
A Gândara (Gz.) - graf. altern. "A Gándara"
A Gândara de Guilharei (Gz.) - graf. altern. "A Gándara de Guillarei"
A Granja (Gz.) - graf. altern. "A Granxa"
Amoreira da Gândara
Fonte da Gândara (Gz.) - graf. altern. "Fonte da Gándara"
Gândara (Pt. e Gz.)
Gândara de Budinho (Gz.) - graf. altern. "Gándara de Budiño"
Gândara de Espariz
Gândara de Montedor
Gândara de Olivais (Br.)
Gândara dos Olivais
Gandarela
Gandarela de Basto
Gandarinha (Pt. e Gz.) - graf. altern. "Gandariña"
Gandarinhas (Pt. e Gz.) - graf. altern. "Gandariñas"
Gandra (Pt. e Gz.)
Granda (Pt., Gz. e Ast.)
Grandela (Gz.)
Granja de Ançã
Granja de Meanho (Gz.) - graf. altern. "Granxa de Meaño"
Granja do Gesto (Gz.) - graf. altern. "Granxa do Xesto".
Granja do Ulmeiro
Granjinha
Granjola (Pt. e Gz.)
Moinhos da Gândara
Praia da Granja
Salvador de Gandarela
São Martinho da Gândara (Br.)
São Martinho da Gandra
Serra da Gandarela (Br.)
este post retoma dois anteriores, de 5 e 6 de outubro de 2006, sob os títulos, respetivamente, de "A Gândara" e "A Granja"
por "Granja" entende-se uma pequena propriedade agrícola; quinta ou fazenda, chácara, rancho; propriedade onde se faz a exploração industrial de aves, sobretudo galinhas (Br.);celeiro. existem também os diminutivos "Granjinha" e "Granjola". há muitíssimas "Gândaras" e "Granjas", seja em Portugal, na Galiza e no Brasil.
exemplos de Gândaras e de Granjas::
A Gândara (Gz.) - graf. altern. "A Gándara"
A Gândara de Guilharei (Gz.) - graf. altern. "A Gándara de Guillarei"
A Granja (Gz.) - graf. altern. "A Granxa"
Amoreira da Gândara
Fonte da Gândara (Gz.) - graf. altern. "Fonte da Gándara"
Gândara (Pt. e Gz.)
Gândara de Budinho (Gz.) - graf. altern. "Gándara de Budiño"
Gândara de Espariz
Gândara de Montedor
Gândara de Olivais (Br.)
Gândara dos Olivais
Gandarela
Gandarela de Basto
Gandarinha (Pt. e Gz.) - graf. altern. "Gandariña"
Gandarinhas (Pt. e Gz.) - graf. altern. "Gandariñas"
Gandra (Pt. e Gz.)
Granda (Pt., Gz. e Ast.)
Grandela (Gz.)
Granja de Ançã
Granja de Meanho (Gz.) - graf. altern. "Granxa de Meaño"
Granja do Gesto (Gz.) - graf. altern. "Granxa do Xesto".
Granja do Ulmeiro
Granjinha
Granjola (Pt. e Gz.)
Moinhos da Gândara
Praia da Granja
Salvador de Gandarela
São Martinho da Gândara (Br.)
São Martinho da Gandra
Serra da Gandarela (Br.)
este post retoma dois anteriores, de 5 e 6 de outubro de 2006, sob os títulos, respetivamente, de "A Gândara" e "A Granja"
sexta-feira, 14 de agosto de 2015
fitotopónimos verdadeiros
tenho-me ocupado dos falsos fitotopónimos, como "Carvalho", "Castanheira", "Oliveira", Pereira", "Pereiro", "Pessegueiro" ou "Pecegueiro", "Pinheiro", "Sobreira", "Sobreiro" e muitos outros.
aqui interessam-me agora os fitotopónimos autênticos, aqueles que estão realmente relacionados com a presença de alguma vegetação especial.
aqui vão alguns fitotopónimos:
Alfena - lugar onde existe o alfeneiro ou ligustro (árabe al-henna), planta usada em tinturaria artesanal e em tatuagens e cosmética. embora haja quem avance outra etimologia para este topónimo português nortenho, único no país, a existência dos topónimos Alheña e Alhena em Espanha favorece largamente a hipótese fitonímica.
Amial - lugar onde abunda o amieiro
Amieira -
A Seiceira - ver Asseiceira
Asseiceira - lugar de salgueiros (de "salix" - salgueiro)
Azinhal - lugar onde abunda a azinheira ou azinho
Azinhal de Martim Longo -
Caminho das Piteiras - ver Monte das Pitas
Caminho do Carqueijal (Gz.) - graf. altern. "Camiño do Carqueixal"
Carqueijais -
Carqueijal - lugar onde abunda a carqueija ou carqueja
Casal da Seiceira -
Amieira -
A Seiceira - ver Asseiceira
Asseiceira - lugar de salgueiros (de "salix" - salgueiro)
Azinhal - lugar onde abunda a azinheira ou azinho
Azinhal de Martim Longo -
Caminho das Piteiras - ver Monte das Pitas
Caminho do Carqueijal (Gz.) - graf. altern. "Camiño do Carqueixal"
Carqueijais -
Carqueijal - lugar onde abunda a carqueija ou carqueja
Casal da Seiceira -
Castinçal - lugar onde abundam castanheiros bravos
Choupal - lugar plantado com choupos
Faial - lugar onde abundam as faias
Feiteira - lugar onde abundam fetos
Felgueira - lugar ode abundam fetos
Felgueiras - ver Felgueira
Filgueira (Gz.) - ver Felgueira
Fenteira (Gz.) - lugar onde abundam fetos
Filgueira (Gz.) - ver Felgueira
Fenteira (Gz.) - lugar onde abundam fetos
Fetal - pronúnc. Fètal. lugar onde abundam fetos
Feteira - pronúnc. Fèteira. lugar onde abundam fetos
Fonte da Asseiceira -
Granja do Ulmeiro - ver Ulmeiro
Lentisqueira - lugar onde abunda o lentisco ou pistácio (também pistacho)
Fonte da Asseiceira -
Granja do Ulmeiro - ver Ulmeiro
Lentisqueira - lugar onde abunda o lentisco ou pistácio (também pistacho)
Linhaceira - terrenos onde se cultiva o linho, sobretudo para obtenção da semente ("linhaça")
Linhares (Pt., Gz. e Br.) - terrenos onde se cultiva o linho. graf. altern. "Liñares".
no Brasil e em algumas regiões fora do espaço continental português (exº Açores), o topónimo "Linhares" pode estar relacionado ou com uma transposição de um "Linhares" metropolitano ou com a atribuição do apelido de família de um senhor da região.
Linhares da Beira -
Linhares de Cima -
Linhares do Monte -
Madeira - de "mateira", lugar de muito mato, matagal.
Monte das Pitas - pita é o mesmo que piteira.
Monte do Azinhal -
Murta -
Murtal - lugar onde abunda a murta
Murtede - ver Murtal
Murteira -
Murteirinha -
Murtinheira -
Murtosa - ver Murtal
O Rosal (Gz.) -
Pampilhosa - lugar onde abundam os pampilhos, plantas da família das Asteraceae, como a marcela e o girassol
Pampilhosa do Botão -
Pampilhosa da Serra -
Parral -
Parreiral -
Piteira (Pt. e Gz.) -
Quinta do Rosal -
Rego da Murta -
Reguengo do Fetal -
Rosal (Pt. e Gz.) -
Rosmaninhal - lugar onde abunda o rosmaninho
Rua das Piteiras - ver Monte das Pitas
Salgueiros - ver Asseiceira
São João da Madeira - ver Madeira
Sazes - lugar de salgueiros. ver Asseiceira
Sazes da Beira -
Sazes de Lorvão -
Seiçal - ver Asseiceira
Seiceira -lugar de salgueiros. ver Asseiceira
Seixal - variante de Seiçal
Parral -
Parreiral -
Piteira (Pt. e Gz.) -
Quinta do Rosal -
Rego da Murta -
Reguengo do Fetal -
Rosal (Pt. e Gz.) -
Rosmaninhal - lugar onde abunda o rosmaninho
Rua das Piteiras - ver Monte das Pitas
Salgueiros - ver Asseiceira
São João da Madeira - ver Madeira
Sazes - lugar de salgueiros. ver Asseiceira
Sazes da Beira -
Sazes de Lorvão -
Seiçal - ver Asseiceira
Seiceira -lugar de salgueiros. ver Asseiceira
Seixal - variante de Seiçal
Soito - o mesmo que Souto
Soutelo - forma diminutiva de Souto
Soutelo - forma diminutiva de Souto
Souto - lugar onde há muitos castanheiros enxertados (castanheiros mansos)
Soutocico - forma diminutiva de Souto
Telheiras - lugar com bosques de tílias
Ulmeiro - lugar onde cresce o ou um olmo
Vale de Linhares -
Vale do Rosal -
Vimeiro - lugar onde abunda o vime
Vimieiro - ver Vimeiro
Vimioso - ver Vimeiro
Vale de Linhares -
Vale do Rosal -
Vimeiro - lugar onde abunda o vime
Vimieiro - ver Vimeiro
Vimioso - ver Vimeiro
segunda-feira, 6 de julho de 2015
Belazaima e Belazeima
conheço duas Belazaima (ou melhor, Belasaima), no concelho de Águeda (Belazaima-a -Velha e Belazaima do Chão) e uma Belazeima (ou melhor, Belaseima), no contíguo concelho de Tondela, todas ligadas, direta ou indiretamente, ao rio Águeda.
o topónimo é, pois, muito restrito do ponto de vista geográfico e está ligado à água. trata-se de um topónimo muito antigo, diz-se que "anterior à nacionalidade" - o que em si mesmo pouco diz.
é difícil não o associar à deusa celta Belisama ou Belesama ("A Muito Brilhante"), equivalente da grega Atena e da romana Minerva.
era esposa ou companheira de Belenos, deus solar celta, responsável por topónimos portugueses como "Belém".
Belisama ou Belesama estava afeta aos lagos e rios, bem como ao fogo e à luz. o seu culto estava sobretudo desenvolvido na Gália e na Bretanha.
dito isto, é difícil não considerar este topónimo um nome celta de lugar, dedicado à "Muito Brilhante" deusa - a "Senhora da Luz", na terminologia cristã.
quaisquer outras hipóteses etimológicas são demasiado rebuscadas, umas, e fantasiosas, outras. e não se adaptam tão bem à geografia do local.
quaisquer outras hipóteses etimológicas são demasiado rebuscadas, umas, e fantasiosas, outras. e não se adaptam tão bem à geografia do local.
sexta-feira, 20 de março de 2015
Colcurinho
este topónimo dá nome a um lugar hoje despovoado e, muito próximo e
mais acima, ao cume de um monte da Serra do Açor, com 1242 metros de altitude,
onde, de acordo com várias lendas, terá existido um castro, hoje desaparecido
ou quase.
no monte do Colcurinho existe a capela da Senhora das Necessidades, ou
Senhora do Cabeço, em recinto onde terá existido o castro pré-romano, e onde
terá ocorrido a “aparição” da Virgem a uns pastores, no séc. XIV.
a vocação militar do lugar é "atestada" por várias lendas.
uma lenda liga o nome do cume do monte a um general romano e a
freguesia onde Colcurinho se situa, a Aldeia das Dez, é conhecida pela sua ligação à ocupação
romana, com aparecimento, entre outros vestígios e artefactos, de muitas e
variadas moedas do Império.
outra lenda, pelo contrário, diz que Colcurinho teria sido um
combatente nas hostes de Viriato.
uma outra lenda, ainda, refere que os “últimos mouros” se refugiaram num castro que tinham no Colcurinho. os de
Piódão arranjaram um estratagema para os expulsar: trouxeram todo o gado [ou
“muitas cabras cornudas”], enfeitado com mato e velas acesas nos chifres. o
chefe dos mouros, quando viu o aparato, disse: - fujamos que a montanha traz fogo e anda como se fosse viva!
“foi a última vez que os mouros
foram vistos na região”.
seja como for, parece claro que a memória popular conserva os ecos da
guerrilha celto-romana, ou, se quiserem, lusitano-romana.
também diz a lenda que no monte do Colcurinho terá sido construída uma
muralha como posto de observação e defesa.
diz-se que no lugar "apareceu" a imagem da Senhora das
Preces, hoje venerada num santuário no lugar de Vale Maceira, na mesma
freguesia de Aldeia das Dez, concelho de Oliveira do Hospital. no alto do monte
do Colcurinho encontra-se um cruzeiro onde está escrito: “apareceu aqui Nª. Sª.
das Preces ano de 1371”. Frei Agostinho de Santa Maria relata o aparecimento de
uma imagem de Nª. Senhora a uns pastores, que ao encontrarem a imagem a levaram
ao padre de Aldeia das Dez, o qual, em acordo com os paroquianos,
resolveu levá-la para a igreja paroquial.
mas a Senhora – como é habitual nestes casos – não queria ficar
ali, pelo que a imagem desapareceu, indo aparecer novamente no local onde fora achada. visto ser desejo da Virgem estar no cimo do monte, aí lhe
edificaram uma capelinha: a da Senhora do Cabeço ou das Necessidades.
sobre o topónimo em si, apesar de uma aparência bem "portuguesa", pouco ou nada se sabe. não há vestígios da sua
etimologia. só no romeno “culcus” se encontra semelhança fonética e,
provavelmente, semântica. a palavra significa “abrigo”, “refúgio”. e, se
calhar, não andará longe da verdade neste caso.
mas também pode tratar-se de uma palavra composta: col'+curinho e neste caso teremos "cole" ("colina", "outeiro") + cur' ("curvo", "corcovado", "redondo"). e aí teríamos, então, "Monte Redondo", "Moncorvo". certo é que Colcurinho é um "monte redondo". e mais não sei.
mas também pode tratar-se de uma palavra composta: col'+curinho e neste caso teremos "cole" ("colina", "outeiro") + cur' ("curvo", "corcovado", "redondo"). e aí teríamos, então, "Monte Redondo", "Moncorvo". certo é que Colcurinho é um "monte redondo". e mais não sei.
sábado, 14 de fevereiro de 2015
Paul e Oliveira (Pt., Cv., Gz. e Br.)
do latim "paludem" (charca), Paul é um terreno húmido e pantanoso, muitas vezes com charcas ou lagunas pouco profundas.
ambiente propício para a reprodução e instalação de certas aves, peixes e anfíbios.
é também um ambiente propício a insetos, nomeadamente mosquitos e destes o Anopheles, responsável pela transmissão do Plasmodio causador do paludismo ("doença ou febre dos pântanos").
alguns pauis:
Casal do Paul
Foros do Paul
Pauis (Br.)
Paul (Pt., Cv.)
Paúla
Paul da Praia da Vitória (Aç.)
Paul das Caniceiras
Paul da Serra (Mad.)
Paul das Lavouras
Paul das Salgadas
Paul das Senhoras Rainhas
Paul de Ancas
Paul de Arzila
Paul de Cima (Aç.)
Paul de Gouxa
Paul de Magos
Paul de São Facundo
Paul de Tornada
Paul de Trejoito
Paul do Boquilobo
Paul do Borquinho
Paul do Mar (Mad.)
Paul do Taipal
Paul dos Patudos - o mesmo que Paul de Gouxa
Paulinho
Rua dos Pauis
São Vicente do Paul
Vale do Paul (Cv.)
com significado muito próximo, temos as Ulveiras, Olveiras e Oliveiras, topónimos derivados do latim "ulvaria", que se refere a um terreno alagadiço, pântano, solo pantanoso ou terreno de lameiro, coberto de uma alga palustre - a ulva. este topónimo, nas suas variantes, é a origem de outros tantos sobrenomes: Ulveira, Olveira e Oliveira, que se encontram no diassistema linguístico galego-português.
algumas "ulvarias":
Cerro de Oliveira do Corvo
Oliveira (Pt. e Gz.)
Oliveira de Azeméis
Oliveira de Baixo
Oliveira de Barreiros
Oliveira de Frades
Oliveira do Arda
Oliveira do Bairro - foi chamada São Miguel de Ulveira.
Oliveira do Cerro
Oliveira do Conde
Oliveira do Douro - foi chamada Ulveira, depois Oliveira de Avintes, Oliveira de Santa Eulália, Oliveira de Cónegos, até se chamar Oliveira do Douro.
Oliveira do Hospital - foi chamada Ulveira do Espital
Oliveira do Mondego
Oliveira dos Brejinhos (Br.)
Oliveira dos Campinhos (Br.)
Oliveira dos Mortos
Oliveirinha
Olveira (Gz.)
Rua do Couto de Ulveira - em Oliveira de Frades
Santa Maria de Oliveira
Ulveira (Gz.)
bom, e estas "Oliveiras" são mais um dos muitos exemplos de convergência fonética para nomes comuns, no caso a árvore "oliveira", engrossando a lista de falsos "Fitotopónimos".
N.B: no caso das "Oliveiras" do Brasil, a sua origem advém da transposição do culto da Senhora da Oliveira.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015
Mota
muito anterior à existência de veículos motorizados ou mesmo de bicicletas, o topónimo "Mota" está associado a elevações naturais ou, sobretudo, artificiais. neste último caso, refere-se a mamoas de grande dimensão ou a terraplanagens de origem militar. significa, na sua origem germânica, "monte de terra". encontra-se em França, sob a forma Motte ou Mothe, na Inglaterra e na Escócia sob a mesma designação, na Itália sob a forma Motta e em Espanha com grafia igual à portuguesa. em algumas das "motas" está ou estava localizado um castelo.
também surge sob a forma diminutiva, como "Motilla", em Espanha, ou "Motinha", em Portugal. pelo menos, conheço a "Travessa da Motinha", em Mira d'Aire.
também surge sob a forma diminutiva, como "Motilla", em Espanha, ou "Motinha", em Portugal. pelo menos, conheço a "Travessa da Motinha", em Mira d'Aire.
algumas das "Motas" constituíam ou constituíam-se em propriedades fundiárias, mais ou menos extensas e importantes, que deram origem aos sobrenomes "Mota", "da Mota" e "de Mota", próprios dos seus terratenentes iniciais ou seus descendentes.
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
Airão e Pele / Pelhe / Peio
naquela época não havia carreiras de camionetas para todo o lado, nem carros senão os de bois, por isso o caminho fazia-se caminhando. assim, desde pequeno que passava a pé por São João e Santa Maria de Airão, a caminho de São Vicente de Oleiros, terra dos meus avós paternos.
hoje, as voltas e reviravoltas da política e das finanças fizeram reunir numa União de Freguesias as duas freguesias de Airão mais a freguesia de Vermil. e a própria São Vicente de Oleiros foi reunida na União de Freguesias de Leitões, Oleiros e Figueiredo. nada escapou ao podão e à cola de Miguel Relvas.
sobre a origem do topónimo "Airão", aventam-se duas hipóteses: a primeira, refere-se à possibilidade de ter-se tratado de uma "villa" (propriedade rústica) de um tal Árias ou Árila, de etnia celta ou germânica - hipótese pouco provável, já que o genitivo correspondente não permite a forma "Airão": a segunda - e quanto a mim a mais provável, senão definitiva - refere-se à presença de nascentes, fontes, grutas ou poços naturais profundos.
estas grutas e poços não raramente estão ligados a cultos xamânicos ancestrais, associados ao Paleolítico.
no período celta cultuou-se a divindade Airón / Aironis, ligada aos poços e abismos.
a presença de pontos de água é quase uma constante. de acordo com Alberto Lorrio, "numa percentagem elevada, este topónimo está relacionado com poços, lagunas, arroios ou fontes [...], outras vezes com grutas ou abismos".
o topónimo é bastante frequente na Península Ibérica, sob a forma Airão, Airón, Lairón, Airones, Eirós (forma plural) e os curiosos pleonasmos Pozo Airón, Pozairón e Cova Eirós (*).
o topónimo é bastante frequente na Península Ibérica, sob a forma Airão, Airón, Lairón, Airones, Eirós (forma plural) e os curiosos pleonasmos Pozo Airón, Pozairón e Cova Eirós (*).
no caso concreto que aqui nos traz, corre por Airão o rio Pele, um pequeno afluente do Ave. curiosamente, um pouco mais a juzante e em paralelo corre outro pequeno afluente do Ave, o rio Pelhe, evidentemente o mesmo hidrónimo, que significará "arroio", "regato" ou "ribeiro". por sua vez, o pequeno rio Peio, do mesmo étimo, corre no concelho de Cabeceiras de Basto e desagua no rio Tâmega, com o nome de "Rio do Ouro" (o mesmo que "douro", palavra de origem celta que significa "água").
é de notar que em França, no Jura, existe o Ruisseau de La Pèle (ribeiro de La Pèle). e Bazois, uma região do leste do Nivernais, é banhada pelo rio Aïron.
é de notar que em França, no Jura, existe o Ruisseau de La Pèle (ribeiro de La Pèle). e Bazois, uma região do leste do Nivernais, é banhada pelo rio Aïron.
(*) nota: na elaboração da parte que liga Airão a pontos de água, poços e abismos servi-me do post de Andregoto Galíndez, em:
http://arqueotoponimia.blogspot.com.es/2014/10/el-chaman-de-cova-eiros.html
http://arqueotoponimia.blogspot.com.es/2014/10/el-chaman-de-cova-eiros.html
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
Cadima
esta freguesia do concelho de Cantanhede já foi grafada Catina, Cadyma, Gadima, Katima e Kadima, aparecendo estabilizada a grafia Cadima a partir de 1140. parece geralmente aceite a etimologia árabe, de Qadimu - "[Aldeia] Velha". e muito velha será ela. porém, dada a forma "Catina" anterior, parece mais uma arabização de vocábulo pré-árabe, cujo significado se desconhece. a possibilidade de "Catina" ter uma relação com a "catina" romena, que se refere a um arbusto dunar, portanto indicando uma relativa proximidade do mar, não será de excluir, embora pareça um nome mais adequado a um local deserto do que a um sítio povoado.
domingo, 12 de outubro de 2014
Collipo
Collipo foi uma cidade romana (não quer dizer que "collipo" seja uma palavra latina).
situava-se nos limites dos atuais concelhos de Leiria e da Batalha, na Quinta de São Sebastião do Freixo, antigo Paço de Randulfo, num outeiro do lugar de Andreus, da freguesia de Barreira.
os de Leiria gostam de ligar-se à ideia de Collipo, fazendo-se descendentes da urbe romana.
porém, ao que julgo saber, da Collipo propriamente dita os leirienses apenas têm as pedras daquela cidade levadas, entre outros destinos, para a construção do castelo de Leiria.
povoada por Túrdulos, etnia pré-romana do extremo sul da Península, a cidade de Collipo dominava uma região abrangendo pelo menos partes dos concelhos de Leiria, Marinha Grande, Batalha, Ourém e Porto de Mós. ao que se diz, "collipo" é uma palavra híbrida, metade latina, metade túrdula, significando "castro do outeiro" ou "outeiro do castro".
que é como quem diz "Monte Castro", "Monte Crasto" ou "Castromonte".
segunda-feira, 16 de junho de 2014
orónimos ou nomes de montanhas
tal como os hidrónimos, os orónimos são topónimos primordiais. a nomeação dos lugares começa pelos elementos básicos da Natureza. e, por isso, têm a marca da língua do povo que primeiro os habitou. sem querer repetir o que já deixei em post anterior,
Açor
Aire
Alvão
Barroso
Bornes
Cabreira
Canda
Candeeeiros
Caramulo
Carvalho
Estrela
Freita
Gerês - ortografia mais correta: Jerês / Jurês.
Lapa
Larouco
Leomil
Lousã
Malcata
Marão
Marofa
Meira
Monchique
Montefigo
Montejunto
Montemuro
Montesinho
Nogueira
Ossa
Peneda
Queixa
Soajo
Açor
Aire
Alvão
Barroso
Bornes
Cabreira
Canda
Candeeeiros
Caramulo
Carvalho
Estrela
Freita
Gerês - ortografia mais correta: Jerês / Jurês.
Lapa
Larouco
Leomil
Lousã
Malcata
Marão
Marofa
Meira
Monchique
Montefigo
Montejunto
Montemuro
Montesinho
Nogueira
Ossa
Peneda
Queixa
Soajo
quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
Góis
Góis é uma vila do distrito de Coimbra, entre a Lousã e Arganil. há, porém, outras "Góis" na toponímia portuguesa, a maior parte das quais, se não todas, derivadas, referidas ou transpostas deste topónimo beirão. o mesmo se passa com as Góis existentes no Brasil.
o seu nome aponta para uma muito remota antiguidade.
há quem queira ver neste topónimo uma derivação do gótico "gauja": "o habitante de um pagus ou aldeia; aldeão". nesse caso, não se compreende a lógica de chamar a uma aldeia o nome que designa os seus habitantes. seria como querer chamar-lhe "A dos Aldeões", ou "A dos Vizinhos".
mais sentido faz a explicação do topónimo pela sua derivação basca ou ibera, que persiste na toponímia e na onomástica euskera, como em Goikoetxea / Goyeche / Goieche ("casa cimeira"). e nesse caso, ficaria atestada a antiguidade da povoação, que remontaria aos primórdios do povoamento peninsular. "goiko" significa "alto", "superior", "que está em cima".
e esta é uma constante toponímica, que se repete sob diversas formas, origens e evoluções linguísticas, como em Altinho, Cumeira, Outeiro, Pinheiro, Pinho, Sobral, Sobreira, Sobreposta, Susã.
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
o Abade nem sempre é padre
por muito estranho que hoje pareça, "Abade" em toponímia é um hidrónimo.
surge na toponímia galego-portuguesa sob as variantes dialetais Ba, Bade e Vade , sendo que o "Vade" português deverá ser uma hipercorreção de origem erudita em lugar de "Bade". pode, porém, haver contributos linguísticos muito diversos para resultados idênticos. no atual euskera "ibai" significa "ribeira". tem origem num anterior "bai", não sei se o mesmo que o "Bad". há quem veja esta raiz nos topónimos "Baião" e "Baiona".
não contente com ser um hidrónimo, cujo significado é o mesmo que "ribeiro" ou "córrego" ou "regueiro", Abade aparece em formas compostas de cariz pleonástico, como Ribeira do Abade, ou associado a palavras que indicam a natureza do "abade", como "Vale de Abade". o hidrónimo pleonástico "Abade de Neiva" é interessante pela presença de duas designações de "ribeiro" em línguas diferentes, sendo "Abade" pré-céltico e "Neiva", o mesmo que "Navia", um vocábulo celta.
exemplos de topónimos com "Abade":
Abad ou Abade (Gz.)
Abad ou Abade (Gz.)
Abade
Abade de Neiva - um pleonasmo, já que "Neiva" é o nome de um ribeiro que quer dizer exatamente "ribeiro, rio" (Inquirições de 1220 e 1250: "Abbade").
Abades - um plural que é uma espécie de "gato escondido com o rabo de fora", uma vez que não é comum haver mais que um abade na mesma abadia.
Abadia - como em "Senhora da Abadia". na Senhora da Abadia, Santa Maria de Bouro, Amares, corre o rio Nava (célt.=ribeiro, manancial), penso que esta "abadia" se refere ao ribeiro e não à Abadia de Bouro, pois que esta é posterior ao culto da "Senhora".
Abadias - plural que constitui mais um "gato escondido com o rabo de fora". à letra: "lugar onde correm regueiros ou regatos".
A Braña (ou Branha) da Fonte de Abade (Gz.)
A Devesa de Bade (Gz.)
A do Abade (Gz.)
A Fonte de Abade de Abaixo (Gz.)
A Lama do Abade (Gz.)
Abadias - plural que constitui mais um "gato escondido com o rabo de fora". à letra: "lugar onde correm regueiros ou regatos".
A Braña (ou Branha) da Fonte de Abade (Gz.)
A Devesa de Bade (Gz.)
A do Abade (Gz.)
A Fonte de Abade de Abaixo (Gz.)
A Lama do Abade (Gz.)
Bade (Gz.)
Cachoeira do Abade (Br.)
Campo de Abade
Cachoeira do Abade (Br.)
Campo de Abade
Casal do Abade
Dabades
Fonte do Abade
Dabades
Fonte do Abade
Ponte do Abade
Portela do Vade
Ribeira de Abade
Ribeira de Abadia
Souto de Abade
Ribeira de Abadia
Souto de Abade
Vade
Vale do Abade
Veiga de Abade (Gz.)
Vinha de Abades
nota: em geral, no Brasil, o topónimo "Abade" não tem esta etimologia ancestral. refere-se efetivamente a alguém que fez parte da estrutura eclesiástica, como "São Bento Abade", "São Pedro Abade", "Vila Santo Antônio Abade". já a "Cachoeira do Abade" não sei se não terá um "abade" galego-português.
Veiga de Abade (Gz.)
Vinha de Abades
nota: em geral, no Brasil, o topónimo "Abade" não tem esta etimologia ancestral. refere-se efetivamente a alguém que fez parte da estrutura eclesiástica, como "São Bento Abade", "São Pedro Abade", "Vila Santo Antônio Abade". já a "Cachoeira do Abade" não sei se não terá um "abade" galego-português.
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
120 000 visualizações.
hoje o Toponímia Galego-Portuguesa e Brasileira atingiu as 120 000 visualizações. isto apesar de o ritmo de publicação ter abrandado. é sem dúvida um estímulo a que continue e se aprofunde. obrigado a todos.
terça-feira, 24 de setembro de 2013
Picha
os habitantes desta aldeia do concelho de Pedrógão Grande, distrito de Leiria, divertem-se com o sentido brejeiro que pode ter a palavra que dá nome à sua terra. e, tanto quanto sei, já perderam a memória do seu significado original, o qual, assim o julgo, é claro como água.
de acordo com o Dicionário Estraviz, que nos é comum a portugueses e galegos, significa "órgão genital masculino" (fam.), é certo, mas também "fonte pequena que deita água". de facto, é possível que o nome da terra derive do segundo significado. a palavra "picha" tem, nesta aceção, as paralelas "picho" e "pichel", ambas associadas à ideia de água ou dispositivos que a recolham ou por onde ela escorre. ainda desta família, existe o "picheleiro", palavra do Norte de Portugal e da Galiza que designa aquele que faz recipientes de lata ou de estanho para água ou vinho. existe ainda a "picheira", que será o mesmo que "pichel", vasilha para tirar vinho das pipas ou caneca ou infusa de onde se bebe ou se tira o vinho para os copos.
de acordo com o Dicionário Estraviz, que nos é comum a portugueses e galegos, significa "órgão genital masculino" (fam.), é certo, mas também "fonte pequena que deita água". de facto, é possível que o nome da terra derive do segundo significado. a palavra "picha" tem, nesta aceção, as paralelas "picho" e "pichel", ambas associadas à ideia de água ou dispositivos que a recolham ou por onde ela escorre. ainda desta família, existe o "picheleiro", palavra do Norte de Portugal e da Galiza que designa aquele que faz recipientes de lata ou de estanho para água ou vinho. existe ainda a "picheira", que será o mesmo que "pichel", vasilha para tirar vinho das pipas ou caneca ou infusa de onde se bebe ou se tira o vinho para os copos.
fica também claro que "picha", no sentido brejeiro da palavra, está mais associada à ideia de órgão por onde sai a urina (a "água") do que, propriamente, ao sentido de órgão sexual.
Deste modo não se estranhe que as duas conotações se juntem frequentemente. é o caso do Manneken Pis, em Bruxelas.
em Lisboa há o "Jardim das Pichas Murchas", cujo significado é, agora, óbvio: "jardim das bicas (ou fontes) secas".
Deste modo não se estranhe que as duas conotações se juntem frequentemente. é o caso do Manneken Pis, em Bruxelas.
em Lisboa há o "Jardim das Pichas Murchas", cujo significado é, agora, óbvio: "jardim das bicas (ou fontes) secas".
domingo, 28 de julho de 2013
recordações do tempo dos castros
a toponímia conserva a recordação de lugares antigamente povoados, pertencentes à chamada "cultura castreja". alguns dos nomes fazem referência ao caráter sagrado do lugar (Cabeça Santa, Monsanto), outros ao númen divino que os protegia (Santa Luzia, Santa Tecla, Senhora da Cola, Santo Ovídio, São Miguel), outros à sua dimensão (Castelinho, Castro Maior) e outros ainda à sua antiguidade (Castro Verde).
mais resumidamente, já me referi a este tema numa postagem de 31 de agosto de 2006.
mais resumidamente, já me referi a este tema numa postagem de 31 de agosto de 2006.
aqui vão alguns topónimos, que irei acrescentando à medida que me ocorram:
Alto da Cividade
Alto do Circo
Cabeça Santa
Cabeço Cercado
Cabeço dos Mouros
Castelejo
Castelinho
Castelo
Alto do Circo
Cabeça Santa
Cabeço Cercado
Cabeço dos Mouros
Castelejo
Castelinho
Castelo
Castelo de Paiva
Castelo dos Mouros
Castelo dos Mouros
Castelo Rodrigo
Castêlo
Castêlo da Maia
Castelucho
Castendo
Castragosa
Castralhouço
Castelucho
Castendo
Castragosa
Castralhouço
Castrelo (Pt. e Gz.)
Castrelo do Val (Gz.)
Castrelos
Castrilhão
Castrelos
Castrilhão
Castro (Pt. e Gz.)
Castro da Cidá (Gz.)
Castro da Cidá (Gz.)
Castro d' Aire
Castro da Ponte
Castro de Avelãs
Castro de Barrega
Castro de Cabras
Castro de Lagarelhos
Castro de Ourilhe
Castro de Ovil
Castro de São Paio – recordação do númen padroeiro do castro (cristianizado)
Castro do Rei (Gz.)
Castro dos Mouros
Castro Mau
Castro Pedroso
Castro da Ponte
Castro de Avelãs
Castro de Barrega
Castro de Cabras
Castro de Lagarelhos
Castro de Ourilhe
Castro de Ovil
Castro de São Paio – recordação do númen padroeiro do castro (cristianizado)
Castro do Rei (Gz.)
Castro dos Mouros
Castro Mau
Castro Pedroso
Castro Laboreiro
Castro Maior
Castro Marim
Castromau – variante "Castromao" (Gz.)
Castro Maior
Castro Marim
Castromau – variante "Castromao" (Gz.)
Castromil (Pt. e Gz.)
Castroverde (Gz.)
Castro Verde
Cerca dos Mouros
Cidade Velha
Cerca dos Mouros
Cidade Velha
Cividade
Círculo
Citânia
Coroa
Coroas
Coronado
Crasto
Crestuma – de "castro do Úmia ou Uima", o ribeiro que lá passa.
Coroa
Coroas
Coronado
Crasto
Crestuma – de "castro do Úmia ou Uima", o ribeiro que lá passa.
Cristelo
Cristelos
Monforte
Monforte de Lemos (Gz.)
Monforte
Monforte de Lemos (Gz.)
Monsanto
Monte Castelo – pronúncia "Monte Castêlo"
Monte Castro
Monte Crasto
Monte da Saia
Monte de São Félix – recordação do númen padroeiro do castro (cristianizado)
Monte Mozinho – pronúncia "Monte Mòzinho"
Monte Murado
Os Castros (Pt. e Gz.)
Outeiro Maior
Penalba (Gz.)
Penalva d' Alva
Penalva do Castelo
Pena Mourisca
Santa Luzia – recordação do númen feminino padroeiro do castro (cristianizado)
Monte Castelo – pronúncia "Monte Castêlo"
Monte Castro
Monte Crasto
Monte da Saia
Monte de São Félix – recordação do númen padroeiro do castro (cristianizado)
Monte Mozinho – pronúncia "Monte Mòzinho"
Monte Murado
Os Castros (Pt. e Gz.)
Outeiro Maior
Penalba (Gz.)
Penalva d' Alva
Penalva do Castelo
Pena Mourisca
Santa Luzia – recordação do númen feminino padroeiro do castro (cristianizado)
Santa Tecla – recordação do númen feminino padroeiro do castro (cristianizado)
Santo Ovídio – recordação do númen padroeiro do castro (cristianizado)
Santo Ovídio – recordação do númen padroeiro do castro (cristianizado)
São Miguel-o-Anjo – recordação do númen alado padroeiro do castro (cristianizado)
Senhora da Cola – recordação do númen feminino padroeiro do castro
Senhora do Círculo – recordação do númen feminino padroeiro do castro
Senhora da Cola – recordação do númen feminino padroeiro do castro
Senhora do Círculo – recordação do númen feminino padroeiro do castro
Senhoras do Monte – recordação de uma trindade feminina que protegia o lugar
Terronha
Terronhas
Trá-lo-Crasto – "lugar que fica por detrás do castro", designação que se infere ter sido dada por povo do lado contrário
nota: aceito contributos para esta lista. obrigado.
Terronha
Terronhas
Trá-lo-Crasto – "lugar que fica por detrás do castro", designação que se infere ter sido dada por povo do lado contrário
nota: aceito contributos para esta lista. obrigado.
sexta-feira, 26 de julho de 2013
topónimo "Pessegueiro" e derivados: mais uma vez a pseudo-Fitotoponímia
o topónimo "Pessegueiro" é mais um daqueles habitualmente associados à ideia de Fitotoponímia, isto é, à noção de que se referirá ao nome de uma árvore ou às caraterísticas específicas da flora local. há quem se tenha apercebido das dificuldades levantadas por este topónimo, e em especial dos seus derivados e variantes como "Pexegueiro", Pexeiros, Pixeiros", etc., etc., e, acima de tudo, pela sua relação com a água (Ilha do Pessegueiro, Rio Pessegueiro, Rio Pexegueiro). daí que tenha sido associado à ideia de abundância de peixes. e, claro, daí a atribuir-se-lhe uma etimologia em "piscis" vai o passo de um pardal. mas peixes é o que mares e rios têm mais e nada faz crer que os locais chamados "Pessegueiro", ou seus derivados e variantes, tenham uma especial abundância em peixe que seja razão para o nome que têm. mais complicado, ainda, é o facto de estes topónimos terem formas anteriores em "Peshigeiro" e "Pecegueiro".
assim sendo, teremos que ir por outros caminhos. que, pelo menos, tenham mais lógica e plausibilidade.
outra coisa que os rios têm junto às povoações, para lá da carência ou abundância em peixe, é a maior ou menor possibilidade de serem atravessados a pé, a nado, de barco ou por cima de pontes. o que, em cada caso, merece a respetiva e adequada toponímia (Coiço, Couce, Couço, Vau, Barca, Barco, Ponte, etc.). e aí, indo pelo latim, mas por "pes/pedis (pé) e siccum/sicci (seco) ou ainda "sequor" (dirigir-se para, ir em direção a), sempre a coisa distingue melhor um local ou um rio dos restantes da mesma espécie.
estou, portanto, em crer que estes topónimos se referem a lugares onde é possível a passagem sobre as águas ou a águas que permitem que lhes passem a pé por cima.
Topónimos "Pessegueiro", derivados e variantes:
Ilha do Pessegueiro
Monte do Pessegueiro
Pessegueira (Gz.)
Pessegueiro (Pt. e Gz.)
Pessegueiro de Baixo - era "Peshigeiro" no séc. XVIII
Pessegueiro de Cima
Pessegueiro do Vouga - já foi "Pecegueiro"
Pexegueiro (Gz.)
Pexegueiros (Gz.)
Pexeiroos (Gz.)
Pexeiros (Gz.)
Pixeiros (Gz.)
Rio Pessegueiro
São João da Pesqueira (?)
Topónimos "Pessegueiro", derivados e variantes:
Ilha do Pessegueiro
Monte do Pessegueiro
Pessegueira (Gz.)
Pessegueiro (Pt. e Gz.)
Pessegueiro de Baixo - era "Peshigeiro" no séc. XVIII
Pessegueiro de Cima
Pessegueiro do Vouga - já foi "Pecegueiro"
Pexegueiro (Gz.)
Pexegueiros (Gz.)
Pexeiroos (Gz.)
Pexeiros (Gz.)
Pixeiros (Gz.)
Rio Pessegueiro
São João da Pesqueira (?)
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
Alavandeira, Lavandeira
os topónimos "Alavandeira" e "Lavandeira" aparecem na Galiza e no Norte e Centro de Portugal, sempre associados à presença de um pequeno ribeiro. são, por conseguinte, hidrónimos. a sua raiz "lav-" é a mesma de "lavar", pressupondo a ideia de "água corrente".
Pinhel, Espinhel
estes dois topónimos referem-se a localidades situadas em lugar que sobressai por ser mais elevado que os lugares em volta. derivam de "pino", ou "pinho", e "espinho", constituindo diminutivos com pronúncia galego-portuguesa meridional (moçarábica). um pouco mais nortenhos e seriam "pinhelo" ou, mais tarde, "pinheirinho" e "espinhelo".
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
Cubo
o topónimo "Cubo" é relativamente raro e encontra-se sobretudo na Galiza e no Norte e Centro de Portugal. pode ser uma construção em forma de cubo, habitualmente de pedra, ou uma pequena torre. e a sua função é funerária. representa o túmulo de alguém suficientemente importante na época para justificar o trabalho da sua construção.
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
género e toponímia
cada vez é maior a tendência para uma "uniformização" do critério de género na referência aos topónimos. tende-se a tratar como masculino todo o topónimo terminado em "o", independentemente da sua origem, significado e pronúncia ("ó" aberto, "o" átono ou "ô" fechado), e de tratar como feminino todo o topónimo terminado em "a". isto resulta, em primeiro lugar, de um desenraizamento absoluto, de uma falta de contacto com os naturais do lugar, aldeia ou vila, quando não de uma posição de sobranceria em relação a tudo o que seja a pronúncia popular, quase sempre considerada "corrompida" ou incorreta; em segundo lugar, do desconhecimento, por quem assim funciona, da origem etimológica e significado do topónimo.
de um modo geral, pode dizer-se que os topónimos correspondentes a nomes comuns (A Aveleira, A Bola, A Estrada, A Figueira, A Guarda, O Porto) têm género, masculino ou feminino conforme o caso. e que outros topónimos são neutros, seja qual for a sua terminação (Braga, Bragança, Chipre, Coimbra, Lisboa, Lorvão, Marvão, etc.).
na Galiza o costume, que já foi nosso também, de antepor o artigo definido facilita o esclarecimento de eventuais dúvidas (A Bola, A Corunha, A Estrada, A Guarda).
mas há exceções que só a prática da Língua e o seu conhecimento profundo poderão deslindar. o que não se obtém nas grandes cidades, povoadas de gente desenraizada e convencida da sua superioridade "cultural".
voltarei ao assunto.
voltarei ao assunto.
domingo, 13 de maio de 2012
Ásia
Ásia é uma palavra que para nós, os falantes da Língua Portuguesa, vem do Latim a partir do grego "Ασία". é pelo menos o que dizem alguns linguistas. pois, mas a palavra original também não é grega, e ficamos na mesma. na mitologia grega, Clímene ou Ásia é uma oceânide, filha do Oceano e da ninfa Tétis. mas, para lá de nos dizer que a terra Ásia emergiu do mar, como todas as outras, nada nos esclarece sobre a palavra "Ásia" em si. e, tal como em relação a "Europa", também não há certezas sobre a origem da palavra "Ásia"/"Ασία".
o termo "Ασία" parece ter origem no acádio "(w)aṣû(m)", ou no fenício "asa", que significam "levantar", "sair, nascer" [o sol], isto é, o Oriente, o Leste.
e, a ser verdade (é pelo menos plausível), com isto se percebe como o olhar semita via o mundo, estando no centro dele: de cara a norte, viam à esquerda a Europa ("o Ocidente") e à direita a Ásia ("o Oriente").
terça-feira, 8 de maio de 2012
Europa
não existe qualquer certeza sobre a origem do nome Europa, este subcontinente a oeste das antigas civilizações. o que se sabe é que nos séc. IX e VIII a.C. a palavra designava a parte continental da Grécia e que no séc. VI já abrangia territórios mais a norte.
mas há uma lenda grega que reza mais ou menos assim: havia na cidade de Tiro, na Fenícia, um rei cujo nome era Agenor. Agenor tinha uma filha, Europa, disputada em sonhos por duas grandes terras-fêmeas: a Ásia e a terra de Diante. ambas queriam a princesa, mas era vontade de Zeus que Europa se fizesse ao mar. um dia, a princesa foi passear até à praia e um "touro branco" (*) levou-a de viagem até Creta, onde, apaixonado, se lhe revela como Zeus e dela teve uma prole, da qual se destaca o rei Minos.
esta lenda revela a crença numa origem oriental - e por que não fenícia? - do nome Europa. se os gregos tivessem a consciência de terem sido os pais da palavra, esta lenda não faria sentido algum. do outro lado das hipóteses etimológicas, os que veem em "europa" uma "vista larga", de acordo com uma hipotética origem grega (de "eurys", «largo», e ‘ops’, «vista»), devem reparar que mais vistas largas há na Ásia ou mesmo em África, pelo que de "vistas largas" está o mundo cheio.
os fenícios falavam uma língua semita, parente próxima do árabe e do hebraico. e por isso há quem veja a palavra Europa como uma derivada de "eureb"/"erebu", parente do "gharb" árabe, isto é, "o por do sol", "o ocidente".
esta é a etimologia que faz mais sentido, enquanto não lhe descubram melhor origem. na verdade, não existe nenhum continente tão mentalmente voltado a ocidente, nem tão envolto na ideia de finis terrae.
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(*) "touro branco": se compararmos com outros povos com um tipo de organização social idêntica, a designação "touro branco" pode referir-se a um chefe guerreiro de uma tribo ou [con]federação de tribos, ou ao animal totémico destas.
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(*) "touro branco": se compararmos com outros povos com um tipo de organização social idêntica, a designação "touro branco" pode referir-se a um chefe guerreiro de uma tribo ou [con]federação de tribos, ou ao animal totémico destas.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
os fitotopónimos e os topónimos "Mação", "Maçãs", "Macedo", "Maceira", "Manzanares" e Cª.
na senda dos pseudo-"fitotopónimos", há um grupo que há muito tempo me desafia. é o grupo Mação, Maçãs, Macedo, Maceira, Macieira, Macinhata, e assim por diante. neste particular, praticamente todos os autores que consultei vão pela tese da árvore das maçãs, chegando alguns a esgrimir o argumento do "óbvio". ora eu não conheço nada que seja menos óbvio que as coisas "óbvias". escusado será dizer que nunca acreditei nessa possibilidade, porque em muitos outros lugares há melhores e mais saborosas maçãs, que lhes poderiam dar com mais propriedade tal nome.
alguns autores, pouquíssimos, nos quais me incluía eu próprio, ainda admitíamos a possibilidade de uma relação com "mansio/ -onis": "morada", "habitação", "residência"; "pousada", "estalagem", "albergue". o busílis da questão era, e é, o "s" de mansio, porque nenhum destes topónimos nas suas variantes passadas, presentes e interlinguísticas admite o "s", mas sempre o "c" e seus equivalentes "z" ou "ç". por exemplo, Macieira da Lixa era, no séc XI, uilla Mazanaria. logo, há que buscar outra origem para esta família tão mal conhecida e tão precipitadamente rotulada.
a tese da árvore das "maçãs" como origem destes topónimos também é largamente dominante nas Espanhas de falas galego-portuguesa, castelhana e catalã, onde encontramos, entre muitos outros, Maçaeda (Gz.), Maçana (Cat.), Maceda (Gz.), Macedo (Gz.), Maceira (Gz.), Maceiras (Gz.), Macian (Cas.), Macieira (Gz.), Macinheira (Gz.), Macinheiras (Gz.), Mancegal (Gz.), Mancinheiras (Gz.), Manzanal (Cas.), Manzanares (Cas.), Manzanas (Cas.), Manzaneda (Cas.), Manzanedo (Cas.), Manzanera (Cas.), Manzaneruela (Cas.),...
curiosa é a "Maçana" catalã, já que em Catalão maçã se diz "poma".
curiosa é a "Maçana" catalã, já que em Catalão maçã se diz "poma".
vamos a ver: "Mação" tem por si a ribeira de Mação; "Maçãs de D. Maria" tem por si a ribeira de Maçãs; na Espanha de fala castelhana, mais propriamente em Madrid, há o rio Manzanares. em Macieiras que eu conheço há lugares do Ribeiro e lugares das Veigas.
não há dúvida, são ribeiros, regatos, riachos, arroios e veigas a mais.
diz-se que estes topónimos provêm do latim mattiana, de onde deriva "maçã". mas em latim maçã dizia-se malum/ -i - de onde os nossos ossos malares, que dão forma às "maçãs do rosto".
mas ainda que assim fosse, se estes topónimos derivassem de mattiana, como explicaríamos então as formas Mancegal, Mancinheira, Manzanas, Manzanares, que pressupõem um étimo em MNTi?
já vimos que por estes lugares abundam ribeiros, veigas, mananciais. ora, em latim a coisa diz-se manatio/ -onis (corrimento, corrente de água). e cá está: MNTi.
mais um saltinho às Espanhas: encontro Manantial (Cas.), Manantiales (Cas.), Manantials (Cat.), Manantio (Cas.).
fitotopónimos?
ou serão "lugares onde corre [muita] água"?
Maçã
Mação
Mação
Maçãs
Maçãs de D. Maria
Maçãs de D. Maria
Maceda (Pt. e Gz.)
Macedo (Pt. e Gz.)
Macedo de Cavaleiros
Macedo de Cavaleiros
Macedo do Mato
Macedo do Peso
Macedo do Peso
Macedos (Pt. e Gz.)
Maceira (Pt. e Gz.)
Maceira do Liz (Mecenaria, Macenaria – sec 13, Maçanaria)
Maceiras
Maceirinha
Maceiro (no séc XI: Mazanario)
Maceiro (no séc XI: Mazanario)
Macieira da Lixa (no séc. XI: uilla Mazanaria)
Macieira de Alcoba
Macieira de Cambra (Maceneyra, séc- XII; Maceeira, séc-XIV)
Macieira de Rates (Mazieira, séc XIII)
Macieira de Rates (Mazieira, séc XIII)
Macinhata da Seixa
Macinhata do Vouga
Manção
Mancelos
Manços
Manços
Praia das Maçãs
Rego de Manços
Ribeira de Maçãs
Ribeiro de Mação
Rio de Maçãs
Ribeiro de Mação
Rio de Maçãs
Rio Maceiras (Gz.)
Vale de Manços
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
os fitotopónimos e o topónimo Figueira e derivados
tenho expressado as minhas fundadas dúvidas sobre aquilo a que a grande maioria dos mestres considera "fitotopónimos", ou seja, aqueles topónimos derivados de nomes de árvores ou de certos tipos de vegetação. um deles é "Carvalho", designação que, por estranho desígnio, é dada a algumas serras. só aqui à volta de Coimbra há várias serras do Carvalho. isso leva a pensar que são carvalhos a mais para designar a mesma coisa (serra) e que também são carvalhos a menos, pois que cada uma destas serras só teria um carvalho. já falei sobre o assunto, pelo que não vou repetir-me. para mim, "Carvalho" é um orónimo e não um fitotopónimo. ponto. também "Sobreiro" e "Sobreira" nada têm que ver com a árvore de que se extrai a cortiça, pois que se trata de adjetivos (derivados de super ou supra) e não de nomes ou substantivos (derivados de suber, -eris): significam "o lugar ou a aldeia que estão num ponto superior, acima de, sobre". o mesmo se passa com "Oliveira", um topónimo que na Galiza conhece também as variantes Olveira e Ulveira, e cuja origem se associa à existência de um pântano ("ulvaria") antes ou no momento da sua fundação, e não à presença de árvores cujo fruto é a azeitona. o mesmo com "Pereira", cuja designação se refere à existência de pedras (pedreira) e não de árvores de fruto que dão peras. e "Castanheira", que se refere a "Costanheira" (terra que fica na encosta de um monte) e não à árvore que dá as castanhas. ou, ainda, "Pinheiro", que se refere a "lugar que fica no pino" (no alto) e não a uma árvore que dê pinhas e, através delas, pinhões.
em toponímia as convergências e assimilações vão-se estabelecendo ao longo dos séculos, acabando em homonímias que toldam a verdadeira origem dos topónimos.
hoje trago outro "fitotopónimo" do qual tenho as mais que suficientes dúvidas para não acreditar na sua natureza fitotoponímica. trata-se de "Figueira" e alguns dos seus derivados, como "Figueiró" e "Figueiroa", que são seus diminutivos, e "Figueiredo", que aponta para um conjunto de "Figueiras". tal como os seus derivados, "Figueira" não designa arbitrariamente um local qualquer. é sempre nome de lugar habitado. e nesse lugar habitado raramente ou nunca existiu figueira que lhe justificasse tal nome. e, ao contrário, nunca vi terra de figos que se chamasse Figueira.
tenho procurado outras explicações conhecidas e publicadas, mas todas elas (como "fagaria", por exemplo) são tão insatisfatórias como a tese da fitotoponímia ("ficaria"). até que cheguei ao latim "figicare", que deu o verbo "ficar". ora "ficar" significa uma série de coisas interessantes, das quais seleciono:
- fixar, fixar-se
- estacionar em algum lugar
- alojar-se
- permanecer
- existir num lugar, estar localizado em
- estabelecer-se
quer dizer, se Figueira e seus derivados provêm não de "ficaria" (a árvore dos figos), mas de "fi[gi]caria" ("a terra onde se fixa, estabelece, aloja, existe ou permanece alguém"), a coisa ganha novo e compreensível sentido: "Figueira" passa a ser "a terra onde alguém se fixou ou ficou a viver" - o que pressupõe que a gente que primeiro a habitou não era de lá, mas sim que foi deslocada para lá por medida de povoamento.
algumas formas arcaicas , como "Fikeiredo", "Fikiredo, "Fikirola", do séc. XI, assentam melhor na ideia de "ficar", "fixar-se", do que na ideia de "figo". e, como que a querer confirmar o acabo de dizer, temos o topónimo "Casas Figueiras", em Vide, concelho de Seia.
e, então, "Figueira" ganha uma equiparação a "Póvoa".
curiosamente, quase por encanto, percebe-se como em certas "Figueiras", ou na sua proximidade, existem lugares chamados "Póvoa"...
Figueiró e Figueiroa passam, então, a ser ou uma "Figueira" mais pequena, ou uma "Figueira" que derivou de outra, por migração de parte da população. e "Figueiredo" passa a ser um grupo de "Figueiras", quer dizer, "Póvoas".
alguns topónimos Figueira e derivados:
Casas Figueiras
Figueira (Pt., Gz. e Br.)
Figueira (Pt., Gz. e Br.)
Figueira da Foz
Figueira de Castelo Rodrigo
Figueira de Lorvão
Figueira do Guincho
Figueira de Castelo Rodrigo
Figueira de Lorvão
Figueira do Guincho
Figueiras (Pt. e Gz.)
Figueiredo (Pt. e Gz.)
Figueiredo (Pt. e Gz.)
Figueiredo d' Alva
Figueiredo das Donas
Figueirido (Gz.) - contributo de Xosé Barreiro. muito obrigado.
Figueira dos Cavaleiros
Figueiredo das Donas
Figueirido (Gz.) - contributo de Xosé Barreiro. muito obrigado.
Figueira dos Cavaleiros
Figueirinha
Figueiró (Pt. e Gz.)
Figueiroa - forma evolutivamente anterior a Figueiró
Figueiroa - forma evolutivamente anterior a Figueiró
Figueiró dos Vinhos
Figueirós
Figueirosa
Vale de Figueira
Figueirosa
Vale de Figueira
terça-feira, 22 de novembro de 2011
procedimentos inaceitáveis
uma vez mais, acabo de descobrir um post deste blogue copiado na íntegra sem menção da fonte.
este tipo de procedimento não será tolerado.
post original:
http://toponimialusitana.blogspot.com/2006/06/nomes-e-apelidos-de-origem-toponmica.html
nota: o post copiado foi retirado do blogue infrator.
este tipo de procedimento não será tolerado.
post original:
http://toponimialusitana.blogspot.com/2006/06/nomes-e-apelidos-de-origem-toponmica.html
nota: o post copiado foi retirado do blogue infrator.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
a "ilha" do Brasil.
a chamada "Carta do Achamento do Brasil" termina assim:
"Beijo as mãos de Vossa Alteza.
Desde Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.
Pero Vaz de Caminha".
"Beijo as mãos de Vossa Alteza.
Desde Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.
Pero Vaz de Caminha".
a expressão "Carta do Achamento" e o uso do nome feminino singular "ilha" faz-me pensar: dada a impossibilidade de a testemunha e seus companheiros de viagem confirmarem, na altura, se o território onde aportaram era uma "ilha" ou não, indica claramente a ideia pré-concebida com que lá aportaram: a da existência de uma "Ilha" naquelas paragens, algo que estava perdido, foi procurado e "achado". e essa constatação conduz-nos, em segundo lugar, às lendas celtas da existência, a oeste do mar Atlântico, de uma Antília (que alguns creem ser corrupção de Atlântida), Ilhas Afortunadas ou Ilha de São Brandão. este São Brandão, um monge irlandês do séc. V e VI, ficou conhecido pelo famoso "Périplo de São Brandão" ou "Navigatio Sancti Brendani", cuja versão escrita é do séc. X / XI. nesse périplo, São Brandão terá percorrido as costas do Continente Ocidental. esta navegação de São Brandão retoma uma lenda celta da existência de "Bre'asil", o mítico território "vermelho" de além do mar Oceano.
tão forte era a tradição que foi de pouca dura a designação de "Vera Cruz". designação esta que, por sua vez, já não era completamente estranha à tradição celta, como refiro noutro ponto deste blogue.
domingo, 18 de setembro de 2011
canários (Mad.)
"canário", seja gente seja pássaro, refere-se às ilhas Canárias, cujo nome deriva de cão: "ilhas dos cães", ou "canárias". gente destas ilhas, fossem aborígenes guanches feitos escravos, fossem gente forra e até de linhagem, fez parte do contributo étnico do arquipélago da Madeira. dessas raízes étnicas reza memória na toponímia, como é o caso do Lugar do Canário (Ponta do Sol, atual Lugar de Baixo), do Pico do Canário e da Vereda dos Canários. de facto, estes lugares não têm o nome da ave canora de penas doiradas, mas de gente oriunda do arquipélago vizinho.
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
trás os montes
ao contrário do que se possa pensar, a designação "Trás os Montes" não se refere a um território situado "para lá" dos montes de Entre Douro e Minho (Marão, Alvão, Barroso, Cabreira, Larouco), visto do lado minho-duriense, mas sim a um território que fica "para lá dos montes" leoneses, visto do lado do antigo reino de Leão. o seu antigo nome, de origem claramente leonesa, "Tra llos Montes", associado à existência de mais que um topónimo "Tramonte" na região fronteiriça galega e galego-leonesa atestam isso mesmo.
além do mais, a palavra pode ter uma interpretação inesperada, tendo em conta que "trasmonte" é o "por do sol", como ainda hoje se pode constatar no italiano "tramonto". na linguagem popular nortenha, a ideia de "tra[s]monte" como ponto cardeal subsiste na expressão "perder a tra[s]montana", ou seja, perder a capacidade de se "orientar" - neste caso, "ocidentar". o mesmo que "perder o juízo".
e, sendo assim, o nome da província portuguesa adquire um significado que se entende bem: as "terras do por do sol", o "ocidente". o que não será novidade nenhuma nesta "ocidental praia"...
é curioso o subtítulo que Théophile Gauthier deu ao seu livro "Voyage en Espagne", publicado em Paris, em 1890. nem mais nem menos: "tra los montes". Espanha (Península Ibérica), o Ocidente do Mundo Antigo, a Separad dos Judeus, o Al-Gharb dos Árabes. Ocidente, sempre. "Far West", como dirá um camone.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
topónimos galego-portugueses terminados em "-e"
quase todos genitivos alatinados do nome de possuidores de terras maioritariamente germânicos, estes topónimos, como muitos outros com origem no nome de proprietários, contribuem para a memória dos nomes de pessoas usados na época da sua criação. de notar que todos os antropónimos originais são formas alatinadas, não latinas.
os topónimos abaixo significam "propriedade de...F.../terras de...F..."
Adaúfe - genitivo de "Athaulfus" (Adolfo)
Afife - genitivo de antropónimo ainda não estabelecido. uma possível etimologia arábica é pouco provável, dada a localização nortenha do topónimo
Alte - genitivo de "Altus"
Amarante - origem controversa. há quem veja no topónimo um genitivo de um presumível proprietário germânico com um suposto nome de "Amaranthus". porém, o género do topónimo na linguagem local e das redondezas é feminino ("A Amarante"), o que parece incompatível com a tese do genitivo de antropónimo. e, desse modo, há que admitir uma origem pré-romana, céltica, onde está presente o "Marão", a serra de que Amarante é a porta de entrada.
Andrade - genitivo de "Antriatus"
Anelhe - genitivo de "Anelius"?
Ardesende - genitivo de "Ardesindus"
Bagunte - genitivo de "Baguntus"
Bande - genitivo de "Bandus"
Beade - genitivo de "Beatus". também aparece sob a forma Veade
Bente - forma evolutiva do genitivo de "Benedictus"
Boelhe - genitivo de "Boelius"/"Bonelius"?
Boente - genitivo de "Volentius"
Boliqueime - palavra árabe composta de "birr"/"bur"/"bul" (poço) e o genitivo de "Hakeim" (nome do seu proprietário). veja-se a curiosa redundância do topónimo "Poço de Boliqueime" ("poço do poço de Hakeim")
Bousende - genitivo de "Baudisindus"
Cadilhe - genitivo de "Cadilius"
Caíde - genitivo de "Caítus"/"Kaídus"
Calvelhe - genitivo de "Calvellus"
Cête - supõe-se que seja genitivo de um tal "Cetus"
Chorence - genitivo de "Florentius" (Florêncio)
Chorente - genitivo de "Florentius"
Combe - genitivo de "Columbus" (Colombo, Pombo)
Dume - genitivo de "Dumio"Fafe - genitivo de "Fafus"
Fagilde - genitivo de antropónimo ainda não estabelecido
Garfe - genitivo de "Garff"/"Warff"
Lobelhe - genitivo de antropónimo ainda não estabelecido
Melide - genitivo de antropónimo ainda não estabelecido ("Bellitus"? "Mellitus"?)
Minde - genitivo de "Mindus"
Mogege - genitivo de "Mazegius" (etimologia desconhecida)
Nande - genitivo de antropónimo ainda desconhecido ("Nandus"?)
Nine - genitivo de "Ninus"
Novelhe - genitivo de "Novelius"
Nune - genitivo de "Nunus" (Nuno)
Paderne - genitivo de "Paternus"
Pidre - genitivo de "Petrus" (Pedro)
Punhe - genitivo de "Punius" ?
Rande - genitivo de "Raandus" /"Randus"
Recarei - genitivo de "Recaredus"
Reimonde - genitivo de "Raimundus" (Raimundo)
Resende - genitivo de "Redisindus"
Ronfe - genitivo de "Ranulfus"
Ruílhe - genitivo de "Rodellus"/"Rotellus"
Sande - genitivo de "Sandus"
Segade - genitivo de "Segatus"
Seide - origem controversa. a sua grafia antiga aponta para origem arábica, apesar de se tratar de topónimos nortenhos (norte de Portugal e Galiza).
Sende - genitivo de "Sindus"
Sesulfe - genitivo de um antropónimo germânico latinizado ainda não estabelecido.
Sezulfe - ver Sesulfe
Sinde - genitivo de "Sindus"
Tagilde - genitivo de "Atanagildus"
Veade - ver Beade
Vide - genitivo de "Vitus"
terça-feira, 6 de setembro de 2011
Gelfa (Xerfa), Gelfas (Jalfas, Jarfas, Xalfas, Xarfas)
estes topónimos têm a caraterística de se situarem junto de água, rios, lagunas, lagoas ou mar, em terrenos de tipo dunar de vegetação bravia: relva, pastos nascediços em terrenos maninhos, lugar de pastagem. a etimologia é desconhecida, embora haja quem lhes descubra uma origem arábica, muito pouco provável - o topónimo predomina na região costeira nortenha, de Aveiro à Corunha. a sua presença no Ribatejo pode dever-se à migração de falantes do norte.
Gelfa aparece em Portugal na Torreira, em Ovar, em Vila Praia de Âncora e em Abrantes. Gelfas existe em Castanheira do Ribatejo. houve em tempos o topónimo "Gelfamar", correspondente a uma mata no termo de Faria (v. José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico).
Gelfa aparece em Portugal na Torreira, em Ovar, em Vila Praia de Âncora e em Abrantes. Gelfas existe em Castanheira do Ribatejo. houve em tempos o topónimo "Gelfamar", correspondente a uma mata no termo de Faria (v. José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico).
conta-se que na Lagoa das Jalfas ou Jarfas (Xalfas, Xarfas), em Muros (Gz.), houve em tempos uma cidade. mas um dia, por volta da meia noite, quando todos dormiam, o mar subiu, galgou as dunas e engoliu a cidade e todos os que nela viviam (ecos de uma lenda atlante? explicação fantasiada da formação da lagoa?).ainda hoje, no dia de são João, se ouvem os gemidos da gente e dos animais que ali morreram afogados. os sinos da igreja repenicam, e até há quem veja uma moça vaidosa a pentear-se ao espelho (cf. Galicia Encantada, Enciclopedia de Fantasia Popular de Galicia).
quarta-feira, 13 de julho de 2011
má partilha
este curioso nome de lugar, um microtopónimo, parece verter algum azedume por um testamento mal aceite ou uma herança mal resolvida, transparecendo um sentimento de injustiça tão forte que mereceu ficar petrificado na toponímia, como vingança perene. conheço dois lugares com este nome: um, o Sítio da Má Partilha, em Alvor, concelho de Portimão - onde se construiu uma dessas urbanizações dos dias de hoje; outro, a Quinta da Má Partilha, no concelho de Azeitão - onde se produz um excelente vinho merlot.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
covas, covinhas e covões
a toponímia regista os acidentes topográficos como fatores suficientemente distintivos para distinguir pelo nome lugares que, provavelmente e de início, nada mais tinham que os distinguisse dos outros.
As Covas (Gz.) - particularismo desaconselhável. está por "Covas"
Cobelo (Gz.) - particularismo desaconselhável. está por "Covelo". ou será "Cubelo" (pequena torre de fortificação)?
Cova (Pt., Gz. e Br.) – gruta?
Cova da Beira -
Cova da Iria –
Cova da Lapa -
Cova da Loba -
Cova da Moura –
Cova da Piedade -
Cova da Raposa -
Cova de Alvito -
Cova de Dominique – por “Cova Dominica”? cf. “Covadonga”
Cova de Lobos (Gz.) -
Covada -
Covadela -
Covadinhas –
Cova do Barro –
Cova do Bicho -
Cova do Inferno -
Cova do Ouro -
Cova do Pico (Md.)-
Cova do Vapor -
Cova do Viriato -
Cova-Gala -
Covais -
Coval (Pt. e Gz.)-
Covalhão -
Coval Quente –
Covanca (Pt. e Br.) -
Covão –
Covão do Lobo –
Covas (Pt., Gz. e Br.)–
Covas da Raposa –
Covas do Rio –
Covela (Pt. e Gz.)
Covelas – diminut. de “Covas”
Covelha -
Covelho - ver "Covelo"
Covelinha (Pt. e Gz.) - duplo diminutivo de "Cova"
Covelinhas – duplo diminutivo de “Covas”
Covelinho - ver "Covelo"
Covelo (Pt. e Gz.) – ver "Cobelo"
Covelo do Gerês –
Covelos (Pt. e Gz.) –
Covetas -
Covetinhas -
Covide –
Covilhã – cf. “Convilhana”
Covinha (Pt. e Gz.) -
Covinhas (Pt. e Br.) -
Covita -
Covões -
Cubelo (Gz.) - ver "Cobelo"
Eira Cova -
Eira de Vilacoba ou Eira de Vila Cova (Gz.)-
Lagoa Cova -
Penacova -
San Paio de Vilacoba ou São Paio de Vila Cova (Gz.)-
São Pedro da Cova -
Vila Cova (Pt. e Gz.)-
Vila Cova a Coelheira -
Vila Cova da Lixa -
Vila Cova de Carros -
Vila Cova de Cima -
Vila Cova de Perrinho -
Vila Cova de Tavares -
Vila Cova do Alva -
Vila Cova do Covelo - uma curiosa redundância, ou Covelo está por "Cubelo"?
As Covas (Gz.) - particularismo desaconselhável. está por "Covas"
Cobelo (Gz.) - particularismo desaconselhável. está por "Covelo". ou será "Cubelo" (pequena torre de fortificação)?
Cova (Pt., Gz. e Br.) – gruta?
Cova da Beira -
Cova da Iria –
Cova da Lapa -
Cova da Loba -
Cova da Moura –
Cova da Piedade -
Cova da Raposa -
Cova de Alvito -
Cova de Dominique – por “Cova Dominica”? cf. “Covadonga”
Cova de Lobos (Gz.) -
Covada -
Covadela -
Covadinhas –
Cova do Barro –
Cova do Bicho -
Cova do Inferno -
Cova do Ouro -
Cova do Pico (Md.)-
Cova do Vapor -
Cova do Viriato -
Cova-Gala -
Covais -
Coval (Pt. e Gz.)-
Covalhão -
Coval Quente –
Covanca (Pt. e Br.) -
Covão –
Covão do Lobo –
Covas (Pt., Gz. e Br.)–
Covas da Raposa –
Covas do Rio –
Covela (Pt. e Gz.)
Covelas – diminut. de “Covas”
Covelha -
Covelho - ver "Covelo"
Covelinha (Pt. e Gz.) - duplo diminutivo de "Cova"
Covelinhas – duplo diminutivo de “Covas”
Covelinho - ver "Covelo"
Covelo (Pt. e Gz.) – ver "Cobelo"
Covelo do Gerês –
Covelos (Pt. e Gz.) –
Covetas -
Covetinhas -
Covide –
Covilhã – cf. “Convilhana”
Covinha (Pt. e Gz.) -
Covinhas (Pt. e Br.) -
Covita -
Covões -
Cubelo (Gz.) - ver "Cobelo"
Eira Cova -
Eira de Vilacoba ou Eira de Vila Cova (Gz.)-
Lagoa Cova -
Penacova -
San Paio de Vilacoba ou São Paio de Vila Cova (Gz.)-
São Pedro da Cova -
Vila Cova (Pt. e Gz.)-
Vila Cova a Coelheira -
Vila Cova da Lixa -
Vila Cova de Carros -
Vila Cova de Cima -
Vila Cova de Perrinho -
Vila Cova de Tavares -
Vila Cova do Alva -
Vila Cova do Covelo - uma curiosa redundância, ou Covelo está por "Cubelo"?
domingo, 30 de janeiro de 2011
chousa e derivados
chousa é uma porção de monte cerrado e acoutado; herdade ou horto fechado, que se destina a diversos cultivos e onde também existem árvores; tapada, terreno cercado ou murado, grande área com bosques, campos e água corrente, murada em toda a volta e destinada à criação e preservação da caça para gozo de particulares; conjunto cercado de leiras pertencentes a um mesmo dono.
já pouco usada no português de Portugal, a palavra "chousa" e suas derivadas estão presentes na toponímia galego-portuguesa de inspiração rural:
Choso
Chousa
Chousais
Chousal
Chousalinho
Chousa Nova
Chousas
Chousa Velha
Chousela
Chouselas
Chouselinha - duplo diminutivo de Chousa
Chousinha
Chouso
Chousos
Souselasjá pouco usada no português de Portugal, a palavra "chousa" e suas derivadas estão presentes na toponímia galego-portuguesa de inspiração rural:
Choso
Chousa
Chousais
Chousal
Chousalinho
Chousa Nova
Chousas
Chousa Velha
Chousela
Chouselas
Chouselinha - duplo diminutivo de Chousa
Chousinha
Chouso
Chousos
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
topónimos híbridos românico-arábicos
os topónimos híbridos românico-arábicos testemunham a presença de populações de fala romance (neste caso dialetos galaico-portugueses), sob domínio arábico. o fenómeno de hibridação ocorre sempre que a língua autótone está sob domínio estranho, como no caso da toponímia africana, americana e asiática que tenha sofrido hibridação com línguas europeias, designadamente o português.
a hibridação românico-arábica traduziu-se, em geral, na aposição do artigo "al" a topónimos que traduzissem substantivos e num certo grau de alteração da fonética original.
exemplos de topónimos híbridos românico-arábicos:
Alapraia - de al- A Praia
Albandeira - de al-Bandeira
Albarquel - de al-Barquel
Albogas - de al-Bogas
Alboritel - de al-Portel (?)
Alcabideche - de al-caput acqua
Alcabideque - o mesmo que Alcabideche
Alcabrichel - de al-Caprichel
Alcamim - de al-Caminho
Alcanede - de al-Canetu
Alcanena - ver Alcanede
Alcaraboiça - de al-Caraboiça
Alcarapinha - de al-Carapinha
Alcava - de al-Cava
Alcolombal - de al-Colombal
Alcongosta - de al-Congosta
Alcôrrego - de al-Côrrego (córrego, corgo) (hidrónimo)
Alcoruchel - de al-Coruchel (cf. Coruche=cruze, cruz, cruzamento)
a hibridação românico-arábica traduziu-se, em geral, na aposição do artigo "al" a topónimos que traduzissem substantivos e num certo grau de alteração da fonética original.
exemplos de topónimos híbridos românico-arábicos:
Alapraia - de al- A Praia
Albandeira - de al-Bandeira
Albarquel - de al-Barquel
Albogas - de al-Bogas
Alboritel - de al-Portel (?)
Alcabideche - de al-caput acqua
Alcabideque - o mesmo que Alcabideche
Alcabrichel - de al-Caprichel
Alcamim - de al-Caminho
Alcanede - de al-Canetu
Alcanena - ver Alcanede
Alcaraboiça - de al-Caraboiça
Alcarapinha - de al-Carapinha
Alcava - de al-Cava
Alcolombal - de al-Colombal
Alcongosta - de al-Congosta
Alcôrrego - de al-Côrrego (córrego, corgo) (hidrónimo)
Alcoruchel - de al-Coruchel (cf. Coruche=cruze, cruz, cruzamento)
Alenquer - de al-Enquer (hidrónimo) - do grupo "ank-"
Alfarelos - do árab al-fakhkhar + sufixo diminut. românico -elos. neste caso, não parece um topónimo moçarábico mas antes mudéjar.
Alfeite - de al-Feite (feto)
Alfeiteira - de al-Feiteira
Alfontes - de al-Fontes
Alfarelos - do árab al-fakhkhar + sufixo diminut. românico -elos. neste caso, não parece um topónimo moçarábico mas antes mudéjar.
Alfeite - de al-Feite (feto)
Alfeiteira - de al-Feiteira
Alfontes - de al-Fontes
Alfornelos - de al-Fornelos ("pequenos fornos")
Almalaguês - de al-Malaguês (?)
Almendra - arabização de amindula (amêndoa)
Almoçageme - "os [mouros] estrangeirados". referir-se-ia a mouros cristianizados, logo, mudéjars. totalmente arábico, não é um topónimo híbrido. é, a título de curiosidade, uma designação que denota como os mouros de território mourisco viam os mouros de território cristão ou cristianizados.
Almalaguês - de al-Malaguês (?)
Almendra - arabização de amindula (amêndoa)
Almoçageme - "os [mouros] estrangeirados". referir-se-ia a mouros cristianizados, logo, mudéjars. totalmente arábico, não é um topónimo híbrido. é, a título de curiosidade, uma designação que denota como os mouros de território mourisco viam os mouros de território cristão ou cristianizados.
Almonda - de al-Monda (hidrónimo)
Almoster - de al-Monasteriu
Almourol - de al-Mourol
Almortão - de al-Motão
Alpalhão - de al-Palhão (o mesmo que Paleão / Palião?)
Alpedrede - al-Pedrede
Alpedreira - de al-Pedreira
Alpedrinha - de al-Pedrinha
Alpendorada - de al-Pendorada (relação com pendor?)
Alpedriz - de al-Pedriz
Alpiarça - de al-Peaça
Alpoim - de al-Podium
Alviela - de al-Veela (veio de água) (hidrónimo)
Almoster - de al-Monasteriu
Almourol - de al-Mourol
Almortão - de al-Motão
Alpalhão - de al-Palhão (o mesmo que Paleão / Palião?)
Alpedrede - al-Pedrede
Alpedreira - de al-Pedreira
Alpedrinha - de al-Pedrinha
Alpendorada - de al-Pendorada (relação com pendor?)
Alpedriz - de al-Pedriz
Alpiarça - de al-Peaça
Alpoim - de al-Podium
Alviela - de al-Veela (veio de água) (hidrónimo)
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
matafolhada ou matafojada?
na região do Eo-Navia, da Galiza Exterior, também chamada Irredenta, existe um topónimo que por força dos castelhanizantes era escrita "Matafoyada". o ressurgimento galego, que se tem ocupado de repor a toponímia na nossa Língua e com ortografia portuguesa, corrigiu para Matafolhada. discordo, pois creio que, neste caso, a "versão" castelhana reproduzia melhor a palavra que admito como a original, "Mata Fojada", do que propriamente "Matafolhada" ("Mata Folhada"). além dos segundos sentidos que tem, Mata Folhada não faz sentido nenhum. mas se for Mata Fojada já significa que é uma mata onde há fojos (certas armadilhas para caçar animais).
pode dizer-se, numa abordagem evidentista, que Mata Folhada é uma mata cheia de folhas, mas nesse caso não valeria a pena chamar-lhe uma coisa que é própria de todas as matas... já Mata Fojada, de fojo (foxo), é muito mais distintivo, porque nem todas as matas têm fojos.
de qualquer modo, vale a pena investigar melhor o assunto.
pode dizer-se, numa abordagem evidentista, que Mata Folhada é uma mata cheia de folhas, mas nesse caso não valeria a pena chamar-lhe uma coisa que é própria de todas as matas... já Mata Fojada, de fojo (foxo), é muito mais distintivo, porque nem todas as matas têm fojos.
de qualquer modo, vale a pena investigar melhor o assunto.
terça-feira, 20 de julho de 2010
Malga (Pt., Gz. e E.)
este topónimo, cujo primeiro contacto me ocorre aqui perto de Coimbra, evoca-me um outro, aqui próximo também: Almalaguês. tal como este último, Malga, que é a forma sincopada de Málaga (Mal'ga), refere-se a um povoamento por gente vinda daquela cidade e região do sul da Península.
há também Malga em Cabeceiras de Basto e em Sobral de Monte Agraço.
o topónimo ocorre em Espanha e, designadamente, na Galiza.
há também Malga em Cabeceiras de Basto e em Sobral de Monte Agraço.
o topónimo ocorre em Espanha e, designadamente, na Galiza.
égua, éguas
já me referi a este(s) hidrónimo(s). por evidente que seja a relação entre eles e a presença de ribeiros, riachos e pequenos cursos de água em geral, ainda se encontra quem defenda que eles se referem à(s) fêmea(s) do(s) cavalo(s). mas, na verdade, a sua origem está nas falas dialetais para a palavra "água" (acqua), curiosamente numa forma muito semelhante a formas encontradas na Provença.
ainda mais curiosa é a sua presença no Brasil, em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná. mas esta curiosidade só pode estranhá-la quem não conhece o caráter conservador do Português do Brasil.
em Portugal, conheço:
Chãs d' Égua
Éguas
Fonte das Éguas (Gz.)
Foz d' Égua
Monte da Égua
Portas d' Égua
Vale de Água
ainda mais curiosa é a sua presença no Brasil, em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná. mas esta curiosidade só pode estranhá-la quem não conhece o caráter conservador do Português do Brasil.
em Portugal, conheço:
Chãs d' Égua
Éguas
Fonte das Éguas (Gz.)
Foz d' Égua
Monte da Égua
Portas d' Égua
Vale de Água
sexta-feira, 25 de junho de 2010
bande (Pt. e Gz.), bandoiva (Pt.), bandova (Pt.), banduagem (Pt.)
estes topónimos parecem estar associados às águas serranas e, através delas, à sua divinização sob a forma céltica Band- e suas variantes (Bandi, Bandio, Bandua, Bandoga). a divinização das águas através do teónimo Band- é muito frequente no norte de Portugal e da Galiza, pelo que não admirará que tenha permanecido na toponímia, quer diretamente quer influenciando a inflexão de palavras semelhantes de outra origem. de facto, não é seguro que "Bande" derive diretamente das águas divinizadas dos celtas do noroeste peninsular. pode resultar das tradicionais villae de proprietários rurais com nomes como Vanatus ou Bandus no genitivo. mas a influência do teónimo parece incontornável.
acresce dizer que Bandova é o nome de um ribeiro de montanha afluente do Mondego.
ver também Banduagem (Comentº de Anónimo).
acresce dizer que Bandova é o nome de um ribeiro de montanha afluente do Mondego.
ver também Banduagem (Comentº de Anónimo).
sábado, 10 de abril de 2010
marinha
em países à beira mar é normal que os homens se aglomerassem em torno de lugares ricos em sal, as "marinhas" ou salinas. essas populações dedicavam-se originariamente à extração desse produto, tão essencial à vida humana que foi um dos primeiros determinantes da necessidade de comerciar. o seu valor chegou a ser utilizado como forma de pagamento de serviços, originando o termo e o conceito de "salário", ou seja, a quantidade de sal recebida mensalmente pela prestação de um serviço, habitualmente de natureza militar. a localização atual das "Marinhas", devido à modificação da linha de costa com o decorrer dos séculos, indica que no tempo em que lhe foi dado o nome chegava lá a água do mar, muitas vezes através de esteiros ou rias suficientemente amplos para permitirem a evaporação da água do mar e o depósito do sal.
Marinha (Gz.)
Marinha das Ondas
Marinha Grande
Marinhais
Marinhal
Marinha Pequena
Marinhas (Pt. e Gz.)
mas há Marinhas, Marinhelas, Marinhos e Marinhões que pela sua localização requerem outra origem etimológica.
segunda-feira, 29 de março de 2010
admeus e adpropeixe
desafia-me Rui C. Barbosa para esclarecer a origem dos topónimos Admeus e Adpropeixe, em Vilar da Veiga, Terras de Bouro, região da serra do Gerês. conheço bem a região, mas não encontro caminho andado que me permita chegar seguramente ao significado dos referidos topónimos. posso tentar uma proposta de "decifração". admitamos que Admeus e Adpropeixe estão pela forma "A de Meus" e "A de Propeixe", formas vulgares na toponímia para designar "a [aldeia] de...". nesse caso, resta-nos "decifrar "Meus" e "Propeixe". quanto a "Propeixe", parece admissível a evolução a partir de um antropónimo "Propitius" (Propício) na forma genitiva "propitii". referir-se-ia, assim, a uma aldeia, herdade ou território que teria pertencido a alguém com esse nome, "Propício". teríamos de admitir, no entanto, um duplo genitivo, já que Propitii já quer dizer "[propriedade] de Propitius". mas isso é relativamente comum. significaria, simplesmente que a forma "Propeixe" estava já estabilizada quando lhe foi acrescentado o indicativo "a de".
quanto a "Meus", a interpretação é mais difícil, podendo apenas admitir-se uma relação com a apicultura e a extração de "mel".
que a significação destes lugares se relacione com propriedades rústico-agrícolas em tempos remotos não me parece nada de extraordinário, tanto mais que no século XIII era já essa a vocação atestada daquele território.
mas, seja como for, não passa de uma proposta de decifração. a seu tempo voltarei ao assunto.
quanto a "Meus", a interpretação é mais difícil, podendo apenas admitir-se uma relação com a apicultura e a extração de "mel".
que a significação destes lugares se relacione com propriedades rústico-agrícolas em tempos remotos não me parece nada de extraordinário, tanto mais que no século XIII era já essa a vocação atestada daquele território.
mas, seja como for, não passa de uma proposta de decifração. a seu tempo voltarei ao assunto.
sábado, 16 de janeiro de 2010
calheta
tal como "angra", "calheta" é um topónimo que os portugueses espalharam pelas costas oceânicas e que também é praticamente inexistente em Portugal Continental. apenas conheço uma "rua da Calheta", na freguesia da Luz, Praia da Luz, concelho de Lagos, Algarve. o topónimo encontra-se sobretudo nos Açores, na Madeira e em Cabo Verde. tem, pois, que admitir-se que faria parte do léxico próprio dos marinheiros dos séculos xiv a xvi, o que nos remete para contributos exteriores, nomeadamente da náutica catalã.
"calheta" é uma pequena angra, portinho ou praia que permite a arribação de barcos em costas de mar bravo ou de recifes. do catalão "cala". de notar que existe o topónimo "Cala" na ilha do Pico, Açores. e "cala" é uma enseada estreita entre margens alcantiladas e rochosas que tem condições para servir de abrigo às embarcações.
o elemento "cala" é de origem celta ou pré céltica e está muito difundido nas costas europeias atlânticas e mediterrânicas, como em "Calábria", "Calais", "Cale" (Portucale) e nas incontáveis "Cala" das costas de fala catalã.
"calheta" é uma pequena angra, portinho ou praia que permite a arribação de barcos em costas de mar bravo ou de recifes. do catalão "cala". de notar que existe o topónimo "Cala" na ilha do Pico, Açores. e "cala" é uma enseada estreita entre margens alcantiladas e rochosas que tem condições para servir de abrigo às embarcações.
o elemento "cala" é de origem celta ou pré céltica e está muito difundido nas costas europeias atlânticas e mediterrânicas, como em "Calábria", "Calais", "Cale" (Portucale) e nas incontáveis "Cala" das costas de fala catalã.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
âncora, ancoradouro
"âncora" parece, aqui, uma forma arcaica de "angra". entra em topónimos junto ao mar, em lugares que são ou já foram propícios à aportagem de embarcações; o mesmo que "abrigo", "refúgio". Vila Praia de Âncora, na região de Entre Douro e Minho, é uma povoação de pescadores. os derivados são naturais, como "ancoradoiro" / "ancoradouro".
Âncora (*)
Ancoradoiro
Ancoradouro
Porto do Ancoradoiro (Gz.)
Praia do Ancoradoiro (Gz.)
Riba d' Âncora
Vila Praia d' Âncora (*)
por uma daquelas coincidências vulgares na toponímia, em Vila Praia de Âncora desagua o rio Âncora, que nasce 19 km antes na serra d'Arga. a etimologia do hidrónimo contém a raiz "ank-"/"ant-", frequente em hidrónimos como Ançã, Anços, Antuã...
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
angra
o topónimo Angra, que os portugueses espalharam pelas costas oceânicas, é praticamente inexistente em Portugal Continental. apenas conheço duas "Angrinhas", no Algarve. as "Angras" são frequentes nos Açores e no Brasil. há um rio Angra, na costa africana ocidental, o que prova que o seu nome foi dado "de fora para dentro", isto é, de quem chegou a terra ido do mar. aliás, todos os topónimos "Angra" foram criados por quem entra em terra ido do mar.
"angra", que parece provir do lat. ancora, é uma reentrância do mar entre duas pontas de terra, mais adentrada que porto e menos que baía; o mesmo que "calheta", "pequena enseada"; ancoradouro".
em latim, ancora/ae, tanto significa "âncora" como "refúgio", "amparo".
o facto de este topónimo praticamente não existir em Portugal Continental faz pensar que terá entrado para a Língua através de um léxico marinheiro importado. é sabido que muitos dos marinheiros das descobertas portuguesas eram de outras proveniências, como a Galiza, o País Basco, a Catalunha, Veneza, Florença e Génova.
"angra", que parece provir do lat. ancora, é uma reentrância do mar entre duas pontas de terra, mais adentrada que porto e menos que baía; o mesmo que "calheta", "pequena enseada"; ancoradouro".
em latim, ancora/ae, tanto significa "âncora" como "refúgio", "amparo".
o facto de este topónimo praticamente não existir em Portugal Continental faz pensar que terá entrado para a Língua através de um léxico marinheiro importado. é sabido que muitos dos marinheiros das descobertas portuguesas eram de outras proveniências, como a Galiza, o País Basco, a Catalunha, Veneza, Florença e Génova.
angra dos reis
uma das mais antigas cidades do Brasil, Angra dos Reis, e seu atual município, foi descoberta por Gonçalo Coelho, em 06 de janeiro de 1502, dia de Reis, dois anos após o "achamento" do Brasil. no entanto, a região já era habitada pela tribo Goionás. em 1556 chegaram os primeiros colonizadores europeus, que se fixaram junto a uma enseada, de onde surgiria a povoação que se viria a tornar vila em 1608, com o nome de "Vila dos Reis Magos da Ilha Grande". em 1853, Angra dos Reis foi elevada a cidade.
ao largo de Angra há 365 ilhas, das quais se destacam, pelo interesse que despertam nos turistas, a ilha dos Porcos, as ilhas Botinas, a ilha de Itanhangá e a ilha Grande.
ao largo de Angra há 365 ilhas, das quais se destacam, pelo interesse que despertam nos turistas, a ilha dos Porcos, as ilhas Botinas, a ilha de Itanhangá e a ilha Grande.
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
irivo
Irivo é um dos muitos topónimos da região do vale do Sousa cuja origem se perde na mais remota antiguidade. Machado (2003, v. 2) regista-o com a grafia "Erivo", embora se conheça registada a forma "Eriva". documento do séc.18 refere que "esta freguezia de São Vicente de Eriva fica na província de Entre Douro e Minho pertence ao Bispado do Porto, he da comarca de Penafiel, termo da mesma cidade[...] Passa pelo meyo desta freguezia o rio chamado Sousa cujo nascimento tem para as partes de Basto perto da Lixa, que daqui dista quatro legoas, e meya pouco mais ou menos". o topónimo tem uma sonoridade pré indo-europeia, o que na linguística hispânica pode significar uma afinidade com o euskera.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
baracha
por "baracha" entende-se cada uma das covas ou caldeiras de uma marinha de sal. também designa cada um dos taludes de terra batida ou travessões de lama que separam as divisões numa marinha de sal. por isso, estes topónimos indicam a presença atual ou remota de uma atividade salineira.
em Portugal:
Herdade da Baracha
em Portugal:
Herdade da Baracha
sábado, 5 de setembro de 2009
suevos
povo originário do norte da Europa, das margens do Báltico, ou Mare Suevorum, os Suevos estabeleceram-se no Noroeste Peninsular, no séc V, fundando um reino sobre o tradicional território da Galécia, ou seja, das Astúrias até (quase) ao rio Tejo. ao todo os suevos nom ultrapassavam 30 000 almas. espalharam-se pelo reino, entre senhores e labregos, deixando memória toponímica, de uns de outros. sobre os nomes de proprietários suevos que deixaram marca toponímica já deixei registo anterior.
outro legado suevo terá sido a posterior divisão da Galécia em duas partes, separadas polo baixo Minho, pois por aí se dividiram as duas tribos: os Quados e os Marcomanos.
cabe agora falar das aldeias cujo povoamento se deve a colonos suevos. há vários povoados na Galiza com esse topónimo: "Suevos". e tamém "Sueve", à letra: "do suevo", sem outra designação.
outro legado suevo terá sido a posterior divisão da Galécia em duas partes, separadas polo baixo Minho, pois por aí se dividiram as duas tribos: os Quados e os Marcomanos.
cabe agora falar das aldeias cujo povoamento se deve a colonos suevos. há vários povoados na Galiza com esse topónimo: "Suevos". e tamém "Sueve", à letra: "do suevo", sem outra designação.
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