sábado, 15 de abril de 2006

Senhoras e Senhores


vestígios de uma antiga mundivisão pagã submersa no cristianismo oficial, estas "Senhoras" e estes "Senhores" sobrevivem ainda no imaginário vivido de muitas aldeias, montes, rios e caminhos. não são santos nem deuses propriamente ditos. falta-lhes o Nosso ou a Nossa antes de
Senhor ou Senhora. não tenhem nome próprio, não se chamam João, Pedro, Maria, sei lá. mas fazem milagres, curam e salvam dos mil e um poréns e imprevistos da existência humana. as suas festas são ainda essencialmente pagãs. nelas se come e bebe e dança. e se cumpre a promessa.
no interior ou no adro das capelas, muito destes locais exibem telas, madeiras ou quadros de azulejo com o "Milagre Que Fez " (Pt. e Br.) o Senhor ou a Senhora do lugar.


Senhora-a-Branca
Senhora Aparecida (Pt. e Br.)
Senhora Armada (Gz.) - advogada das dores de cabeça. porquê?
Senhora da Agonia
Senhora da Ajuda (Pt. e Br.)
Senhora da Azenha

Senhora (ou Virgem) da Barca (Gz.)- ver enlace de "Senhora do Caminho"

Senhora da Barca do Lago

Senhora da Boa Viagem - invocação própria de gente embarcadiça, por exº., pescadores

Senhora da Cabeça

Senhora da Estrela - na Redinha, Pombal, é um culto extremamente arcaico. em serra calcária, uma gruta muito profunda está obstruída por uma capela, que ocupa a parte esquerda do saguão da gruta. os ex-votos de sempre estão ainda vivos em pleno séc. XXI: "f..., de Poios, mandou fazer à Senhora da Estrela". faz lembrar uma gruta "neolítica" das Astúrias: a gruta de Covadonga (em latim, Cova Dominica : "a Gruta da Senhora"). mas tirando a capela - que já é muito -, tudo está como dantes: ao natural e longe dos curiosos

Senhora da Graça (Pt. e Br.)
Senhora da Guia (Pt. e Br.)
Senhora da Hora
Senhora da Lapa
Senhora da Lapinha
Senhora da Luz - ver Comentº

Senhora da Menina - curiosa invocação, que nos remete para as "matrioscas" (avó-mãe-filha-neta). é um culto pagão evidente

Senhora da Nazaré
Senhora da Ó ou Virgem da Ó (Gz.)
Senhora da Oliveira
Senhora da Peneda
Senhora da Penha
Senhora da Póvoa
Senhora da Ribeira
Senhora da Rocha

Senhora da Saúde - uma sobrevivência da Salus romana, ou um culto anterior romanizado?

Senhora das Areias - pode ser precedida do possessivo "Nossa"
Senhora da Serra
Senhora das Candeias
Senhora das Mercês
Senhora das Necessidades
Senhora das Neves
Senhora das Preces
Senhora das Virtudes (Pt. e Gz.)
Senhora das Vitórias (ver Senhora da Vitória)

Senhora da Vida - embora possa levar o possessivo "Nossa", não deixa de ser uma Senhora pagã

Senhora da Vitória - uma sobrevivência da Victoria romana
Senhora de Cadeiras (Gz.)
Senhora de Entre Águas

Senhora de Guadalupe (Gz., Pt. e Br.)- é motivo da célebre canção popular galega "A Rianxeira": "A Virxen de Guadalupe/ cando vai pola Ribeira/ descalciña pola areia/ parece umha rianxeira/..."

Senhora de Porto d'Ave
Senhora do Alba (Gz.)
Senhora do Além
Senhora do Almurtão
Senhora do Amparo
Senhora do Bom Juízo

Senhora do Cabo - pode levar o possessivo "Nossa", mas não deixa de ser uma Senhora pagã

Senhora do Caminho (Gz.)
Senhora do Cardal
Senhora do Carril
Senhora do Castelo
Senhora do Círculo

Senhora do Faro (Pt. e Gz.)- ver "Virgem do Faro" ou "Virxen do Faro"

Senhora do Gozo (Gz.)

Senhora do Lago - ver "Senhora da Barca do Lago"

Senhora do Leite - invocação extremamente arcaica da mater nutrix. os romanos identificaram-na a Ísis. ver nota a "Virgem dos Olhos Grandes"

Senhora do Monte -

Senhora do Ó (Pt. e Br.)- ver "Senhora da Ó"

Senhora do Pilar -
Senhora dos Aflitos -
Senhora dos Esquecidos -
Senhora dos Milagres (Pt., Gz. e Br.) -
Senhora dos Navegantes (Br.) -

Senhora dos Olhos Grandes (Gz.) - invocação notável pelo seu arcaísmo. remete-nos para "Atena", "Minerva" e, ainda mais para trás, à "Deusa-Coruja". é a padroeira da cidade de Lugo e também protege as vindimas e os emigrantes. note-se que Palas Atena era chamada "a dos olhos grandes" ou "olhos de coruja" ou, ainda, "a dos olhos verdes". isto não significa uma influência grega ou romana (no caso de Minerva) na Galiza, mas sim uma origem comum do culto da "deusa"-coruja. e tal como em Braga em relação à Senhora do Leite/Ísis, tamém em Lugo a Virgem dos Olhos Grandes foi transformada em Santa Maria. mas, ao contrário de Braga em que a Senhora do Leite foi remetida para um nicho no exterior da cabeceira da Sé, em Lugo a Virxen dos Ollos Grandes convive com os outros santos no interior da Sé, e em lugar de destaque.

Senhora dos Remédios (Pt., Gz. e Br.)

Senhora do Vencimento (Pt. e Br.) - conheço esta invocação em São João da Pesqueira, na Ribeira Grande (Aç.) e na Bahia (Br.)

Senhora do Viso (Gz.)

Senhoras do Monte - uma curiosa invocação múltipla. no caso do concelho de Guimarães, as "Senhoras do Monte" são três

Senhor das Almas

Senhor da Pedra - uma capela sobre um penedo ("a pedra") da Praia de Miramar, onde o paganismo inicial se mantém vivo. a própria capela diz que no seu lugar estava antes um culto pagão. foto www.canalfoto.org.

Senhor da Serra -
Senhor da Vida -
Senhor de Matosinhos -
Senhor do Além -
Senhor do Bonfim (Pt. e Br.) -


Senhor dos Aflitos -
Senhor dos Navegantes -
Senhor dos Perdões
Virgem do Faro -

Virgem dos Olhos Grandes - ver "Senhora dos Olhos Grandes"
Virxen do Faro - o mesmo que "Virgem do Faro"
Virxen dos Ollos Grandes - ver "Virgem dos Olhos Grandes"



quarta-feira, 12 de abril de 2006

Brejos e Brenhas

alguns topónimos referem-se às características bravias da vegetação. são ou foram, em geral, matas ou matagais de onde o ser humano se afastava. aí só cresce ou crescia vegetação silvestre, mais ou menos densa, mais ou menos emaranhada. estes topónimos e seus derivados são muito frequentes em toda a Península, embora mais no norte, e, por isso, também em Portugal e na Galiza:


Boiça - terreno bravio, de mato
Boicinha
Bouça - o mesmo que "Boiça"
Bouças
Boucela - diminut. de "Bouça". o mesmo que "Boucinha" e "Boicinha"
Boucelha
Boucinha
Bouza ou Bouça (Gz.)
Branha ou Braña (Gz.)- o mesmo que "Brenha"? ver comentário de Miguel. provém do latim veranea: "(pasto) de verão".
Breijo (Gz.)
Brejão - é aumentativo de "Brejo"
Brejo (Pt. e Gz)

Brejo das Almas (Br.)- ver Comentário de Jolorib.
desde 1938 "Brejo das Almas" passou a chamar-se "Francisco Sá". que me perdoem os que acham melhor assim, mas "Brejo das Almas" era um achado...

Brejoeira
Brejões
Brejones (Gz.) - o mesmo que "Brejões"
Brejos
Brenha
Brenhas - no Alentejo é hidrónimo
Conceição do Mato Dentro (Br.)
Mata (Pt. e Gz.)
Matadussos - talvez signifique "Mata de Ussos ou Ursos"
Matagal
Matamá
Mata Mourisca (ver também "Mourisca")
Matança (Pt.)- ver "Matanza" (Gz.)
Matancinha - diminut. de "Matança", indicando que Matança vem de "Mata" e não de "matar". ver "Matança" e "Matanza"
Matanza (Gz.) - a casa onde a grande Rosalia de Castro viveu os últimos anos da sua vida, hoje sua Casa-Museu, é a "Casa da Matanza"
Mato Grosso (Br.)
Moita (Gz., Pt. e Br.)
Moita Bonita (Br.)
Moita da Serra
Moitalonga
Moitedo
Moitinha
Moitinhal
Moitinhas
Moitinho
Mouta (Pt. e Gz.)
Moutadas
Moutados
Silva
Silva Escura
Silvao (Gz.)
Silvão
Silvarelhos
Silvares (Pt. e Gz.)
Silvarosa (Pt. e Gz.)
Silveira (Pt. e Gz.)
Silveiras (Pt. e Br.)
Silveirinha
Silveirinho
Silveiro


Nota: sobre "Bouça e Touça" ver o post
ainda sobre "Matas" ver o post

terça-feira, 11 de abril de 2006

Água, Águas




os topónimos em "Água", "Águas", e seus compostos e derivados, são topónimos "primordiais", que ocorrem em todas as línguas e em todos os tempos. já o vimos a propósito dos topónimos tupi-guaranis, mas podemos vê-lo em euskera, em asture-leonês, em catalão, em castelhano, em provençal, em francês, e assim por diante. como o seu nome indica, são, antes do mais, hidrónimos. mas podem, a partir daí, designar povoações. são topónimos frequentes em Portugal, na Galiza (sob a forma nortenha "Auga", "Augas") e no Brasil.



aqui ficam alguns topónimos em "Água", "Águas":

Água Branca (Br.)
Aguada (Pt. e Gz.)
Aguada de Baixo
Aguada de Cima
Água de Madeiros
Água de Meninos (Br.)
Água Levada
Agualva
Aguamá ou Água Má
Água Preta (Br.)
Água Quente (Br.)
Águas de Moura
Águas do Rio Doce (Br.)
Águas Férreas
Águas Livres
Águas Mornas (Br.)
Águas Radium - parece nome erudito de termas radioactivas, na Beira Baixa
Águas Santas
Águas Vivas
Agueiro, Agüeiro (Pt., Gz.)
Aguela, Agüela (Pt., Gz.) - diminut. de "Água"
Aguim - não tem que ver com "água". significa "villa aquilini": a quinta de Aquilino
Auga Enterrada (Gz.)
Augas Santas (Gz.)
Barranco de Água Velha
Foz de Égua - ver "Vale d' Éguas"
Mãe d'Água
Mortágua - Cf. provençal "Aigues Mortes", ant. "Auguas Mortas"
Olho d'Água das Flores (Br.)
Olho d'Água do Casado (Br.)
Olho d'Água Grande (Br.)
Olhos d'Água
Vale d'Éguas - aqui "Éguas" está por "Águas". variante dialectal?

sábado, 8 de abril de 2006

Judiarias, Mouriscas e Mourarias

Ibéria, Espanha, Sepharad ("terras do ocidente), Al-Gharb-al-Andalûs ("o oeste vândalo"), a Grande Espanha dos Pirinéus ao Atlântico, foi sempre, ao longo da História, uma pátria de povos, de línguas, de deuses e de civilizações. quem não viveu nesta terra que a não tenha cantado ou chorado por ela?

duas comunidades tiveram um importante papel na história da Península: os judeus e os mouros. conviveram pacificamente durante séculos com as populações autóctones, sem quaisquer sinais de crispação ou intolerância. mas, subitamente, com a chegada do Renascimento e das doutrinas de O Príncipe, de Maquiavel, a Península Ibérica deixaria de ser para eles uma boa pátria. ao princípio da convivência e da tolerância sobrepôs-se o princípio da uniformidade cultural, sob a bandeira da unidade religiosa. não foram apenas os judeus e os mouros as vítimas, mas também o povo do campo, que teimava nas suas tradições e hábitos pagãos.

tanto os judeus como os mouros após a Reconquista viviam em ruas ou bairros próprios, com direitos e obrigações específicas, diferentes da população principal - ruas ou bairros esses que tomavam, respetivamente, o nome de "judiaria" e de "mouraria".
em meados do séc. XVI, os ventos de Aragão, contaminados de intolerância para com as diferenças culturais e religiosas, ditariam o destino destas comunidades: converter-se ou fugir. e aqueles, judeus e mouros, que aceitaram converter-se nem imaginavam que mais lhes valia ter fugido. ser "cristão-novo" passou a ser mais motivo de suspeita do que ser o que eram dantes.

as "Judiarias" encontram-se em cidades e vilas, enquanto as "Mourarias" ocorrem em núcleos urbanos mas também em aldeias.
"Mourisca" e "Mouriscas" só ocorrem em aldeias (*).
por outro lado, as "Judiarias" surgem mais nas vilas e cidades fronteiriças de Trás-os-Montes, Beiras e Alentejo, enquanto as "Mourarias" aparecem em núcleos urbanos do sul.
"Mourisca" e "Mouriscas" são topónimos que aparecem mais dispersos, e em geral referem-se a aldeias povoadas por mouros "cristãos-novos".
em alguns casos o termo "Mourisca" refere-se a um troço de estrada remodelado ou construído na época mourisca.




(*) o caso especial da vila de Mourisca do Vouga deve-se à elevação da aldeia a vila em período recente

terça-feira, 4 de abril de 2006

Topónimos Relacionados com Migrações

a migração de populações está representada nas toponímias galega, portuguesa e brasileira. no caso galego-português, a maioria destas migrações deu-se no século XII e XIII, mercê de políticas de repovoamento em resposta a uma rarefação populacional de causas diversas. já vimos, a propósito dos galegos e dos britos na toponímia portuguesa, alguns topónimos que se referem à migração de gente vinda de outras bandas da Península Ibérica, de outras zonas da Europa e mesmo de outras regiões do país. no caso brasileiro, a maioria destes topónimos refere-se à migração de portugueses, mas também há muitos topónimos de origem alemã, sobretudo no sul.
em qualquer dos casos, a criação destes novos topónimos deve-se ao fa(c)to dessas terras não terem ainda nome, ou ter sido esquecido o nome anterior.
vemos que as aldeias serranas da Beira, hoje lugar de refúgio para gente do norte da Europa, não mudaram de nome pelo facto de abrigarem holandeses ou alemães. é que ou os derradeiros habitantes originais dessas aldeias ainda estavam vivos ou o nome das aldeias ainda era conhecido.



A-dos-Francos
Algarvios - aldeia de gente oriunda do Algarve. topónimo a norte do Algarve
Astureses (Gz.) - ver "Estorãos".

Almalaguês - ver postagem

Barrancões - aldeia de gente oriunda de Barrancos (?)
Bascos (Gz.) - aldeia de bascos
Beirã - talvez por "aldeia povoada por gente vinda da Beira". topónimo a sul da Beira (Alto Alentejo)

Beirão - talvez esteja por "lugar povoado por gente vinda da Beira". topónimo a sul da Beira

Bergonha - oriundos da Borgonha. por sua vez, a "Borgonha", região da França, refere-se a um povo germânico oriundo de Borgundarholm, uma ilha escandinava da costa dinamarquesa

Biscaia - aldeia de gente oriunda da Vizkaya (País Basco)
Biscainha - o mesmo que "Biscaia"
Biscainhos - o mesmo que "Biscaia"

Brasileira - não conheço, mas está referenciado. deverá referir-se a gente que esteve no Brasil

Brasileiro - não conheço, mas está referenciado. ver "Brasileira"
Brasileiros - não conheço, mas está referenciado. ver "Brasileira"

Bretonha - oriundos da "Britânia". trata-se de celtas em fuga, em consequência da invasão dos anglo-saxões

Briteiros - oriundos da "Britânia". ver "Bretonha"
Brito -
Britos - ver "Briteiros
Casconha - de Gasconha ("Vascónia"), País Basco (?)
Castelães - gente oriunda de Castela
Castelão - povoado ou lugar povoado por gente vinda de Castela
Castelãos - gente oriunda de Castela
Castelãs - o mesmo que (aldeias) castelhanas
Castelhana - (aldeia de) gente oriunda de Castela
Castelhanas - ver "Castelhana"
Castelhano - o mesmo que "Castelão"
Castelões - oriundos de Castela
Coenços - gente oriunda de Coence (Gz.)?
Coimbrão
Coimbrões - oriundos da região de Coimbra
Cumbraos (Gz.) - o mesmo que "Coimbrões
Estorãos - asturianos
França
Franciscas
Francos
Franqueira
Galegos - oriundos da Galiza
Galizes - o mesmo que Galegos
Golegã - (aldeia galegana ou galegã): "(aldeia) galega"
Germanha (Gz.) - gente oriunda da Germânia
Guilhadeses - gente oriunda de Guilhade (Gz.)

Guimarantinhos - pela sua localização (Mangualde), será "gente de Guimarães de Tavares"?

Limãos - oriundos do Vale do Lima (galego)
Limões - ver "Limãos"
Lombardos - oriundos da Lombardia (Itália)
Malga - forma sincopada de Málaga. ver postagem
Margato - gente oriunda da Maragatería, León
Medeiros - gente oriunda de Meda
Meridãos - gente oriunda de Mérida
Merideses - o mesmo que "Meridãos", mas com terminação leonesa
Mesiões - oriundos de Mesio
Nafarros - oriundos de Nafarroa (Navarra)
Panóias (Pt. e Gz.) - oriundos da Panónia (actual Hungria)
Penicheiras - aldeias de gente oriunda de Peniche
Porvença (Gz.) - ver Proença
Proença a Velha - gente oriunda da Provença
Proença a Nova
Ribeira das Castelhanas

Sardão, Cabo - refere-se aos "sardos", "povo do mar", que também deu nome à Sardenha (I)

Sardinheiro (Gz.) - ver "Sardão". graf. altern. Sardiñeiro
Seidões - aldeia de gente oriunda de Seide (?)
Sevilhão - lugar povoado com gente oriunda de Sevilha
Sourões - lugar povoado com gente oriunda de Soure
Suevos (Gz.) -
Toscanha (Gz.) - gente oriunda da Toscânia
Vascões - aldeia de gente oriunda do País Basco

Vergonha - ver "Bergonha". aqui pode ver-se como um topónimo "nobre" pode evoluir para uma forma desagradável (mais, talvez, por efeito da escrita do que, propriamente, pela fala)

sábado, 1 de abril de 2006

Uma (cómica) Versão deste Blogue em Inglês

encontrei esta versão em inglês de Toponímia Galego-Portuguesa e Brasileira. duvido que algum falante daquela língua, seja em que variante for, entenda patavina. mas é um esforço e, quem sabe até, um reconhecimento [ :-) ]. achei uma gracinha.

traduzir o topónimo "Mora" por "deferred payment" (pagamento em atraso) e "Pena" por "penalty" (castigo) é uma possibilidade, mas bem patusca... coisas da tradução automática...

quinta-feira, 30 de março de 2006

Topónimos Tupi-Guaranis (5)

conclui-se agora a viagem pela toponimia tupi-guarani. só foram aqui chamados os principais topónimos que podem encontrar paralelo na toponímia galego-portuguesa e brasileira de língua portuguesa e, assim, ajudar a compreender as lógicas ou as motivações que estão por detrás dos nomes dos rios, das serras, das aldeias, das planícies, enfim, da toponímia em geral, que numa estratificação histórica, civilizacional e linguística, como aquela que ocorreu no espaço galego-português, deu origem a designações já difíceis de decifrar e a homofonias e convergências enganosas em que muita gente se perde e faz perder os outros.
há muitos outros topónimos tupi-guaranis, mas, na sua maior parte, dizem respeito a especificidades locais da fauna e da flora que seria fastidioso e de pouca utilidade enumerar. por outro lado, também não esgotariam a proveniência linguística da toponímia nativa brasileira, porque deixariam sempre de fora os topónimos criados por tribos que não são de fala tupi-guarani, como os tapuias e os caribes.

alguns topónimos tupi-guaranis (de U a Z) e seu significado em português:

Ubatuba - de ybá (canoa)+tyba (muito, colecção): "sítio das canoas", "porto das barcas (canoas)"

Umuarama - outra criação de erudito, neste caso Silveira Bueno, a partir do tupi-guarani. foi forjada de embu (lugar)+ara (cheio de luz, soalheiro)+ ama (muitos, reunião): "lugar soalheiro e bom para juntar pessoas (amigas)". é nome de uma cidade do Paraná

Upamoroti - de ypá +moroty: "lagoa clara"
Utinga - de y (água, rio)+tinga (branco): "rio branco"

Vupabussú - de upabussú: "lagoa branca". nota: não há o som "v" em tupi-guarani

Ybatuba: "muita fruta": "pomar"
Ybitiguassú: "serra grande"
Ybytimirim: "serra pequena"

Ymirim: de y(água, rio)+mirim (pequeno): "rio pequeno", "riacho", "arroio", "ribeiro", "regato"


segunda-feira, 27 de março de 2006

Topónimos Tupi-Guaranis (4)

quando os romanos chegaram à Península Ibérica e à região ocidental galego-portuguesa, as serras, os rios, as planícies, planaltos, cabeços e cumeadas, fontes, veigas, lagos e lagoas tinham já de seu um nome cada. aos romanos coube-lhes arremedar na sua língua própria - o latim - os nomes dos lugares de que iam tomando posse. não deixaram na Toponímia uma assim tão augusta marca, para além das cidades por eles fundadas, como Emmerita Augusta (Mérida), Caesarea Augusta (Saragoça), Pax Julia (Beja) e Aequae Flavis (Chaves). muitas outras cidades tiveram o seu nome latinizado, mas não latino, como Asturica Augusta (Astorga), Bracara Augusta (Braga), Brigantia (Bragança), Lucus Augusta (Lugo), Igaeditania (Idanha). a marca dos romanos não é essa. é terem deixado a sua influência civilizacional e linguística.
o mesmo se passou com os portugueses em África e na Ásia do Sul. Bissau, Guiné, Cabinda, Luanda, Angola, Zaire, Huíge, Huambo, Bié, Zambeze, Rovuma, Moçambique, Goa, Damão, Diu, Macau, Timor e assim por diante, são nomes aportuguesados de topónimos nativos. a nossa influência nessa parte do Mundo foi outra.
assim também no Brasil. o que em si mesmo é natureza, sem a mão do homem, é linguisticamente nativo.

alguns topónimos tupi-guarani (de P a T) e o seu significado em português:

Papuã - "monte redondo". na toponímia portuguesa: "Monte Redondo"
Pará - "mar" (rio muito grande)

Pavuna - de ypab (lagoa + una (preta): "lagoa preta". na toponímia portuguesa: "Lagoa Escura"

Perituba - de piri (junco)+tyba (muito, colecção): "juncal". na toponímia portuguesa: "Juncal"

Pindorama - seria "o país das palmeiras" ou Brasil. mas é um topónimo daqueles de que falava Jolorib. não foi "postado" por índio, mas por um tal de Magalhães. dá o nome a uma cidade do Estado de S. Paulo

Ponta Porã - palavra "cabocla": portug. "ponta"+ tupi "porã" (bonita): "ponta bonita"

Potiguar - "comedor de camarão", "marisqueiro". era o nome depreciativo com que as tribos do interior chamavam as tribos do litoral nordestino, por não terem oferecido resistência aos europeus (portugueses). nesse contexto, tem o significado de "frouxo". no entanto, a população de Natal e do Rio Grande do Norte faz gosto no epíteto

Potinji - de potim (camarão)+yi (água, rio): "rio dos camarões"
Reritiba - de reri (concha)+tyba (muito, colecção): "concheira"

Taba - a aldeia, o povoado. na toponímia galego-portuguesa: "Pai" (palavra plural de pagus), "Vigo", Alcaria", "Caria", "Aldeia"

Tabaínha - palavra "cabocla". de taba (aldeia)+sufixo diminut. português inha: Aldeota, que também é topónimo brasileiro e português

Tabapuã - de taba (aldeia)+puã (alta): "aldeia alta". como "Tábua" e "Taboão"

Taboaté, Taubaté - de taba (aldeia)+eté: a taba a sério, a cidade
Tanhenga - de itá (pedra)+ nheenga (que fala): "pedra falante"
Tijuca, Tijuco - "pântano, paúl"

domingo, 26 de março de 2006

Topónimos Tupi-Guaranis (3)


quando em 1500 chegaram os primeiros portugueses, calcula-se que no Brasil houvesse cinco milhões de nativos. o contacto com os homens europeus, o seu trato, os seus hábitos e as suas doenças estranhas, dizimaram essa gente da qual resta hoje menos de dez por cento, ou seja, aproximadamente umas 400 000 almas (ver Comentº). destes sobreviventes, muitos perderam a língua e o essencial da sua religião e cultura. os padres jesuitas destacaram-se no esforço de aculturação dos índios, mas foram eles também os que primeiro estudaram e compreenderam a língua tupi-guarani, falada pelos nativos do imenso litoral brasileiro. no nosso tempo é ainda uma das línguas oficiais do Paraguay ("rio dos papagaios")


alguns topónimos tupi-guaranis (de J a O) e seu significado em português:

Jericoacoara - de yurucuá+cuara: "a toca das tartarugas" ou "o síto onde as tartarugas vão (pôr os ovos)"

Jucunem - de y (água)+ucúnem (malcheiroso): "lagoa malcheirosa"

Jupi - de yu+py: "espinheiro", nome de serra. em português: "Espinheiro"

Juruá - de yurá (boca)+ á (aberta): "boca larga", foz aberta de um rio

Jurumirim - de yurá (boca)+ mirim (pequeno): "embocadura ou foz apertada"

Lopo - de ropo (com r brando): serra que leva o nome da tribo que a habita
Manhuassú - de amana (chuva)+ (gu)assú (grande): "onde chove muito"
Manhumirim -de amana (chuva)+ mirim (pequena): "onde chove pouco"
Marajó - de mbara+yó: o anteparo ou "barreira do mar". nome de uma ilha

Maranhão - embora pareça convergente com topónimos portugueses, tem significado diferente: de mbara (mar)+nhã (agitado)

Miracatá - de mira (gente)+catú (bom): "gente boa"

Mondim - convergente com topónimos iguais galegos e portugueses, mas com significado diferente: de mundé: armadilha pequena. nome de rio. "rio das pequenas armadilhas". tal como o caso de "Maranhão" e outros, estas homofonias lembram as dificuldades com que nos deparamos na interpretação de topónimos antigos

Narandiba - de narã (do português "laranja")+tyba (muito, colecção): "laranjal"

Ocarussu - "terreiro grande"


sábado, 25 de março de 2006

Topónimos Tupi-Guaranis (2)

a internet tece a sua teia a uma velocidade realmente astronómica. reparem que só a Technorati gaba-se de coligir 31,3 milhões de sítios e 2,2 mil milhões (bilhões) de enlaces. a coisa pode ser multiplicada pelos milhões e bilhões (milhares de milhões) de outros buscadores. é um número tão incrível como os milhões de anos-luz traduzidos em quilómetros. ser visto e ser lido neste universo imenso é um milagre. e, porque é um milagre, é tamém uma responsabilidade de respeito. nenhum livro, nem o mais vendido dos livros mais vendidos alcança tamanha difusão, nem fica exposto a tão grande, tão sincera e tão íntima crítica - seja ela favorável, desfavorável ou simplesmente crítica.
é assim que Toponímia Galego-Portuguesa e Brasileira passa de uma (quase) brincadeira inicial a um caso sério. entenda-se: sério para quem se meteu neste caminho, fará por esses dias seis meses.
e nesta viagem chegámos ao Brasil, à Toponímia Nativa, aquela que dá nome à natureza tal como o ser humano a encontrou.

alguns topónimos tupi-guaranis (de D a I) e o seu significado em português:

Emboaçaba - equivalente aos topónimos portugueses em "Vau"
Engaguassú - de yguá (baía)+guassú (grande): "baía grande"

Garapava - de igara (canoa)+paba (porto): lugar onde estacionam as canoas. "porto das canoas"

Grupiara - de curu-piara: sítio onde há muito cascalho. na toponímia portuguesa: "Seixal"

Guanabara - de goanã-pará: goá (baía)+nã (que parece)+pará (mar): "baía-mar", "baía muito grande"

Guayrá, Guaíra - à letra: "daí não passas!". é nome de uma queda de água (intransponível), "Sete Quedas"

Iapeyú, Ipojuca - "brejo", "pantanal"

Iaquã - "cotovelo do rio", "volta do rio". no toponimia portuguesa: "Volta do Rio"

Ibiapaba - "terra alta plana", "planalto". na toponímia portuguesa de origem árabe: "Almeida"

Ibiaçua - "encosta". como "castanheira", em português.

Ibiãgui - à letra: "o sopé da terra alta": "o sopé da serra". na toponímia portuguesa: "Pé da Serra"

Ibiapina - de ybyã (terra alta)+pina (careca, sem árvores): "serra calva"

Ibipeba - de yby (terra)+peba (baixa): "planície"

Ibirapuera - de ybirá (árvore, mata)+puera (que já não é):"antiga mata"

Ibicuityba, Ibicuitiba, Ibiciritaba - de iby (terra)+cui (areia)+tyba (muito): "areal"

Icaray, Icaraí - de y (água, rio)+caray (santa, santo):"água santa". na toponímia galego-portuguesa: "Águas Santas", "Augas Santas"

Igarapaba - variante de "Garapava"
Igaraé - de igara (canoa)+apé (caminho): "caminho das canoas". um braço de rio

Iguassú, Iguaçú - de y (água, rio)+guassu (grande): "rio grande". na toponímia espanhola de origem árabe: "Guadalquibir"

Iguatemi - de yguá (baía)+timbi (verde escuro): "(foz de ?) rio verde escuro"

Indayatuba, Indaiatuba - de indayá (palmeira indayá)+tyba (muita, colecção): "palmeiral", "palmar"

Inhuã - de nhu (campo)+ã (elevado, alto): "campo alto"

Inhumirim - de nhu (campo)+mirim (pequeno): "campo pequeno". em Lisboa: "Campo Pequeno"

Inussu - de nhu (campo)+ussu (grande): "campo grande". em Lisboa: "Campo Grande"

Ipanema - de y (água, rio)+panema (má, mau): "rio mau". em Portugal: "Rio Mau"

Ipiranga - de y (água, rio)+piranga (vermelho): "rio vermelho". em Portugal e Espanha: "Rio Tinto"

Iporanga - de y (água, rio)+poranga (bonito): "rio lindo", "rio bonito"
Itaituba - de itá (pedra)+tyba (muitas, colecção): "pedregal"
Itamarati - de itá (pedra)+morati (muito brancas): "pedras (muito) alvas"

Itapira - de itá (pedra)+ apira (elevada, empinada): pedra empinada. não pode traduzir-se por "Perafita" porque aqui a pedra está empinada pela mão do homem

Itacoatiara - ver post

sexta-feira, 24 de março de 2006

Topónimos Tupi-Guaranis (1)


das quatro bisavós que me couberam em sorte, uma era brasileira. não a conheci nem sei de onde veio, ou se era apenas uma ex-emigrada no Brasil, daquelas de que se ocupou o nosso escritor oitocentista Camilo Castelo Branco. sei que era "Ribeiro". na casa dos meus avós maternos, em S. Torcato, Guimarães, ouvia falar desse tronco "brasileiro" que, aliás, dava motivo de alcunha a esse filão genealógico. falava-se por lá um português muito próximo do galego, ao menos no léxico e em certas particularidades da pronúncia. mas lembro-me que havia palavras de uso comum que tinham vindo do Brasil. uma delas era o "côco", nome que se dava ao caneco de tirar a água do cântaro.
do tempo dessa bisavó e filho do Brasil tamém, tinha lá um papagaio que viu morrer e nascer várias gerações de gente. bem amestrado e bem falante, o papagaio era o garçon da loja. assim que chegava alguém, logo chamava: "- ó António, anda à loja!" e quando o cliente se aprontava para sair coa encomenda, assim o bicho lembrava: "- pagar que não esqueça..."
isto não faz tanto tempo, nem eu sou assim tão velho que tudo se passasse no tempo em que os animais falavam. mas, para o bem e para o mal, Portugal mudou tanto que é já difícil compreender como esses tempos fazem parte do mesmo país.
mas foram esses tempos o suficiente para que fizesse parte de mim a cultura comum galego-portuguesa e brasileira.
até aqui tenho ocupado a grande maior parte do blogue com as raizes comuns galego-portuguesas, visíveis na Toponímia à vista desarmada.
é a vez de falar da toponímia tupi-guarani. parecerá que nada tem que ver com a cultura e a língua de origem ibérica, indo-europeia na sua maior parte. pois não tem. mas tem uma importância fundamental na compreensão de como se forma a Toponímia de um país.
o povo nativo é o que dá o nome aos rios, às serras, às praias, aos campos, à natureza não transformada pelo homem. em grande parte do Brasil, o povo nativo fala(va) o tupi-guarani nos seus diversos dialectos. há, ainda, topónimos que não são europeus nem tupi-guarani. mas formam uma minoria que por agora não interessa.
não existe melhor forma de compreender como nasce um topónimo que a de estudar a toponímia brasileira tupi-guarani, pois que por cima da camada nativa vem apenas e logo o português. as homofonias com o léxico português, que por vezes aparecem, são curiosas. e algumas já nós vimos, como o caso dos topónimos brasileiros em "Boi".

alguns topónimos tupi-guarani (de A a C) e seu significado em português:

Aguapey ou Aguapí - de aguape (nenúfar)+y (água, rio): "rio dos nenúfares". poderia evoluir para "água-pé", formando um falso (e disparatado) topónimo português

Aiba - "matagal", "brenha". na toponímia galego-portuguesa: "Brenha"
Andaray - de andyray (morcego)+y (água, rio): "rio dos morcegos"

Anhangabaú - de anhangá+bá (malefício do diabo)+y (água, rio): "rio do(s malefícios do) diabo"

Anhangay, Anhangaí - de anhangá+y: "rio do diabo"
Apetumbu ou Apetumby - "estrada poeirenta"
Apeturibú, Apottribú - "estrada da fonte"

Apiay - "lugar úmido, alagado" (ocorre em lugares de mineração, de chumbo por exemplo)

Apiteribú, Apoteribu, Poteribú, Potribú - "fonte do meio"

Aporã - "lugar bonito no alto". o mesmo que "Belavista" ou "Boavista" em português (Cf. Belvedere)

Apuã - "monte, colina, môrro arredondado", "cabêço", "cabêça"

Apyra - "ponta, cabo, fim da terra" (Cf. Fisterra - Gz. - e Finisterre - F)

Aracajú - capital de Sergipe: "muito antiga". é um sinónimo de "Cadima"

Araçoyaba - "o que faz sombra". no caso, no Estado de São Paulo: "monte em forma de chapéu", "monte sombreiro"

Arapecum - "restinga, língua de terra"
Araraquara - "o paradeiro das araras"

Araxá - "a vista do mundo". é o mesmo que "Belo Horizonte" em português

Assaré - "o atalho, caminho alternativo". à letra: "caminho diferente"

Atibaia - "lugar saudável". o mesmo que "Belos Ares" em português e "Buenos Aires" em castelhano. o significado inverso, "maus ares", é o nome de uma doença que todos gostaríamos de ver erradicada: a malária
Avaré - "(lugar onde mora) o homem diferente" (padre), "(sítio d)o padre"
Avay ou Abaí - de Abá (homem)+y (água, rio): "rio do homem"
Baeriri, Bariri - "rio com cachoeiras", "cachoeiras do rio"
Baetimbaba - "plantação, horta, roça" (à letra: "lugar que produz muitas coisas")
Baetybeyma - "terra árida, estéril". na toponímia portuguesa de origem árabe: "Safara"
Bambuy ou Bambuí - de bambu (sujo)+y: "rio sujo" (barrento)

Bangú - "monte ou cêrro escuro". na toponímia galego-portuguesa de origem latina: "Monte Negro" ou "Montenegro"

Baruery - o mesmo significado que Baeriri e Bariri

Boquira - de mboquira: "onde a chuva nasce", "lugar de onde vêm as nuvens"

Brocotó - de mborocotó: "terreno cheio de altos e baixos"

Butantã - de mbu (lugar, terra)+ tã-tã (dura-dura, muito dura): "terra muito dura"

Butuquara - de ybytu (vento)+quara (abertura, fenda): "a porta do vento". em Portugal: "Portela do Vento"

Buturuma - de ybyty+una: "monte negro"

Bytury - de ybyty (montanha)+y: "água ou rio da montanha", "ribeira da serra"

Caçapava - "clareira, picada ou passagem na mata". se a clareira foi feita por fogo, diz-se "Caucaia"

Catanduva - e caá (mato)+dyba (duro): "mato duro". é o mesmo que "Mato Grosso" em português.

Catujy - de catu (bom)+yi (água, rio): "rio bom"

Catumbi - de caá+tumbu: "à beira da mata", "no (so)pé do monte". na toponímia portuguesa: "Pé da Serra" (Cf. "Piemonte", Itália)

Curityba, Curitiba - "pinheiral", "pinhal"


terça-feira, 21 de março de 2006

Substantivos e Adjetivos de Origem Toponímica


há palavras em português de Portugal que têm origem toponímica. sobretudo em alguns adjectivos, o povo da terra em causa nem sempre fica bem no retrato. contas e coisas da História...

aqui vão:

badalhoco (adjectivo. de "Badajoz" - Badalhouce -, Extremadura, Espanha)

boémio (adjectivo. de "Boémia", região da Europa Central, actual República Checa. aquele que leva uma vida despreocupada, divertida e vadia. essa evolução semântica deve-se aos ciganos vindos da Boémia)

braga (cueca de meia côxa. termo usado em Espanha. de "Braga")

casaco (substantivo, também conhecido no Brasil por paletó. deriva de "khasak", povo do Khazakhstan)

caxemira (substantivo. tecido fino de lã. deriva de "Caxemira", região entre a Índia e o Pasquistão, disputada por ambos os países)

cobre (substantivo, metal. de "Kypros", a Ilha de Chipre)
cretino (adjetivo. de Creta)
damasco (substantivo, fruto. de "Damasco", Síria)

enxovia (substantivo. do árab. "ax-xauía", etnónimo de populações marroquinas entre Azamor e Rabat, que os portugueses adoptaram como nome de significado geográfico. era uma região rica em cereais, que se guardavam em covas: as "covas de Enxovia". daí a evolução para "espelunca, casa insalubre")

esgroviado, esgrouviado (adjectivo. de "O greve", Galiza?)

frango (substantivo. ave de capoeira. de França)

galego (que trabalha muito e ganha pouco, labrego, rústico. no Brasil, é sinónimo de "português", com o mesmo sentido)

galinha, galo (substantivo. ave de capoeira. de "Gália", França)

gravata (substantivo. deriva de "Croácia" - Hrvatska)

laranja (substantivo, fruto. de "Orange", França)

palerma (adjectivo. de "Palermo", Sicília, Itália)

patavina (substantivo. de "Pádua", "o falar de Pádua". como era um falar estranho, difícil de entender por quem não sabe, serve de paradigma para se dizer "não percebi nada": "não percebi patavina" - ver Comentário)

persiana (substantivo, cortina para diminuir a luminosidade: "da "Pérsia")

pêssego (substantivo, fruto, de pérsico. da "Pérsia")

pulha (adjectivo, de "Puglia",Itália)

samarra (substantivo. espécie de casaco com gola de pele de raposa. de "Samara", cidade da Rússia?)

tangerina (substantivo, fruto. de "Tânger", Marrocos)

túnica (substantivo. peça de roupa comprida com corpo e mangas. de Túnis, Tunísia)

turquesa (substantivo. nome de pedra preciosa e nome de côr. de Turquia)

varina (substantivo. de O Var - "Ovar". termo lisboeta para vendedeira ambulante de peixe)


segunda-feira, 20 de março de 2006

Agora é Que a Porca Torce o Rabo



como temos visto, em Toponímia os nomes sobrevivem à língua e à civilização que lhes deu voz. por isso, uma nova camada populacional, uma nova época, uma nova língua, podem fazer com que novas gerações não tenham pelo nome da sua terra o agasalho e o mimo de outras gerações e de outros tempos.
os topónimos em "Porco", "Porca", "Porqueiro", assim criados no caldeirão de povos e línguas que nos gerou, são relativamente frequentes. como no caso do touro, a relação muito especial, sagrada, entre o homem e o porco pode ter feito convergir a evolução de palavras sem nenhum parentesco linguístico.
assim, tendo em conta uma antiquissima tradição do culto dos berrões, de que restam as porcas de Murça, de Torre de D. Chama etc., poderia pensar-se que os topónimos em causa se referissem a esse animal. mas não é assim. uma antiquíssima raiz p-r-k indica a presença de "água".


Barranco do Porco (pleonasmo: "ribeiro do ribeiro")
Chão de Porcos
Momporcão
O Rabo do Porco (Gz.)
Pocariça (?)
Ponte do Porco - como é óbvio, as pontes pedem um rio, ribeiro, regato ou regueiro que lhe passe por debaixo.

Porcalhota (a multidão de novos habitantes chegados à Porcalhota no fim do Séc. XIX já não sabia de onde diabo vinha semelhante nome, tendo pedido ao Rei que lhe desse melhor sorte. ficou então "Amadora")

Porco (Pt. e Br.)- topónimo associado a pequenas ilhas ou ilhéus, a elevações de terreno ou a ribeiros, regatos ou regueiros. talvez haja um denominador comum: a água corrente.

Porcos de Armenteiro
Porqueira (Pt. e Gz.)
Porqueiros (Pt. e Gz.)
Porquinhas
Porquinho
Ribeira do Porco (Md.) - parece um pleonasmo, coisa muito comum na Toponímia.
Serra do Porco
Torre de Porqueira (Gz.)
Venda do Porco


sábado, 18 de março de 2006

Entre Aqui e Acolá



muitos topónimos galegos, portugueses e brasileiros referem-se à particular situação do lugar entre dois ou até três rios, entre vales, entre vinhas, etc. não têm outro significado.

Entre-Ambos-os-Rios
Entre-as-Devesas
Entre-as-Serras
Entre-Caminhos
Entrecasas (Gz.) - um topónimo misterioso, sem dúvida
Entre-Devesas
Entre-Matinhas
Entre-Montes (Br.)
Entre-os-Rios
Entre Rios (Br.)
Entrerribeiras (Gz.)
Entrerribeiros (Gz.)
Entrerríos (Gz.)
Entresserras
Entrevais (por Entrevales)
Entre-Vinhas
Entrevinhas ou Entreviñas (Gz.)



quarta-feira, 15 de março de 2006

Oleiros. Olarias e Cerâmica


da saga que levou à sedentarização em povoados, com o desenvolvimento da agricultura, fez parte a produção de uma série de utensílios indispensáveis à conserva e transporte de alimentos, à cozinha, à apresentação da comida e da bebida e ao momento das refeições. enquanto era suficiente, usou-se a cana, a cabaça e a madeira como matéria prima. ainda restam, em algumas aldeias, alguns desses utensílios, seja por ainda estarem em uso, seja apenas para turista ver.
mas o que deu a alma à civilização agrícola e lhe exteriorizou os sentimentos foi a cerâmica e, dentro da cerâmica, a arte e o ofício próprios da olaria.
povos (povoados) na Galiza, em Portugal e no Brasil (ver Comentº) que se especializaram na produção de figuras de barro, com as quais se dá largas a uma tradição comum, a um tempo erótica e satírica, que se manifesta(va) também nas cantigas de escarnho e maldizer.
a importância da olaria e da cerâmica justifica que a presença de oleiros ou de lugares de produção cerâmica tenha deixado marcas na toponímia. embora houvesse olarias e oficinas muito antes, os topónimos mais antigos deste grupo são arábicos e situam-se na região moçárabe.
ainda hoje há aldeias, como Bisalhães, Molelos e Vilar de Nantes que preservaram formas e técnicas próprias de olaria, procuradas pelos apreciadores.
grande parte dos topónimos que se seguem designam lugares onde já não há vestígios do ofício, embora em alguns casos ainda esteja presente em lugares não muito afastados - provavelmente herdeiros desse saber.


Aldeia de Oleiros

Alfafar (árab.: "al-fakhar": "olaria")
Alfarela
Alfarelha
Alfarelos (árab. :"al-fakhkhar": "loiça de barro")

Molelos (ainda hoje é uma terra de produção cerâmica tradicional própria. a questão é saber se o termo "molelos" tem que ver com a roda do oleiro)

Ola (remoínho num rio, cascata). Ola, Olas, Olela, Olelas não se referem a olarias)
Olas
Oleira (Pt. e Gz.)
Oleiro
Oleirolos (diminut. de "Oleiros")
Oleiros (Pt. e Gz.)
Olela (diminut. de "Ola")
Olelas (Pt. e Gz.)



domingo, 12 de março de 2006

Paredes Meias com o Passado

alguns lugares que haviam sido abandonados pelas suas antigas populações foram depois re-ocupados pela população que lhe deu o nome actual. deles restavam apenas muros e paredes, ruínas de um tempo e de um viver sumidos na voracidade da História. só a Toponímia lhes assegura a imortalidade, ainda que sem conteúdo nem sentido. estes topónimos são frequentes na Galiza e em Portugal.


vale a pena assinalar aqui o que se passa com as chamadas aldeias serranas da Lousã, de Góis, de Arganil e Pampilhosa da Serra. estas aldeias foram quase cem por cento abandonadas pela sua população, que migrou para Lisboa, para outros Estados da União Europeia, para a Suíça, eventualmente para o Brasil. vieram pessoas do Norte da Europa, cansados da sociedade da abundância, para empreenderem um regresso à natureza, à agricultura manual de subsistência, à luz das velas. mas estas aldeias não mudaram de nome. na realidade, ainda não estavam totalmente abandonadas e o seu nome salvou-se. o mesmo não aconteceu com a sua alma. a cultura, agora, ainda que de "regresso à natureza", é totalmente outra, com o seu ar hippie démodé.


Pardelhas (Pt. e Gz.) (diminut. plur. de "Parede": paredelhas)
Pardieira
Pardieirinho
Pardieirinhos
Pardieiro (de paredeiro)
Pardilhão
Pardilhó (diminut. de pardelha)
Paredão
Parede (Pt. e Gz.)
Paredes (Pt. e Gz.)
Paredes da Beira
Paredes de Coura
Paredes do Bairro
Paredes Secas
Paredinha (diminut. mais recente)
Paredinhas



terça-feira, 7 de março de 2006

O Topónimo "Cerveira"

sempre tive uma especial curiosidade por este topónimo. diziam os mestres e as pessoas do povo que por detrás deste nome estavam veados, rebatizados de "cervos". seriam, pois, lugares onde abundariam esses nervosos e belos ruminantes, se não estivessem em perigo de extinção. além disso, tinham esses nomes o costume de se referir a lugares altos ou junto a elevações de terreno contrastantes. até que um dia descobri o Monte Cervino, nos Alpes Suiços. "Cervino"? outros pronunciavam "Cerviña". O seu nome suíço-alemão é Matterhorn, que nada tem a ver com cervos ou veados. em latim, há a cervix, ou seja, a nuca, o alto da cabeça, o pescoço e, também, o cume dos montes. a partir daqui, o topónimo abre-se em todo o seu significado óbvio: "cimeira", "cumeada", "cabeça", "mont'alto".
mas como em questão de orónimos e hidrónimos é sempre bom desconfiar da origem latina - os montes e os rios já cá estavam antes de os romanos chegarem -, é de admitir, sem medo de errar, que "Cerveira" pertença à família dos orónimos indo-europeus em "kerv-" e "karv-", como "Carvalho".
talvez haja quem prefira os cervos, mesmo que lá não estejam e nunca tenham estado. por mim, prefiro de longe a cervix que lá está.



topónimos em Cerv-:

Cerva
Cervaínhos
Cerval
Cervão (Br.) ("cervos" no Brasil?)
Cervas
Cerveira (Pt. e Gz.)
Cervelhos
Cervinho (Br.) (ver "Cervão")
Vila Nova de Cerveira



domingo, 5 de março de 2006

Esses "Touros" Por Aí...


O topónimo "Touro", e seus derivados, embora presente em várias regiões da Península Ibérica, não tem nada a ver co'a velha teomaquia que hoje se representa nas arenas de forma profana. o culto ibérico pelo poderoso animal divino, que já vem dos tempos em que pintaram as grutas de Lauscaux e de Altamira, pode ter influenciado a fonética do topónimo - mas é só. além disso, na Galiza e no norte de Portugal, não existe tradição nem cultura taurina mas os topónimos "touro", "tourinho", tourais" e derivados são frequentes. em toponímia, "touro" é um termo anterior ao latim que significa "monte", "lugar alto". noutros casos, refere-se ao termo euskera "itur", que significa "fonte", e é responsável por alguns nomes de rios e ribeiros)

aqui deixo alguns "Touros":
Chão do Touro
Corte do Touro
Monte de Tourais
Monte dos Touros
Quinta dos Touros
Reta l Toro (Mir.) - ver post "Urrieta"
Rio do Touro - ver "Tourões"
Toiral (Gz.)
Toirais
Toura
Tourago
Tourais
Toural (Pt. e Gz.)
Tourão
Tourega
Touregas
Tourel
Tourém (?)
Touril
Tourinho (Pt. e Gz.)
Touro (Pt. e Gz.)
Tourões (pelo menos em alguns casos, significará "terra povoada por gente vinda de Touro". também é hidrónimo ou nome de rio, e neste caso, virá de um fundo basco que significa "fonte")
Touróm (Gz.)
Urre l Toro (Mir.) - ver "Reta l Toro"
Vila do Touro (no sentido de "quinta do touro")


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006

Tem Nome de Árvore Mas Não é Árvore

os topónimos com nome de animais podem não ser, na realidade, nomes de animais (ou zoónimos), mas antes evoluções convergentes de palavras com significado diferente daquele que parecem ter hoje. "boi", "carneiro","lobo" são apenas alguns desses exemplos. o mesmo se passa com topónimos que hoje parecem nomes de árvores (ou fitónimos). alguns já nós encontrámos pelo caminho, como "carvalho" e "pereira".
aparecem outros, como "amoreira", "castanheira", "figueira", "oliveira", "pereira", "sobreira".
são muito frequentes, quer em Portugal quer na Galiza.

muito boa gente tem caído na esparrela de interpretar estes por aquilo que eles parecem, sem ter em conta que muitos outros lugares mereciam o mesmo nome com muito mais propriedade, se o topónimo tivesse o significado que parece ter.

Aboboreira (topónimo associado a elevações, dá nome a várias serras)
Amoreira (por "A Moreira". ver "Moreira")
A Nogueira (Gz.) (ver "Nogueira")
As Moreiras (Gz.)
As Nogueiras (Gz.)
As Nogueirinhas (Gz.) - graf. altern.: "As Nogueiriñas"
Aveleira (topónimo associado a elevações, dá nome a várias serras)
Carvalho (topónimo associado a elevações, dá nome a várias serras)

Castanheira (o nome da árvore é "castanheiro" e não "castanheira". a localização das "Castanheiras" que eu conheço é no início de encostas, com um rio ou ribeiro ao fundo. existe o topónimo "Costaneira", frequente em Portugal e na Galiza, com significado semelhante. são duas formas da mesma palavra. na toponímia castelhana há "La Castaña", por "la costaña", isto é, "uma terra que fica na encosta")

Castanheira de Pera
Castanheira do Ribatejo
Castanheira do Vouga
Castanheiro
Costaneira (Pt. e Gz.) - ver "Castanheira"
Costaneiras
Estrada da Castanheira

Figueira (?) (Pt., Gz. e Br.) (em francês, o nome da árvore é "figuier" e o topónimo é "figuière". no entanto, existe um consenso esmagador em todos os países de língua românica sobre o significado deste topónimo: árvore dos figos. as "figueiras" que eu conheço são lugares planos, habitualmente em cima de elevações. na falta de figueiras a sério, estes lugares estão associados a figueiras lendárias, o que é próprio de etimologias ditas "populares", elaborações a posteriori mais ou menos imaginárias. por outro lado, a tese segundo a qual "Figueira da Foz" será um pleonasmo - "abertura da boca" - tem um porém: a "abertura" - fagaria - só seria aplicável a essa Figueira e sabe Deus com que esforço. mas tem um mérito: procura o significado fora da botânica).
na Catalunha, ao lado dos topónimos "Figueres" existe o topónimo "Figa".
creio que a decifração deste topónimo poderá passar pelo tronco comum aos verbos "ficar" e "fixar"- no sentido de "assentar", "estabelecer morada permanente" (lat. figo, figere, fixi, fictum). teria, pois, um significado equivalente ao de "Póvoa". e seria um topónimo parente dos que contêm o vocábulo "fita", como "Perafita". voltarei a este assunto.

Figueira da Azóia
Figueira da Foz
Figueira de Castelo Rodrigo
Figueira de Cavaleiros
Figueira de Lorvão
Figueira do Guincho
Figueira do Mato
Figueira Redonda
Figueiras de Cima
Figueiró (diminuit. de "Figueira")
Figueiroa (Gz.)
Figueiroá (Gz.)
Figueiró dos Vinhos
Figueiros (Gz.)

Ladeira do Pinheiro (topónimo esclarecedor: é necessário uma "ladeira" para trepar ao "pinheiro")

Macieira (este topónimo costuma ser decifrado como "árvore das maçãs". o que resta explicar é por que razão foram assim designadas estas localidades e não outras possivelmente mais ricas nesse tipo de fruta. tendo em conta o topónimo "Mação", que tem mais a ver com "casas" do que com "maçãs", o mais provável é que "Macieira" signifique "casario")

Macieira de Alcoba
Macieira de Cambra
Macieira da Lixa
Macieira da Maia
Macieira de Sarnes
Montes de Piñeiro (Gz.) - grafia integrada: "Montes de Pinheiro". é um pleonasmo. ver "Pinheiro".

Moreira (lugar onde há casas ou moradias; moraria)

Moreira de Cónegos ( dos cónegos da Colegiada de Stª Maria da Oliveira, Guimarães)

Moreiras
Moreiró (diminut. de "Moreira")

Nogueira (é um topónimo associado a elevações. dá o nome a serras). em Itália, na Calábria, há uma Nocara, a 865m de altitude

Nogueira da Maia
Nogueira da Montanha (é um pleonasmo: "monte da montanha")
Nogueira da Regedoura
Nogueira de Ramuín (Gz.)
Nogueira do Cravo

Nogueiró (diminut. de "Nogueira", está associado a elevações de menor altitude)

O Eido da Nogueira (Gz.)
Oliveira (de "ulveira": lugar úmido, empapado, pantanoso)
Oliveira de Azeméis
Oliveira do Conde

Oliveira do Hospital ("Hospital": Ordem dos Cavaleiros do Hospital ou de S. João de Jerusalém, actual Ordem de Malta)

Oliveira do Mondego
Oliveirinha

O Pereiro (Gz.)
O Piñeiro (Gz.)

Pereira (topónimo associado à existência de pedras ou pedreiras no local)

Pereiro
Pereiró (diminut. de "Pereira")

Pinheirinho

Pinheiro (lugar alto e pedregoso, com "penhascos" ou "penhas". há situações muito particulares em que "pinheiro" é árvore: se se refere às suas características ou ao seu número, como em "Pinheiro Manso" ou em "Três Pinheiros")

Pinheiro da Bemposta - é um lugar elevado, de onde se avista(va) paisagem a perder de vista. apesar da tradição popular, o "pinheiro" é o "pino" (sítio elevado) e não o pinus (árvore)

Pinheiro de Ázere
Pinheiro de Côja
Piñeiriño (Gz.) - grafia integrada: "Pinheirinho"
Piñeiro (Gz.) - grafia integrada: "Pinheiro"

Praia das Maçãs (aqui a praia é "do casario", já que não há maçãs sem macieiras)
Punta Sobreira (Gz.)

Sobreira (como em "Castanheira", há aqui uma subtil mudança de género, já que a árvore é o "sobreiro" e não a "sobreira". assim, o topónimo não deriva de suber - "sôbro", "sobreiro" - , mas sim de supra - "sôbre"). é uma povoação que fica "sôbre" qualquer coisa, uma elevação por exemplo. é equivalente ao topónimo "Sobreposta". no entanto, há quem tenha outras opiniões. que decida a topografia do local!

Sobreira Formosa
Sobreposta (o mesmo que "Sobreira")
Vale de Figueira
Venda do Pinheiro
Vila Nogueira de Azeitão
Vila Nova de Oliveirinha


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

Marcos, Malhões e Fronteiras

alguns topónimos imortalizaram limites territoriais, administrativos ou de propriedades, que hoje em dia já não vigoram. mas o nome ficou. o topónimo "Fronteira" refere-se a lugares que confinaram com alguma estabilidade com o império árabe, sendo muito mais frequente na Extremadura e Andaluzia espanholas

Alto do Malhão
Casal do Marco
Casal dos Marcos
Devesa (Pt. e Gz.)
Estremadoiro (Gz.)
Estremadouro
Estremão
Estremo
Extremadoiro (Gz)
Extremo (Pt. e Br.)
Fronteira
Malhanito - diminut. de "Malhão"
Malhão - limite de propriedade rústica
Malhões - plural de "Malhão"
Malhóm (Gz.)- ver "Malhão"
Malhonito - diminuit. de "Malhão"
Marca
Marcão
Marcóm (Gz.)
Marcas
Marco (Pt. e GZ.) - local onde há ou houve um padrão indicativo de limite
Marco de Canavezes (ou Canaveses)
Marco do Distrito
Marcos (Pt. e Gz.)
Marquinha
Marquinho
Mogo (marco de delimitação de propriedade)
Moinho do Malhão
Pedra da Estrema
Pedra do Extremo
Pena Trevinca (Gz.) - ver Comentº de Capeloso
Portela dos Marcos
Praia do Malhão
Quatro Marcos
Salvaterra do Extremo
Três Bispos (Gz.) - ver Comentº de Capeloso
Trevim (do lat. trifini: "três" con-"fins", local onde confluem três limites ou fronteiras... tribais?)

Trevinca (Gz.) - ver Comentº de Capeloso

Vila Verde do Extremo (aqui, "verde" significa "velha")



sobre este assunto pode consultar-se ainda o post "Raias e Fronteiras"


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

O Padrão

este topónimo, e seus diminutivos, é frequente no Norte de Portugal e na Galiza. refere-se à presença, actual ou no passado, de um ou vários "padrões": pedra erguida, habitualmente de forma cilíndrica regular, com inscrições. em alguns casos serão marcos miliários romanos, marcos cilíndricos de pedra com que eram assinaladas as milhas ao longo do traçado de uma estrada.
(é interessante verificar como em certas regiões, sobretudo na actual fronteira galego-portuguesa do Gerês/Xurés, esses marcos representavam a figura do imperador. assim, naquela zona, sempre que um novo imperador era entronizado colocava-se novo marco ao lado dos anteriores, pelo que em alguns lugares há uma autêntica floresta de marcos miliários na mesma milha).

no Brasil, os topónimos em "Padrão" referem-se aos padrões que eram colocados pelos navegadores portugueses, na época das descobertas.

O Padróm (Gz.) - é a antiga Iria Flavia e terra onde a grande poetisa galega Rosalía de Castro viveu os últimos anos da sua vida, na Casa da Matanza.

Padornelo (Pt. e Gz.) - diminut. de "Padrão"
Padrão da Légua
Padrão de Moreira
Padrãozinho - diminut. de "Padrão". mais recente que "Padornelo" e "Padronelo"

Padrões
Padronelo
Padrones (Gz.)
Padrós - será o caso dos marcos miliários romanos (?)



terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

Pedra, Pedrinha, Pedrosa

os topónimos derivados de "pedra" são muito frequentes na Galiza e em Portugal e também aparecem no Brasil. em posts anteriores já encontrámos uma série de topónimos que se reportam à pedra ou às pedras ou ao carácter pedregoso do lugar. simplesmente esses topónimos são anteriores ao latim. estes aqui ou são linguisticamente latinos ou são pós-latinos (românicos ou medievais, ou já galego-portugueses e portugueses). são pois muito mais recentes que os anteriormente referidos - cuja origem e antiguidade se perdem no tempo.
as formas mais antigas, românicas ou romances, sâo habitualmente em "pera" ou "peras", enquanto que a forma mais recente surge em "pedra" ou "pedras".

vejamos os exemplos que seguem:

Armação de Pera
Castanheira de Pera
Eira Pedraça
Eira Pedrinha
Padrela - está por "Pedrela". também é nome de serra
Padrosinho - diminut. de "Padroso"
Padroso (Pt. e Gz.) - está por "Pedroso"
Paralta (ver Peralta)
Pedernais
Pederneira
Pé Dorido - ver Comentº de José Manuel Mota
Pedourido - ver Pedorido
Pedra (Pt.,Gz.e Br.)
Pedraçal
Pedrafita (Pt. e Gz.)- ver "Perafita"
Pedragal
Pedra Letreira
Pedralhos
Pedralva
Pedralvo

Pedra Maria (em Felgueiras, é um vestígio evidente de um ancestral culto das pedras)

Pedrancha ("pedra larga"?)
Pedrão (Pt. e Gz., sob a forma Pedróm)
Pedraria
Pedrarias
Pedrario
Pedras
Pedras Rubras
Pedras Salgadas (pedras de onde emanam águas termais ricas em carbonato de sódio*)
Pedreçal - o mesmo que "Pedraçal"
Pedreda (Pt. e Gz.)
Pedrega
Pedregal (Pt. e Gz.)
Pedrego
Pedregosa
Pedregosinha
Pedregoso
Pedreira
Pedreirinha
Pedrel
Pedricosa
Pedrido - de "pedra", ou variante de Pedorido? ver Comentº de José Manuel Mota
Pedrógão
Pedrogo
Pedrogos
Pedrosa (Pt. e Gz.)
Pedrulha
Pera Boa
Perachão

Pera do Moço (este "Moço" é o mesmo que o "Mouzo" ou "Mouço" galego. parece um pleonasmo)

Peradussa

Perafita ("pedra levantada". o mesmo que "menir" e "anta" ou "arca"?)
Pera Longa ("pedra comprida")
Peralta ("pedra alta". o mesmo que "menir"?)
Pera Velha
Perdiz (Pt. e Gz.) (por "Pedriz")
Perdizes (por "Pedrizes")
Pereira do Campo (pereira = pedreira)
Pereiro

Pereiró - pertence aos topónimos terminados em "ó" [

Peruscalho (Gz.) - um pleonasmo? perus (pedra)+calho (calhau)?
Piedrafita (Gz.) - está por "Pedrafita"?

S. Bento das Peras (monte sobranceiro a Vizela, onde persistem vestígios de um ancestral culto das pedras)

Vilar de Perdizes - ver "Perdizes"


*salgado



domingo, 19 de fevereiro de 2006

O Meu IBSN



para que a publicação electrónica venha um dia a ser equiparada às outras publicações, acabo de aderir tamém ao registo IBSN.
o registo IBSN (Internet Blog Serial Number) surgiu em 2 de janeiro de 2006, em Espanha, como resposta à recusa em atribuir um ISSN (International Standard Serial Number) às publicações na Internet.



adesões conhecidas:


A Tola do Monte
Calidonia
Engalego
Jolorib
NamberGUÁN


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

Açude, Engenho, Levada, Nora, Presa, Represa


quando alguns homens foram colocados em lugares da terra onde a caça, a pesca ou a simples colheita de frutos e raizes não era suficiente para os alimentar, tiveram que reproduzir, no local onde passaram a viver, as condições ecológicas, animais e vegetais propícias à vida humana. de certo modo, abandonar um mundo de caça, pesca e colheita ao estender da mão, sem outro cuidado nem canseira, para um mundo onde tudo tem de ser feito e criado de raiz e pelo esforço e inteligência do homem, constituíu uma alteração quase tão drástica, senão mais, como aquela que hoje estamos preparando com a possibilidade de alguns seres humanos habitarem temporária ou definitivamente um outro planeta. não sei se a preparação do homem para a aventura agrícola não terá sido alvo de iguais delongas e preparativos. há quem diga que foi a "evolução", sem nos explicar o que isso significa. será o mesmo que dizer que o homem foi à lua ou vai a marte por via da evolução. ficamos na mesma.
houve a necessidade de criar um vestuário. naquelas condições, passar da nudez natural para andar vestido é o mesmo que passar de andar vestido para o uso do escafandro espacial. já nem falo da técnica que foi preciso desenvolver para transformar a lã ou o linho em coisa que se vista.
e a criação de condições ecológicas não se ficou por aí. de simples abrigos naturais ou de pouco esforço de imaginação e confecção foi necessário construir uma cápsula de materias diversos a que se convencionou chamar de "casa". casa essa a que não bastaria ser "casa", pois que teve que ser aquecida ou refrigerada, munida de cozinha, de sítio onde comer e onde dormir, onde alojar o núcleo social mínimo, onde criar os filhos, sei lá.
foi preciso mudar as regras de vida, já que viver em meio hostil não é o mesmo que viver no paraíso.
e houve que mudar o próprio eco-sistema. transplantar animais e plantas do seu mundo livre (selvagem) para um espaço controlado pelo homem (domesticado). tornar fértil o que é árido, tornar familiar o que é bravio. dominar terras, rios, ribeiros e fontes.
a água não nasce onde queremos, não chega onde precisamos dela, não tem sempre o mesmo caudal e a mesma quantidade. é preciso represá-la, guardá-la, distribuí-la, fazer com que o elemento úmido chegue aonde, quando e como for preciso.
foi, sem dúvida, uma grande e contínua revolução tecnológica, mental, cultural, e religiosa tamém. os espíritos cederam o seu lugar aos deuses e depois aos santos.
esta saída do mundo natural para um mundo feito pelo homem haveria, no fim de contas, que multiplicar a raça humana para além do que seria imaginável, levá-la aos lugares mais inóspitos do mundo. tornar o homem o senhor da natureza.
e assim nasceram da imaginação do homem os poços, as cisternas, os fontanários, os açudes, presas ou represas, os caneiros, as levadas, sei lá que mais. quem conhece a ilha da Madeira sabe o esforço que foi necessário para levar para a vertente árida do sul a água que sobrava na vertente norte. foi o mesmo que criar de novo a ilha da Madeira.
evidentemente, uma criação dessa natureza haveria que dar identidade e nome aos lugares. e por isso a toponímia os regista mesmo onde eventualmente já lá não estão.

alguns exemplos:

Açude - palavra de origem árabe (aç-çudd : "represa"), aparece onde chegou a influência deste império. em Portugal, vê-se no centro e no sul. no Norte e na Galiza aparece "Represa" com igual significado.
Azenha - palavra de origem árabe (aç-çania): moinho de roda movido a água
Águas Levadas
Azenha do Pisão
Azenha do Rio
Azenhas do Mar
Caneiro - tem um significado próximo de "levada"
Engenho (no Brasil refere-se habitualmente ao aparelho do açúcar)
Fontão
Fonte
Fontela (Pt. e Gz.) - diminut. de "Fonte". do lat. "fontanela"
Fontenla (Gz.) - o mesmo que Fontela. representa um estadio anterior da passagem do lat. "fontanela" a "fontela"
Lagar
Lagar de Pessegueiro
Lagar de Vara
Lagares da Beira
Levada (Pt., Pt.-Md., Gz.)
Levadinha
Moinho
Moinho d'Água
Moinho de Vento
Moinhos
Muiños (Gz.) (grafia muito discutível)
Nora (os árabes trouxeram do Egito este complexo engenho. o nome, como não podia deixar de ser, é de origem egípcia veiculado pelo árabe. no Norte de Portugal e na Galiza prefere-se o termo Engenho)
Noras
Pisão (ver Post "Pisão, Pisóm, Pisões")
Ponte do Açude
Presa (Pt. e Gz.) - reservatório ou poça onde se retém e guarda a água para rega. o termo árabe correspondente é "albufeira"
Rega
Regadas Novas
Represa - o termo de origem latina para "açude". corresponde ao holandês Dam, como em Amsterdam e Rotterdam.
Sítio da Nora do Velho

nota: sobre "águas de rega" podem consultar esse sítio. sobre as "levadas" da Madeira vejam esse aí







Para Que Serve Um Blogue

confesso que andava um pouco zangado. o blogger não funciona suficientemente bem, nem pouco mais ou menos. de início atribuí-me as culpas, porque, em boa verdade, não nasci na idade da informática. porém, depois de consultar outros blogues constato que esse é um problema e um queixume bastante distribuído pelos blogonautas - o que a bem dizer me retira da classe dos ineptos, pelo menos dos ineptos mais minoritários.
e hoje apetece-me fazer as pazes com o blogue. ele é uma espécie de diário falante. responde aqui e além, dá sugestões, apoia, às vezes até elogia. mas o mais importante é que transporta para lá de todas as fronteiras, irmana com gente semelhante no falar e no pensar, torna o ser humano ubíquo e etéreo, livre deste aqui e deste agora.
e guarda cogitações de longa data, a experiência de gentes e lugares, todas essas coisas guardadas algures no íntimo, sem préstimo por não estarem à disposição de quem as podia querer.

post scriptum: jolorib, soube que sofreu um apagão. recupere rápido. faz falta na blogosfera.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Rei, Princesa e Capital

receio que este post não tenha muito que ver co'a Toponímia, mas não resisto. afinal de contas, quem sabe se um dia vem a ter. vai fazer 96 anos que Portugal se tornou uma República. visto isso, não lhe devia ser do agrado o sangue azul e respetivos títulos de rei, de príncipe ou princesa. puro engano! afinal, o problema é que todos os portugueses e suas madames gostariam de ser reis, rainhas, príncipes e princesas tamém. e está certo. só um rei é pouco. assim como só uma capital (...e inda por cima Lisboa!). temos de convir que é pouco demais. nós temos vistas largas e gostamos de conhecer as coisas por um nome mais solene. somos um pobo profundamente aristocrata e pergaminhento, que não se conforma co'a apagada e vil tristeza, como dizia um poeta - por sinal demasiado citado pr' o meu gosto.
os brasileiros, claro, em questão de reis e de princesas não nos ficam atrás.

vejam só (prometo aumentar a lista):

A Capital da Chanfana - Miranda do Corvo
A Capital da Lampreia - Penacova
A Capital da Maçã de Montanha - Armamar
A Capital do Frango do Campo - Oliveira de Frades
A Capital do Fumeiro - Vinhais
A Capital do Minho - Braga (alterna com A Cidade dos Arcebispos e A Roma Portuguesa)
A Capital do Móvel - Paços de Ferreira
A Capital do Norte - Porto (alterna com A Invicta)
A Capital do Parapente - Linhares da Beira
A Capital do Queijo da Serra - Celorico da Beira
A Capital dos Dinossauros - Lourinhã
A Capital Universal da Chanfana - Vila Nova de Poiares (veja a receita da Confraria)

A Cidade Berço - Guimarães
A Cidade dos Arcebispos - Braga
A Cidade Invicta - Porto

A Princesa do Alva - Côja
A Princesa do Cávado - Barcelos
A Princesa do Lima - Viana do Castelo
A Princesa do Lis - Leiria

A Rainha dos Cachorros - aqui "cachorro" é hot-dog
A Rainha da Fronteira - Elvas

O Rei da Fruta
O Rei da Pescada
O Rei das Bifanas
O Rei das Farturas
O Rei das Francesinhas
O Rei das Ostras (Br.)
O Rei das Peles
O Rei das Pipocas
O Rei das Sandes
O Rei da Sucata
O Rei do Cabrito
O Rei do Maracujá (Br.)
O Rei dos Azulejos
O Rei dos Blogues (o trono está vago. por enquanto)
O Rei dos Cachorros (hot dogs)
O Rei dos Catálogos (Br.)
O Rei dos Cortinados
O Rei dos Esquentadores
O Rei dos Frangos
O Rei dos Gatos (Br.)
O Rei dos Hamburgers
O Rei dos Leitões
O Rei dos Tapetes (Br.)


bom, mas para que este post tenha algo que ver com Toponímia, aqui vos deixo alguns topónimos em Rainha, Rei e Reis:


Angra dos Reis (Br.) - aqui os "reis" são outros. significa que os portugueses chegaram à região em 6 de janeiro

Caíde de Rei
Caldas da Rainha
Caldas de Reis (Gz.)
Moreira de Rei
Palas de Rei (Gz.)
Pinhal do Rei
Praia d'El-Rei
Serra d'El-Rei
Vila de Rei
Vila Nova da Rainha
Vila Nova de Souto d'El-Rei
Vilar de Rei
Vila Real
Vila Real de Santo António

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Pisão, Pisóm (Gz.), Pisões

estes topónimos fazem referência a aparelhos, por vezes muito complexos, destinados a pisar azeitonas para fazer azeite. constam de uma construção só aparentemente tosca, em forma de casa, uma grande roda movida pela energia de uma queda de água e um sistema de engrenagens que transmite a força hidráulica à prensa do lagar. estas construções encontram-se na margem de um rio ou ribeiro, num troço propício ao aproveitamento da energia das águas (ver Comentº).

veja-se os seguintes:

Arruda dos Pisões
Outeiro dos Pisões
Pisanito (diminut. de Pisão)
Pisão
Pisãozinhos (diminut. plur. de Pisão)
Pisões
Pisóm (Gz.) - o mesmo que Pisão


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

Gonça, Gonçalo, Gondar, Gondomar,...

os topónimos em "Gonc-", "Gonç-", "Gond-" e "Gont-" são muito abundantes no noroeste peninsular, sobretudo no Entre-Douro-e-Minho e na Galiza. são de origem germânica, implicam uma atitude guerreira e, pelo seu significado, referem-se a alguém que mereceu distinção em "combate" (gunthi), pelo que terá sido premiado com a posse das terras homónimas. isso quererá dizer que a cada "Gondar" seu combatente, e não tanto o mesmo combatente para senhor de todos os "Gondar" - penso que seria demasiado prémio para um homem só, inda por cima "bárbaro". na Galiza há uma boa meia-dúzia de "Gondar", praticamente tantos como em Portugal a norte do Rio Douro. num deles, o de Guimarães, me tornei gente suficientemente crescida para os combates da vida.
bom, há os "combatentes" e há os "chefes dos combatentes" ou de tribo (gunde-rik): "Gondariz", "Gondoriz" - que, já se vê, são menos abundantes, embora os haja tanto na Galiza como no Norte de Portugal.
no Brasil há topónimos destes, transpostos tanto de Portugal como da Galiza

podemos arrolar os topónimos seguintes:

Gonça
Gonçala
Gonçalinha
Gonçalinho (Pt. e Br.)
Gonçalo (Pt. e Br.)
Gonçalo Bocas ("Bocas" porquê? deveria grafar-se "Gonçalbocas"?)
Gonçalo Velho
Gonçalveiros (povoação de gente oriunda de "Gonçalo"?)
Gonçalves (Pt. e Br.)
Gonçalvinho
Gonce
Gonceiro
Goncinha
Gondã
Gondães (é um genitivo. significa [villa ou quinta] de um tal "Gonta")
Gondaes (Gz.)- o mesmo que Gondães
Gondais - o mesmo que Gondães e Gondaes
Gondão
Gondar (Pt. e Gz.)
Gondarán (Gz.)
Gondarão (Br.) - transposição do "Gondarán" galego
Gondarém (Pt. e Gz.)
Gondarén (Gz.) - o mesmo que Gondarém
Gondar

Gonde - é um genitivo. significa [villa ou quinta ] de um tal "Gonto". há um ribeiro de Gonde, que significará, se não tem outra origem, "o [ribeiro da quinta] de "Gonto"

Gondeiro
Gondeixe

Gondelães - é um genitivo. significa [villa ou quinta] de um tal Gontella

Gondisalves - variante dialectal de "Gonçalves"
Gondivau - "Gundwald": pleonasmo:combate+combate

Gondomar (Pt. e Gz.) - é um genitivo de gund-maro, que deverá ser um título de guerra:
"Cavalo-Combate"


Gondoriz (Pt. e Gz.)
Gonte (Pt. e Gz.)
Gunde - o mesmo que "Gonte"


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Mais um Apagão e Desisto

Isto de blogues tem que se lhe diga. está um home sossegado a escrever o que lhe vem à ideia e...zás! desaparece tudo! é preciso pacência... Ultimatum ao blogger: ou põe isto a funcionar como deve ser, ou... passo a escrever à moda antiga, de papel e lápis!

ponto final.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006

Cónego Arlindo Ribeiro da Cunha (1906-1976)


Fará trinta anos a 10 de abril que resolveu partir. digo "resolveu" porque podia ter resolvido seguir os conselhos da medicina. mas nisso ele era como os romanos: não tinha os filhos de Imhotep em grande conta, talvez fossem para ele um pouco menos que charlatães... passaria horas, se tivesse tempo, a contar histórias risíveis dos pobres práticos que, coitados, prescreveriam remédios piores do que as maleitas. mas não foi com isso que me demoveu de seguir a vocação. preferiria que eu fosse alguém nas letras, que tivesse jeito prá escrita e viesse a ser, sei lá, um prémio nobel. mas eu nunca tive muita queda para escrita demorada, nem fiz amigos prestáveis para aquele fim.
semeou, se calhar, uma semente melhor. ele era um manancial inesgotável de sabedoria. dominava a origem das palavras, o nome das terras e a forma de os decifrar, os nomes de família, os brasões, conhecia os caminhos velhos, as calçadas romanas, os marcos miliários, os montes onde podia esgravatar ruína antiga, os ditos e lendas populares e a maneira de os trocar em miúdos. tinha uma enorme biblioteca: era um espaço sagrado, um útero, nela bebi a cultura galega e brasileira, numa época em que a grande maioria dos patrícios desconhecia uma e outra. "airinhos, airinhos aires, airinhos da minha terra"... "minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá. as aves que cá gorjeiam não gorjeiam, como lá"...
fez-me andar em escavações arqueológicas, onde me entranhei de pó, de terra e de fascínio. gostava de mim porque eu era o filho mais velho da irmã dele - um antigo parentesco de excelência.
escreveu A Língua e a Literatura Portuguesa, manual de estudo para os alunos dos seminários e um livro muito seguido do Outro Lado do Atlântico. é também dele uma Gramática Latina que chegou à 7º edição.
além dos livros que escreveu e dos artigos que fazia publicar no Diário do Minho, participou como colaborador assíduo na Grande Enciclopédia Luso-Brasileira e na Enciclopédia Verbo.
nascido em S. Torcato , Guimarães, a 24 de fevereiro de 1906, foi professor do Seminário de Santiago (Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo) e cónego do cabido da sé de Braga. tem hoje o seu nome na toponímia urbana da Bracara Augusta. está referenciado na net, na bibliografia sobre a cidade.

(ver também este artigo e este aqui)


*In Memoriam*

Penamacor, Pena Maior, Penamaior (Gz.), Penamocor






são variantes dialectais do mesmo vocábulo composto: Penha Maior, isto é, "Penha Grande", "Penedo Grande".

Óbidos



é outro topónimo que está praticamente intacto, como veio ao mundo. provém do lat. oppidus, que significa "cidade fortificada", "fortaleza". no estado do Pará, no Brasil, há uma Óbidos, que resulta da transposição do topónimo português. a razão do nome salta à vista.
os romanos chamaram "fortaleza" a uma cidade que já lá estava quando eles chegaram

terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

Penedono

este topónimo parece acabadinho de inventar. ainda soa praticamente do jeito que falava quem o inventou: pene-dunu, Pena de Dono, a "penha do castelo". aquele "dono" latinizado na Idade Média deu Pennadedomno, uma inverosímil "penha do senhor".
não obstantemente a evidência fotográfica, ainda há quem acredite mais nas cousas se forem escritas em latim, de preferência o latim macarrónico medieval. é como as afirmações dos textos científicos de hoje: os truismos ditos em inglês, de preferência o dos esteites, passam por elaborações filosóficas de grande profundeza. por mim, sempre me fio mais na linguagem direta dos lugares.

nota: o castelo a que se refere o nome esteve anteriormente no lugar deste, como se compreenderá.

Itacoatiara (Br.) ou a Pedra Letreira (Pt. e Gz.)

pela sua importância, passo a post a questão que me foi colocada pelo amigo Jolorib a respeito de "Itacoatiara", também grafada "Itaquatiara". em língua tupi-guarani significa "pedra letreira", "pedra gravada" ou "pedra pintada" - coisa bem conhecida a norte como a sul do rio Minho. estas pedras, ornamentadas com petroglifos (compreendo a necessidade do termo...), situam-se em lugares outrora sagrados, onde decorriam cerimónias astro-religiosas de iniciação e rituais de passagem. o neófito ou catecúmeno, até aí criança, era instruído nas verdades da tribo e nos segredos do cosmos, do mundo e da vida, passando à categoria de ser humano e adulto depois de integrar esse conhecimento no coração e na cabeça. os rituais impediam que a verdade entrasse por um ouvido e saísse por outro, enraizando-a profundamente no centro das emoções e da afectividade.
os rituais e provas de passagem eram suficientemente difíceis e dolorosas (adolescência) para o assegurar. o neófito morria para a vida anterior, a infância (que quer dizer "a idade em que não se fala" - ou não se tem voz activa), e renascia para uma nova vida, a vida adulta - onde já se fala, porque já se é mestre ou dono de si mesmo.
que esse tesouro de sabedoria não devia ser fácil de adquirir dizem-no as lendas sobre "tesouros escondidos" e "perigos" associados.


na Galiza existe ainda "pedra dos letreiros" e "os letreiros".
aqui bem perto, em Góis, há uma Pedra Letreira à qual se associa esta quadra:



"junto da pedra letreira
há três arcas em carreira.
uma é d'oiro, outra de prata,
outra de peste que mata"






segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

Alba, Alva

é um dos topónimos mais antigos da Europa, e daí a sua presença dispersa um pouco por todo o lado. aparece sob a forma Abla, Alava, Alba, Alba de Tormes, Alba Facência, Alba Longa, Albânia, Alba Pompeia, Albe, Albé, Albion, Alpes, Alva, Alvão, Aube, Île d'Albe, Monte Albano, Mont'Alvão. muitas cidades da Itália etrusca tinham este nome, pelo que o topónimo é forçosamente pré-romano. não faz qualquer sentido fazê-lo provir do latim alba, "branca". significa "colina", "ponto alto", e, secundariamente, "castelo", "forte".

alguns topónimos em Alva.

Alban (Gz.)
Alpes
Alvinha
Barca d'Alva
Barroca d'Alva
Marialva - monte rochoso ou castelo na rocha
Montalvão - pleonasmo: monte-monte
Monte d'Alva
Penalva - castelo da pena
Penalva do Castelo - significa "castelo da pena do castelo"
Pisões de Ribeira d'Alva
Quinta do Alvão
São Pedro d'Alva




sábado, 4 de fevereiro de 2006

Soutos, Soutinhos e Soutelos

até agora tenho dedicado atenção à morfologia, orografia, hidrografia e infraestruturas dos lugares, com um desviozinho pelos hagiónimos ou nomes de santos. é altura de falar de lugares que devam o seu nome à flora que neles medra. vou começar pelos castanheiros, árvores cujo fruto mereceu em tempos a predilecção das gentes do Norte, pelo seu sabor e pela sua ligação às festas dionisíacas do "São Martinho" - em que pontuava o quase saudoso magusto. a castanha foi substituída pela batata, coisa da América, que se fez acompanhar do seu fiel amigo escaravelho. e o castanheiro foi escasseando e recolhendo a espaços cada vez mais reduzidos.
a mata de castanheiros tinha o nome de "soito" ou "souto". daí a persistência de topónimos como esses:

Quinta dos Soutos
Regada do Soito

Santo Varão (???) - este topónimo não está decifrado. a forma anterior de "souto" era "sauto". o lugar pode ter sido um souto de culto ou uma mata sagrada, na margem esquerda do Baixo Mondego

Soito
Solteirão (povoado com gente de Solto?)
Solteiros (gente orinda de Solto?)
Solto (de salto-sauto: souto. topónimo fora de uso)
Soutelinho (Pt. e Gz.) - é duplo diminut. de Souto
Soutelinhos
Soutelino
Soutelio
Soutelo (Pt. e Gz.) - diminut. de Souto
Soutelo de Montes (Gz.)
Soutinho - diminut. de Souto. é mais recente que Soutelo
Soutinhos
Souto (Pt. e Gz.)
Soutocico (Mir.) - diminut. mirandês (asture-leonês) de Souto
Souto da Casa
Souto da Ponte
Souto de Vea (Gz.)
Soutolongo (Gz.)
Soutomaior ou Sotomaior (Gz.) - é aumentat. de Souto. significa "Souto Grande"
Souto Redondo
Soutulho (Pt. e Gz.)
Soutulhos ou Soutullos (Gz.)
Soutulio


Nota: o Souto pode designar tamém um bosque na margem de um rio



ver novo post sobre o assunto aqui

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

Tantas Vezes o Cântaro Vai à Fonte...

...que alguma vez deixa lá ficar a asa. mas não é desses cântaros que vou agora falar. vou falar de rochedos especiais, tipo monovolume, visíveis por exemplo na Serra da Estrela. derivam do tema "cant-", "pedra", e não se ficam por Portugal e Galiza. também aparecem na Cantábria, batizando a região, e nas Astúrias. Cantuária (Canterbury), na Inglaterra, é um topónimo da mesma família. em post anterior ("Serras, Montes e Montanhas") já arrolei alguns destes topónimos na variante "cand-".

alguns exemplos:

Canda (Pt. e Gz.)
Candal (Pt. e Gz.)
Cando (Pt. e Gz.)
Candieira
Candosa
Candoso
Cantanhede
Cântara
Cantareira (Pt. e Br.)
Cantareiras
Cantarinha
Cantarinho (Pt. e Br.)
Cantarinhos
Cântaro Grande
Cântaro Magro
Cântaros
Canteira (Gz.)
Canteiras
Canteiro (Pt. e Gz.)
Santo António do Cântaro
Vale de Cântaro